A dinâmica brasileira na Bacia do Prata: da aproximação nos tempos de Vargas ao Mercosul atual (1930-2016)

Ministrante:  Luiz Eduardo Pinto Barros (Doutorando em História da UNESP/FRANCA).

EMENTA:

 A política externa brasileira tomou novas direções no cenário regional a partir da chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930. Apoiada pela obra de Mario Travassos, intitulada “Projeção Continental do Brasil” que visava à importância do Estado brasileiro ampliar seus horizontes geopolíticos para seus vizinhos geográficos, sobretudo, pela considerável influência argentina na América do Sul, o Brasil desenvolve um relativo processo de aproximação com seus vizinhos.
Naquele cenário ganhava dimensão a dinâmica da Bacia do Prata que é composta por cinco países: Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Por ser um território de grandes conflitos geopolíticos e bélicos, palco da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1864-1870), temas como navegação e usufruto enérgico dos seus rios e afluentes aos poucos tomava conta das pautas de interesses dos países envolvidos nas décadas seguintes. Especialmente o Brasil iniciou um processo de estudos no curso do Rio Paraná na década de 1950, mais precisamente na região das Sete Quedas que é fronteira entre o atual estado de Mato Grosso do Sul e o leste do Paraguai. O Objetivo era saber do potencial hidro energético daquela localização, tendo em vista a demanda energética do país e o crescente impulso da industrialização em solo brasileiro. Porém, somente em 1962, os paraguaios souberam do assunto e imediatamente repudiaram as pesquisas de seu vizinho. Imediatamente um conflito diplomático entrou em cena, já que o Estado paraguaio alegava que historicamente aquela fronteira ainda não havia sido demarcada.
Depois de um período de quatro anos de divergências, os chanceleres de Brasil e Paraguai assinaram a Ata das Cataratas em junho de 1966. Esta seria base para aquele que seria o maior tratado geopolítico da histórica relação diplomática de ambos, o Tratado de Itaipu em 1973. A Argentina, por ser um país carente de recursos hídricos e com poucas opções para suprir a demanda energética viu o projeto brasileiro-paraguaio como ameaça por conta de sua dependência do Rio Paraná, onde a futura usina de seus vizinhos seria construída. Uma série de debates, negociações e desentendimentos ocorreria envolvendo os três países para que o projeto Itaipu deixasse de ser uma ameaça a estabilidade na Bacia do Prata com assinatura do Acordo Tripartite em 1979.
A partir de então, um cenário de acordos bilaterais em diversas áreas foi se desenvolvendo no decorrer da década de 1980 entre as duas maiores potências da América do Sul favorecendo um processo cada vez mais concreto de integração, contando com Paraguai e Uruguai, culminando na criação do MERCOSUL no início dos anos de 1990. Desde então, as relações entre Brasil e Argentina foram ganhando maior dimensão, principalmente nas relações comerciais, tendo grande relevância para a consolidação do MERCOSUL, apesar das divergências. Atualmente as relações entre os quatro membros, assim como a entrada da Venezuela, causam muitas discussões.

JUSTIFICATIVA:
 A justificativa para a proposta do presente Mini-Curso é a necessidade de realizar uma abordagem histórica sobre a dinâmica da Bacia do Prata que resultou nos dias atuais na formação do MERCOSUL que é um bloco institucional que ganha as páginas dos noticiários dos países envolvidos, assim como debates e constantes pesquisas no mundo acadêmico, sobretudo, a respeito da Integração Regional.
Estudar e debater os elementos políticos, econômicos e sociais que influenciaram a dinâmica platina desde a década de 1930 até os tempos atuais possibilita fazermos uma análise contundente sobre as condições que possibilitam ser a dinâmica do MERCOSUL estável diplomaticamente entre seus membros, exceto em momentos de tensão como ocorreu entre Argentina e Uruguai, porém, ainda instável do ponto de vista econômico e comercial por diversas razões. Sem duvida será possível compreender se os motivos históricos que fundamentaram a criação do MERCOSUL no início dos anos de 1990 podem ser os mesmos que observamos após os 25 anos da criação do bloco. Poderemos fazer análises como: é possível fazer do MERCOSUL um bloco próximo do que foi projetado anteriormente? O modelo europeu, no caso, a União Europeia, é algo a ser almejado pelos sul-americanos ou nossa história nos faz acreditar que nossos caminhos são diferentes?
São por estas razões que a proposta deste minicurso no presente evento se faz totalmente necessária.

CRONOGRAMA:

 

Quarta-Feira (19/10) Da Era Vargas aos tempos de Operação Pan-Americana na dinâmica platina (1930-1960)
Quinta- Feira (20/10) Da Política Externa Independente ao fim da Ditadura Militar no âmbito do Cone Sul (1961-1985) 
Sexta-Feira (21/10) A dinâmica Brasil e Argentina e o desenvolvimento inicial do MERCOSUL no decorrer da década de 1990 

A dinâmica brasileira no âmbito do MERCOSUL no século XXI
 

 

Obs: o cronograma segue a programação provisória de acordo com o site do evento. Se for o caso poderá sofrer alterações

 

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