Tempo de autonomias: as lutas indígenas no México e na América Latina

Ministrante: Lucas da Costa Maciel (PGEHA – MAC/USP. PDR – DCSH/UAM-X)

EMENTA
O conteúdo deste mini-curso centra-se na discussāo sobre algumas ideias em torno das autonomias indígenas na América Latina, destacadamente o México. Para tanto, sāo propostos cinco eixos iniciais que permitem colocar em evidência a polissemia do termo autonomia -no nível teórico, ao menos- argumentando o direito à autonomia como um direito básico dos povos:
A) Direito à auto-determinaçāo: separatismo vs. autonomia;
B) Democracia e virada do modelo de tutela do Estado;
C) Direitos à auto-afirmaçāo, à auto-definiçāo, à auto-delimitaçāo e à auto-disposiçāo interna e externa;
D) Tensāo entre povo e comunidade no nível do exercício da autonomia: Estado mexicano;
E) Autonomia cotidiana;
Com a intençāo de adentrar em outros elementos importantes, se discutem casos
concretos, as chamadas “autonomias de fato”:
– O primeiro deles, no qual se deterá mais detalhadamente, é a autonomia neozapatista. A partir deste caso, percorreremos a ideia da autonomia como experimentaçāo e como processo, revisando elementos históricos, culturais e organizacionais que permitam exemplificar a forma em que a autonomia é construída e replicada.
– No segundo momento, discutiremos outros quatro casos mexicanos de autonomias indígenas: a Polícia Comunitária de Guerrero, que permitirá discutir uma concepçāo de justiça autônoma; o caso do Município de San Juan Copala, como autonomia e pós-conflito;
o caso Yaqui, que pōe em questāo a base material da autonomia, seu fundamento
econômico; e a prática da Uniāo de Cooperativas Tosepan, que remete à autonomia
produtiva e às escalas da autonomia.
– Logo, visitaremos três casos latino-americanos com a intençāo de apresentar três
problemáticas distintas enquanto à terra e ao território: o Conselho Regional Indígena do
Cauca e as açōes de liberaçāo da māe-terra; os questionamentos dos povos guaranis
enquanto às esferas das autonomias no Estado Plurinacional da Bolívia; e o caso da
demanda pela naçāo mapuche, no Chile e na Argentina.
A termo de conclusāo pretende-se discutir o papel dos acadêmicos em relaçāo às demandas por autonomia. A intençāo é oferecer respostas provisórias à pergunta: “como construir conhecimento no contexto das autonomias indígenas?” A discussāo proposta neste ementa é, no entanto, apenas introdutória e tem por intençāo levantar questionamentos iniciais e incitar a reflexāo contínua.

JUSTIFICATIVA
O tema das autonomias indígenas ganha cada vez mais espaço na produçāo teórica latino-americana. No entanto, isto nāo se deve a uma inventividade própria dos pesquisadores e acadêmicos, mas a um diálogo contínuo com os processos sociais que vem endossando a necessidade de reflexionar sobre outras formas de construir democracias e repensar a convivência de alteridades num sistema social em que impera o modelo do Estado-naçāo.
Reflexionar sobre as autonomias indígenas, neste sentido, implica adentrar-se em mundos-vida distintos, construídos desde socialidades outras. Significa, ademais, questionar os preceitos básicos que regem nossa própria forma de habitar o mundo e relacionar-nos. Em outras palavras, as autonomias indígenas colocam sobre a mesa a necessidade de refundar o âmbito do político na América Latina.
Ao propor perguntas e respostas apenas virtuais, que precisam ser questionadas e refundadas, este mini-curso pretende trazer à discussāo dois pontos de construçāo de conhecimento: a teoria sobre as autonomias e as experiências dos próprios processos demandantes. O objetivo é advogar pelo imperativo de fazer ciências sociais da práxis: somando teoria e prática como partes de um mesmo. Aqui, entāo, a necessidade de acompanhar os processos sociais em sua capacidade de reinvençāo constante, pondo a academia e a teoria em passo de acompanhar o mundo social do qual fala.
Por fim, o mini-curso pretende trazer a autonomia nāo simplesmente como um conteúdo sobre o qual a ciências sociais se debruçam, mas antes como uma forma de produzir conhecimento. A autonomia nāo é apenas um fato social, mas uma forma de existir e produzir socialidade. O desafio, entāo, é como construir uma ciências sociais na, da e para a autonomia.
Ou seja, a autonomia como metodologia social.

CRONOGRAMA
Duraçāo total: 4h30m
Do dia 19 ao dia 21 de outubro, das 08:00 às 09:30.
DIA HORA CONTEÚDO
19 de outubro 08:00-09:30 1. Discussāo Teórica: Autonomia como direito dos povos;
20 de outubro 08:00-09:30 2. “Autonomias de fato”: experiências de autonomia no México e AL;
21 de outubro 08:00-09:30 3. Metodologia e pesquisa no campo das autonomias.

INFORMAÇŌES
1. Usaremos datashow, notebook e caixa de som;
2. Peço aos interessados que enviem um e-mail para lucas.maciel@usp.br para que poder
compartilhar leituras opcionais;
3. O curso será ministrado em português, mas o uso do espanhol pode ser uma opçāo aberta
frente à preferência dos interessados.

BIBLIOGRAFIA
AUBRY, Andrés. “Otro modo de hacer ciencia. Miseria y rebeldía de las ciencias sociales”. In: BARONNET, Bruno; MORA
BAYO, Mariana; STAHLER-SHOLK, Richard. Luchas “muy otras”: zapatismo y autonomía en las comunidades indígenas de Chiapas. México: UAM-X: CIESAS: UACH, 2011. p. 59-70
BARONNET, Bruno; MORA BAYO, Mariana; STAHLER-SHOLK, Richard. “Introducción”; “Conclusiones. Luchas “muy otras”: reflexiones sobre procesos en marcha”. In: _____. Luchas “muy otras”: zapatismo y autonomía en las comunidades indígenas de Chiapas. México: UAM-X:CIESAS: UACH, 2011. p. 19-58; 517-530.
BARTOLOMÉ, Miguel Alberto.“La insurgencia india”; “Propuestas de futuro: la cuestión de las autonomías”. In: ____. Gente de costumbre y gente de razón: las identidades étnicas en México. México: Siglo XXI, 2006. p. 178-187.
BARTRA, Armando. “Campesindios: formación del campesinado en un continente colonial”; “Tierradentro: sujeto y desarrollo en la revolución boliviana”. In: ______. Tiempo de mitos y carnaval: indios, campesinos, revoluciones. De Felipe Carrillo a Evo Morales. México: Itaca: PRD-DF, 2011. p. 115-241.
BERLANGA GALLARDO, Benjamín; MÁRQUEZ NAVA, Ulises. “Cinco reflexiones en torno a los imaginarios sociales del desarrollo y autonomía: la práctica de la pluralidad cultural en las regiones indígenas”. In: KLESING-REMPEL, Ursula; KNOOP, Astrid. Lo propio y lo ajeno: interculturalidad y sociedad multicultural. México: Plaza y Valdes, 1996. p. 241-260.
CLASTRES, Pierre. “A sociedade contra o Estado”. In: ____. A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. Sāo Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 201-231.
CUNHA, Manuela Carneiro da. “Etnicidade: da cultura residual mais irredutível”. In: _____. Cultura com aspas. Sāo Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 235-244.
DÍAZ-POLANCO, Héctor. La rebelión zapatista y la autonomía. México: Siglo XXI, 1997. 243 p.
“Las autonomías, el Estado y el poder”. In: ____. Elogio de la diversidad: globalización, multiculturalismo y
etnofagia. México: Siglo XXI, 2006. p. 204-212.
DIETZ, Gunther. “Cultura y etnicidad: los ejes conceptuales”; “Nacionalismo, etnogénesis e hibridación cultural”; “El Estadonación ante la diversidad cultural”. In: _____. Multiculturalismo, interculturalidad y diversidad en
educación. Una aproximación antropológica. México: FCE, 2012. p. 98-108; 123-132; 132-151.
HARVEY, Neil. “Más allá de la hegemonía. El zapatismo y la otra política”. In: BARONNET, Bruno; MORA BAYO, Mariana;
STAHLER-SHOLK, Richard. Luchas “muy otras”: zapatismo y autonomía en las comunidades indígenas
de Chiapas. México: UAM-X: CIESAS: UACH, 2011. p. 163-194.
LERMA RODRÍGUEZ, Enriqueta. “Notas para el análisis de la resistencia yaqui en contra del Acueducto Independencia”. In: Sociológica, ano 2, número 82, maio-agosto 2014, p. 255-271.
LÓPEZ BÁRCENAS, Francisco. Autonomías y derechos indígenas en México. México: mc editores, 2009. 222 p.
MACIEL, Lucas da Costa. “Tiempos de Autonomía y otro sentido de escolarización”; “La cooperativa Tosepan Titataniske”. In: _____. Tosepan Kalnemachtiloyan: tomaseualkopa uan in Tosepan Ipipiluan (“La escuela de todos”: nuestra manera indígena y los infantes de Tosepan). Dissertaçāo de Mestrado (Desarrollo Rural), DCSH – UAM-X, 335f, 2015. p. 104-113; 133-150.
MARIMÁN QUEMEDO, Pablo. “Introducción”; “Epílogo”. In: ______. Escucha winka: cuatro ensayos de Historia Nacional Mapuche y un epílogo sobre el futuro. Santiago: LOM Ediciones, 2006. p. 11-16; 253-272.
MODONESI, Massimo. “Autonomía”. In: _____. Subalternidad, antagonismo, autonomía: marxismo y subjetivación política. Buenos Aires: CLACSO: Prometeo Libros, 2010. p. 99-146.
PAOLI, Antonio. Educación, autonomía y lekil kuxlejal: aproximaciones sociolingüísticas a la sabiduría de los tseltales. México: UAM-X, 2003. 231 p.
RESTREPO, Eduardo. “Estudios (inter)culturales en clave decolonial”. In: _____. Antropología y estudios culturales: disputas y confluencias desde la periferia. Buenos Aires: Siglo XXI, 2012. p. 187-192.
SANTOS, Boaventura de Sousa. “Nuestra América. Reinventando un paradigma subalterno de reconocimiento y redistribución”. In: _____. Una epistemología del sur: la reinvención del conocimiento y de la emancipación social. México: Siglo XXI: CLACSO, 2009. p. 225-268.
TAPIA, Luis. “La igualdad es cogobierno”. In: ____. La igualdad es cogobierno. La Paz: CIDES-UMSA: ASDI-SAREC y
Plural editores, 2007. p. 155-174.
ZIBECHI, Raúl. “La revolución descolonizadora del zapatismo”. In: _____. Descolonizar el pensamiento crítico y las
prácticas emancipatorias. Bogotá: Ediciones desde abajo, 2015. p. 75-98.