RESUMO DAS ATIVIDADES

Palestra "Influência da Publicidade no comportamento de consumo - Perspectiva histórica e atual"

Silvana Santos (UFSCar)

Desde os primórdios do século XX, as teorias psicológicas vêm influenciando as estratégias de marketing com o objetivo de gerar demanda e consumo de produtos e serviços. Apesar de vários debates sobre este tema, ainda têm sido um campo pouco explorado de forma sistemática pelos analistas do comportamento. Este trabalho tem como objetivo apontar alguns direcionamentos com relação a esta questão tendo como aporte teórico o comportamento simbólico, mas especificamente a equivalência de estímulos.

Pesquisas têm demonstrado que símbolos abstratos quando passam a pertencer à mesma classe de estímulos com algum significado, tendem a adquirir a mesma função. Pretende-se apresentar alguns estudos nesta direção como, por exemplo, resultados de pesquisas que demonstram empiricamente que símbolos neutros "relacionados" a personagens infantis, interferem nas avaliações de crianças com relação a alimentos, quando dispostos em suas embalagens. Tais estudos configuram o quanto as pessoas podem ser persuadidas quando se utilizam figuras atrativas na publicidade, mesmo que de forma indireta. Também apontam que é possível, utilizando esta abordagem, desenvolver uma “marca” no laboratório e observar seus efeitos sobre o comportamento do consumidor, a partir do controle das variáveis envolvidas.

O objetivo no final é discutir sobre o papel do psicólogo no contexto atual, onde o excesso de consumo têm gerado vários problemas de ordem psicológica, social, ambiental entre outros. A equivalência de estímulos tem se mostrado uma abordagem promissora para este tipo de investigação pois, apesar de estes trabalhos estarem em fase de desenvolvimento, os resultados alcançados trazem contribuições para a compreensão de comportamentos sociais mais complexos.

 

Palestra "Pioneiras: A história das primeiras mulheres da Análise do Comportamento no Brasil"

Ana Arantes & Gabriela Jheniffer Teixeira Silva (UFSCar)

A chegada da Análise do Comportamento (AC) no Brasil coincide com o desenvolvimento institucionalizado do curso de Psicologia no nosso país, o que provavelmente é uma das razões para que a AC tenha se tornado uma ciência majoritária na área. Nos últimos anos houve um aumento substancial de pesquisas voltadas para a análise histórico-conceitual da AC, dado indica sua consolidação na comunidade científica, uma vez que se desenvolveu o suficiente para buscar, em sua história, aspectos relevantes que favorecem a identificação de fatores que estão constantemente afetando toda a constituição da AC e do behaviorismo.

No decorrer da história da Análise do Comportamento no Brasil, diversas mulheres tiveram papéis importantes – muitas vezes cruciais –, mas pouco se tem registrado sobre suas contribuições. Apesar do curso de Psicologia ser reconhecido como um curso feminino, por conta de fatores como, por exemplo, a porcentagem esmagadora de graduandas e pós-graduandas, percebemos facilmente que a produção acadêmica e científica no país não segue a mesma tendência. Entretanto, é importante ressaltar que essa invisibilização do trabalho feminino na ciência e em outras atividades é histórico e não exclusivo do campo da Psicologia ou da AC – é uma opressão estrutural da organização social em que nos encontramos. Resgatar e trazer a tona o trabalho e impacto destas mulheres é uma forma não só de resgatar ângulos não explorados da história da AC brasileira, como também ir contra o movimento de apagamento desta parte importante da história – mulheres fazem e contribuem significativamente para a ciência. Este estudo tem por objetivo levantar os nomes e histórias das três primeiras gerações de mulheres analistas do comportamento, focando nas mulheres que tiveram papel crucial no crescimento da AC no nosso país.

Palestra "Interação entre Análise do Comportamento e as Neurociências"

Maria Helena Leite Hunziker (Departamento de Psicologia Experimental - IP - USP)

Historicamente, Psicologia e Biologia andaram paralelas, com alguns intercruzamentos que se revelaram altamente benéficos a uma e outra.  A Análise Experimental do Comportamento (AEC), ciência fundamentada no  Behaviorismo Radical de B. F. Skinner, é a vertente da Psicologia que mais se aproxima das  ciências biológicas. Contudo, seu objeto e métodos de investigação são distintos, o que lhe garante o status de ciência independente, em constante diálogo com as demais.

A presente  palestra visa discutir  algumas pesquisas realizadas  em diferentes áreas das neurociências (neurofisiologia, farmacologia e análise biocomportamental) destacando que a sua parceria com a AEC está contribuindo  para o avanço do estudo do comportamento, preenchendo lacunas anteriormente inacessíveis ao psicólogo experimental.

Mesa Redonda: Terapias Comportamentais

  • Dan Josua (Paradigma) - Terapia Comportamental Dialética
    A apresentação vai apresentar a Terapia Comportamental Dialética (DBT), deixando claro qual as modalidades de atendimento nessa terapia (i.e., Terapia Individual, Grupo de Treino de Habilidades, Consultoria por Telefone e Consultoria de Equipe) e mostrar brevemente como ela pode ajudar pacientes em sofrimento.
  • João Henrique de Almeida (UFSCar) - Terapias de Aceitação e Compromisso no contexto de Terceira Onda: Semelhanças e especificidades
    As terapias de Terceira Onda configuram um grupo de abordagens psicoterápicas recentes que representam uma extensão de tratamentos comportamentais e cognitivos. Diversas terapias atualmente são consideradas de terceira onda como a Terapia Comportamental Dialética (DBT), a Terapia Metacognitiva, a Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness (MBCT), Terapia Analítica Funcional (FAP), a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), entre outras. Nesta fala breve serão apresentadas tanto características essenciais da ACT e também suas diferenças com as algumas das principais terapias de terceira onda. Será apresentado o raciocínio fundamental que as intervenções baseadas na ACT, descrevendo seus principais objetivos e métodos e justificando-os com base na Ciência Comportamental Contextual (CBS).
  • Roberto Alves Banaco (Paradigma) - Terapias de Terceira Geração
    A análise do comportamento aplicada é a origem de procedimentos que aplicados à pratica clínica receberam nos Estados Unidos o título de "clinical behavior analysis" e no Brasil "terapia analítico-comportamental". Esta nova nomenclatura se fez necessária quando os analistas do comportamento procuraram incorporar aos procedimentos de controle de contingências, os conhecimentos gerados pelo estudo do comportamento verbal, assumindo sua utilização na prática de gabinete e/ou em ambiente natural. Até então, certas particularidades da prática clínica feita por analistas do comportamento não recebiam uma denominação específica. A partir dos anos 90, no entanto, técnicas foram organizadas em torno de várias nomenclaturas, tais como FAP, ACT ou TCR, mas nunca deixaram de ter embutidos em seus procedimentos os princípios básicos da análise do comportamento aplicada. Este trabalho procura discutir se há a necessidade de uma especificação que aparentemente mais restringe do que enriquece a prática clínica do analista do comportamento.

Minicurso 1: "Terapia Comportamental de Casais: Alguns fundamentos teóricos e (algumas) especificidades da prática clínica"

Vera Regina Lignelli Otero (Clínica ORTEC - Ribeirão Preto)

O curso tem como objetivo apresentar as contribuições teóricas e práticas da análise do comportamento para o atendimento de casais. Serão destacados alguns dos tópicos relevantes que devem ser considerados nesse tipo de atendimento: a escolha de parceiros, o namoro, o casamento e as principais maneiras de agir que levam ao desenvolvimento dos problemas de casal. Serão enfocados também os seguintes pontos: como avaliar as queixas dos parceiros, como formular um plano de atendimento que contemple as necessidades inerentes a alguns tipos específicos de casos. Serão apresentados aspectos gerais da literatura e da prática clínica que têm sido adotadas por esses profissionais no atendimento de alguns casos, enfatizando-se os procedimentos que podem ser desenvolvidos. Serão abordados vários aspectos referentes às dificuldades de comunicação presentes nos relacionamentos dos parceiros que procuram ajuda psicoterápica.

Serão discutidos os diferentes pontos que tornam essencial que cada casal seja analisado como único, com sua história própria e específica, requerendo que as estratégias para seu atendimento sejam elaboradas a partir de micro e macro análises funcionais que guiam as intervenções a serem com eles realizadas.

Serão apresentados alguns pontos enfatizando-se a importância das análises funcionais para ajudar casais a: 1)identificarem e lidarem com seus problemas de relacionamento; 2) aprenderem a analisar seus próprios comportamentos, os do parceiro e os padrões de relacionamentos estabelecidos entre eles; 3) identificarem comportamentos controlados por regras e por contingências; 4) aprenderem a lidar com classes de respostas ao invés de lidarem com topografias; 5) discriminarem comportamentos encobertos e estabelecerem sua função no relacionamento; 6) identificarem os valores de vida presentes em suas interações.

Serão discutidas neste curso algumas das especificidades do atendimento de alguns parceiros tais como: casais de diferentes etnias, casais que vivem em situação de violência doméstica, infidelidade, separação e recasamentos, dentre outras duplas de parceiros que requerem atenção e considerações específicas.

Minicurso 2: "Filosofia e Epistemologia da Psicologia: Uma análise comportamental da (in)felicidade"

Carlos Eduardo Lopes (UEM/UEL)

Em um texto publicado em 1986, Skinner discutiu por que as pessoas no ocidente não estavam desfrutando suas vidas: elas não faziam o que gostavam e não gostavam do que faziam; estavam entediadas e ansiosas; sentiam-se culpadas quando não estavam
fazendo alguma coisa, e, ao mesmo tempo, só conseguiam relaxar com a ajuda de medicamentos. Em poucas palavras: as pessoas estavam infelizes. Mas por quê? A pergunta fica ainda mais intrigante quando se constata que nas sociedades ocidentais há abundância de eventos prazerosos. Como podem infelicidade e prazer coexistirem? Passado pouco mais de trinta anos da publicação daquele texto, as questões ali discutidas têm ecos contemporâneos, afinal de modo geral continuamos infelizes. O objetivo deste minicurso é não apenas apresentar, mas atualizar as análises skinnerianas de algumas práticas culturais responsáveis pela infelicidade contemporânea. Para tanto, algumas temáticas serão examinadas, tais como: a relação entre sentimento, comportamento verbal e cultura; a relação entre prazer e reforçamento; o papel do prazer nas práticas culturais; exemplos de práticas culturais responsáveis pela infelicidade; e a função política da felicidade.

 

Minicurso 3: "Terapias por contingências de reforçamento: O conceito de amor como instrumento de abuso interpessoal"

Hélio Guilhardi (ITCR)

O amor é um termo que carece de uma definição amplamente aceita, pois não se trata de um único sentimento, mas de uma interação dinâmica entre vários sentimentos. Sentimentos outros, nomeados como desamparo, rejeição, baixa autoestima, dependência afetiva, prepotência, submissão etc. são confundidos com amor e evocados, de maneira equivocada, para justificar interações em que predominam comportamentos agressivos, de submissão, de exagerada tolerância à frustração, de omissão etc. O presente curso apresentará uma definição comportamental de amor e discutirá alguns episódios de abuso comportamental entre parceiros avalizados por conceitos particulares de amor, que têm essencialmente a função de justificar comportamentos pouco adaptativos de fuga-esquiva. 

Minicurso 4: "Contingências entrelaçadas na relação terapêutica"

Roberto Alves Banaco (Paradigma)

A intervenção clínica baseada nos princípios do Behaviorismo Radical de Skinner recebeu várias denominações do Brasil. As mais comumente encontradas são a Análise Comportamental Clínica , a Terapia por Contingências de Reforçamento , e Terapia Analítico-Comportamental , sendo esta última a mais utilizada pela comunidade que se dedica a intervenções no contexto clínico.

Independentemente das diferenças que as definem, todas elas tomam por base a Análise Experimental do Comportamento como referencial teórico, provedor de modelos interpretativos para a condução dos casos clínicos.

Isso implica em formular a análise e elaborar um plano terapêutico considerando três níveis de Seleção do comportamento: o filogenético - referente à evolução das espécies e sua adaptação ao ambiente – que envolve respostas típicas da espécie, com as devidas variações individuais no responder e na sensibilidade aos estímulos antecedentes e subsequentes; o ontogenético - fruto da história de aprendizagem do indivíduo, que repousa sobre as suas possibilidades filogenéticas e as disponibilidades do ambiente no qual ele está inserido – que consiste no repertório aprendido, idiossincrático de cada indivíduo; e o cultural - resultado da evolução humana, a partir do surgimento do comportamento verbal, que permitiu uma organização social impar na natureza  - e que se refere à interação do indivíduo com padrões de comportamento dos grupos nos quais ele está inserido.

Do ponto de vista das análises clínicas, possíveis no campo das psicoterapias, há trabalhos a serem desenvolvidos em cada um dos níveis de seleção. Mas é especialmente no nível cultural de seleção do comportamento que mais claramente os problemas psicológicos são definidos enquanto tal, e exigem solução por meio da psicoterapia.

Minicurso 5: "Terapia de Aceitação e Compromisso: Promovendo a Flexibilidade Psicológica"

João Henrique de Almeida (UFSCar)

A Terapia de Aceitação e Compromisso é uma das terapias de Terceira Onda e recentemente tem sido altamente recomendada para o tratamento de ansiedade, depressão, dor crônica, psicose, abuso de substâncias, entre outros e até mesmo, melhora de desempenho esportivo. O objetivo final do tratamento ACT é a promoção da Flexibilidade Psicológica, definida como um contato completo com o momento presente e as experiências internas que ocorrem, sem uma defesa desnecessária e também o direcionamento na busca de objetivos e valores pessoais.

Neste minicurso, serão apresentados dois pontos principais. O primeiro, mais breve, será uma apresentação da teoria que embasa a utilização dos procedimentos e que permite a definição do comportamento verbal na perspectiva de intervenção da ACT, a Relational Frame Theory (RFT). Em um segundo momento serão explorados os núcleos que capacitaram a promoção da flexibilidade psicológica no atendimento da ACT, apresentada a proposta de alteração do modelo de tratamento psicoterápico, estratégias de intervenção empregadas e comentados alguns casos clínicos relatados na literatura. Serão apresentadas evidências em relação a eficácia deste tipo de tratamento e discutida sua lógica enquanto uma terapia comportamental.