Indiferença: o sofrimento contemporâneo

Dissertação de Mestrado explora a indiferença na contemporaneidade, a partir de perspectivas psicanalíticas e clínicas. 

Desprezo, desinteresse, apatia. Essas são algumas características da indiferença, abordada por Daniela Tankevicius Ferraz em sua dissertação de Mestrado “Indiferença: um estudo psicanalítico”. Defendida pelo Programa de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP e orientada por Maria Livia Tourinho Moretto, a dissertação expõe a indiferença como modalidade de sofrimento de nossa época, apontando os caminhos pelos quais ela se apresenta na sociedade atual.

Partindo do campo de pesquisa da psicanálise, Daniela Ferraz se baseia na rede conceitual de Freud e Lacan, buscando construir hipóteses sobre os possíveis estatutos da indiferença no campo clínico/político. Situa sua pesquisa dentro do atual contexto político neoliberalista, que, de acordo com a pesquisa, contribui à generalização da questão.

É defendido que a indiferença é parte da nossa cultura. É uma atitude em relação a algo, uma possibilidade de desafetação frente ao sofrimento.

No campo político, o narcisismo generalizado, produto do neoliberalismo, é destacado como um dos responsáveis pela indiferença na sociedade atual. Este implica em uma lógica de exclusão da diferença, além da indiferenciação do sujeito dentro da sociedade. Tal indiferença também se alia à constituição subjetiva do sujeito, sendo visível na relação do Eu com o Outro.  

Além disso, há a indiferença depressiva, situada no campo da análise clínica. Esta se relaciona ao fracasso do ideal de felicidade da sociedade atual, sendo combatida pelos indivíduos com remédios e terapias. É neste cenário que a psicanálise atua.

Considerando tais perspectivas, Daniela Ferraz conclui que o papel da psicanálise não é romper ou ignorar a indiferença. Sua contribuição consiste em não permitir alguns isolamentos do sujeito e favorecer sua abertura à diversidade. Como já apontava Cecília Meireles: 

(Já não se morre de velhice

nem de acidente nem de doença,

mas, Senhor, só de indiferença.)

Por Caroline C. N. da Silva