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As abelhas e a preservação do meio ambiente

Melipona quadrifasciata em inflorescência.

A preocupação com a preservação do ambiente para a manutenção do bem estar das populações humanas é fato recorrente e que vem ganhando força nas últimas décadas. Em 1972, Rachel Carson, em seu livro “Primavera Silenciosa”, já reconhecia o papel central dos polinizadores na conservação dos ecossistemas e da biodiversidade em geral, bem como descrevia um quadro bastante pessimista, correlacionando o desaparecimento dos polinizadores com o grave problema de segurança alimentar da humanidade. Dentre todos os serviços prestados pelos ecossistemas para a humanidade, as abelhas são as principais responsáveis pelo serviço da polinização, uma vez que são responsáveis pela polinização de 75% das plantas com flores e por 35% da produção mundial de alimentos, desempenhando, desta forma um papel ecológico e econômico fundamental. O valor econômico anual global da polinização agrícola realizada por insetos foi estimado em € 153 bilhões durante 2005 (ou seja, 9,5% do valor econômico total da agricultura mundial considerando apenas cultivos usados diretamente para alimentação humana).

Melipona quadrifasciata em inflorescência.

O serviço de polinização realizado pelas abelhas teve sua importância reconhecida, tanto no âmbito agrícola como para a manutenção da biodiversidade, pela Convenção da Diversidade Biológica e pelos países signatários da mesma, que, no ano 2000, aprovaram a Iniciativa Internacional dos Polinizadores. Esse foi um esforço global que visava entender a diminuição das populações de polinizadores, suas causas e consequências, além de procurar soluções para este grave problema. Um dos pontos principais tratava sobre a falta de informações taxonômicas a respeito dos polinizadores e visava, entre outros, o desenvolvimento de ferramentas que diminuíssem ou amenizassem o impedimento taxonômico. Com base nesses preceitos, esforços globais vêm sendo realizados para reunir informações sobre estas espécies, considerações sobre suas distribuições geográficas e checklists.

E é também com base nessas informações que vimos trabalhando já há algum tempo com o uso de ferramentas auxiliares para a identificação de espécies de abelhas, bem como de sua diversidade intra e interespecífica. A primeira delas consiste no uso de técnicas de morfometria geométrica de asas anteriores de abelhas para identificação de padrões que possam ser utilizados para sua identificação. Tais padrões podem ser entendidos como uma espécie de “impressão digital” das espécies e nos têm permitido grandes avanços na identificação desses organismos.

Asa anterior de Nannotrigona testaceicornis, com marcos anatômicos plotados na junção das nervuras das veias.

Gráfico da função discriminante com a separação das espécies de abelhas sem ferrão, a partir de dados obtidos das asas anteriores.

Os próximos passos estão ligados com o desenvolvimento de um sistema automatizado que reconheça tais padrões e retire as informações para a identificação das espécies, de modo que tal processo seja completamente independente da ação humana. Aguardemos…

Prof, Dr. Tiago Mauricio Francoy*

Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

*E-mail: tfrancoy@usp.br