Mesa Redonda: Por que não estamos agindo para salvar o mundo?

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Dra. Andréia Schmidt (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP-RP)
Mediadora

Dr. Alexandre Dittrich (Universidade Federal do Paraná)
Uma reavaliação da questão de B. F. Skinner, 36 anos depois
Em 1982, B. F. Skinner fez aos membros da American Psychological Association a pergunta: “Por que não estamos agindo para salvar o mundo?”. Pela natureza da Associação, ele não estava se dirigindo apenas aos analistas do comportamento. O texto deixa claro, na verdade, que Skinner também não se dirigia apenas aos psicólogos, mas à toda a humanidade – e em especial às pessoas que, estando em posições de poder, tinham condições de fazer escolhas decisivas para garantir um futuro para a espécie humana. Parte das preocupações de Skinner, em especial no tocante a uma guerra nuclear, refletia temores comuns na época da Guerra Fria. As preocupações de Skinner com o problema ambiental, por outro lado, são hoje mais atuais do que nunca. Já naquele ano, Skinner apontava a depleção de recursos naturais e a degradação ambiental como ameaças à sobrevivência humana. Embora nisso ele não estivesse sozinho, a originalidade de seu diagnóstico está em sua rejeição às explicações individualistas e mentalistas: tanto os problemas quanto as soluções para eles devem ser buscados nas contingências naturais e sociais que governam o comportamento humano. A presente palestra consistirá em uma reavaliação sobre o diagnóstico de Skinner, apontando em que aspectos ainda tem vigência e relevância e em que aspectos pode ser atualizado. Espera-se que essa reavaliação possa sugerir alternativas de ação potencialmente relevantes para analistas do comportamento.

Dr. Kester Carrara (UNESP Bauru)
Altruísmo contingenciado, Análise do Comportamento e Políticas Públicas
A noção de contingência, no âmbito do comportamentalismo, sugere a possibilidade de mudanças dos padrões de ação dos organismos vivos em toda a escala evolutiva. Contingência é um descritor de relações entre comportamento e seus contextos antecedente e consequente. Conhecidas as contingências sob as quais comportamentos discretos ou práticas culturais vigentes ocorrem, torna-se possível remanejá-las de maneira que elas estejam de acordo com demandas sociais éticas e sustentáveis. Diferentemente do que geralmente se crê, uma das práticas passíveis de reprogramação de contingências é o altruísmo, que não implica uma natureza física, química, biológica ou social inerente a determinados indivíduos, mas é controlado por um conjunto de variáveis que pode alcançar qualquer pessoa nas suas relações com o ambiente. O altruísmo consequenciado pode constituir-se de uma prática cultural que favorece a sócio-sustentabilidade e a sustentabilidade ambiental, assegurando a preservação ou conservação de condições de sobrevivência das espécies em futuro próximo ou longínquo. É objetivo desta comunicação analisar possibilidades de curto e longo prazo para contribuições teóricas e empíricas da Análise do Comportamento na direção de políticas públicas que viabilizem uma sociedade mais equânime, justa e igualitária. Em função de que um detalhamento didático para as operações metodológicas implicadas em tal delineamento exigem trabalho extenso, propõe-se breve apresentação e mais ampla discussão temática com o público eventualmente interessado.

Dra. Carolina Laurenti (Universidade Estadual de Maringá)
Deveríamos salvar este mundo?
Existem algumas evidências de que o ser humano não está agindo para salvar o mundo: poluição do meio-ambiente, esgotamento dos recursos naturais, aquecimento global, guerras, violência, preconceito, intolerância, desigualdade social, corrupção, pobreza. Por que isso acontece? Por que não estamos salvando o mundo que habitamos e, por conseguinte, o mundo das futuras gerações? Skinner discute essa problemática argumentando que o ser humano não é sensível às consequências remotas do seu comportamento. Embora a sensibilidade às consequências imediatas do comportamento tenha tido importância evolutiva, algumas práticas culturais (e.g., capitalismo, neoliberalismo, consumismo, neofilia) acabaram acentuando o caráter imediato das consequências em detrimento de seus efeitos tardios. Em última instância, essas práticas têm ameaçado a sobrevivência do indivíduo, das espécies, das culturas e do próprio globo terrestre. Subjaz, então, a toda essa discussão uma preocupação com o mundo futuro. No entanto, considerando os problemas que temos enfrentado atualmente, talvez seja interessante recuar para o presente e indagar: por que este mundo, de agora, não está sendo salvo? E de que mundo estamos falando? O objetivo desta apresentação é discutir essas indagações, explorando alguns exemplos contemporâneos. Para tanto, será desenvolvida a tese de que não estamos salvando o mundo porque este mundo, do
presente, não é importante ou não tem sentido para muitos de nós. Do ponto de vista analítico-comportamental, um mundo sem sentido é um mundo que é fonte de eventos aversivos, do qual fugimos, esquivamos ou simplesmente atacamos. Um mundo sem sentido também é aquele que produz prazeres efêmeros não contingentes a comportamentos que sejam úteis à sobrevivência do indivíduo, das espécies ou das culturas. Nesse último caso, o problema é ainda mais sério, pois as pessoas estariam perdendo sua inclinação para agir. Em suma, agir para salvar o mundo exige que mudemos este mundo primeiro, de modo que ele tenha sentido ou seja importante para nós. Para isso, precisamos encontrar formas de tornar o mundo menos aversivo e mais prazeroso, não apenas para nós próprios, mas para o maior número de pessoas possível.