O estigma internalizado e seu impacto na autoestima têm sido objeto de estudo em diversas pesquisas. Essas investigações revelam que o estigma vai além das violações de direitos causadas principalmente por terceiros. Um aspecto importante a ser considerado é o conceito de auto-estigma, em que indivíduos estigmatizados internalizam estereótipos negativos atribuídos a eles, adotando papéis limitantes baseados nos preconceitos que enfrentam.
De acordo com estudiosos como Link e Phelan (2001) e Corrigan e Watson (2002), a estigmatização é um processo psicossocial que envolve a desvalorização, a perda de status e a discriminação de um indivíduo, resultando na atribuição de estereótipos negativos com base em suas características físicas e pessoais, consideradas socialmente inaceitáveis. Quando se trata de pessoas com transtornos mentais, por exemplo, os efeitos do estigma são especialmente evidentes. A constante descredibilização do indivíduo em diferentes contextos sociais, ao longo da história, impede que ele se perceba como capaz, e perpetua a cadeia de preconceitos existentes.
Seguindo essa linha de raciocínio, Corrigan e Wassel (2008) destacam que a internalização do estigma acarreta consequências negativas para o sujeito, tais como a perda de identidade, a restrição de oportunidades de vida e a dificuldade de acesso equitativo aos serviços de saúde. Além disso, Li et al. (2009) apontam que essa internalização também impacta negativamente o funcionamento social e a esperança, autoeficácia e autoestima do indivíduo. Esses aspectos demonstram como os direitos individuais e coletivos são cerceados devido às práticas discriminatórias, que impedem as pessoas de reconhecerem suas próprias qualidades, virtudes e habilidades únicas, tão importantes para a sociedade, mas desvalorizadas em determinados momentos e espaços.
Em resumo, a estigmatização social e o estigma internalizado resultam na desvalorização e discriminação de pessoas com base em estereótipos negativos. Esse fenômeno afeta especialmente pessoas com transtornos mentais, que, ao internalizarem mensagens negativas sobre si mesmos, sofrem perda de identidade, restrição de oportunidades e dificuldades de acesso a serviços diversos. Além disso, experimentam prejuízos no funcionamento social, confiança em si mesmos, autoestima e autonomia. Todos esses aspectos evidenciam violações dos direitos individuais e coletivos, impedindo que as pessoas se reconheçam como sujeitos valiosos para si e para a sociedade.
ARYADNE MARIA DA SILVA
Aluna de Licenciatura e Bacharelado em Enfermagem na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Enfermagem, Saúde Global, Direito e Desenvolvimento (GEPESADES).
REFERÊNCIA
CORRIGAN, P. W.; WATSON, A. C. The paradox of self-stigma and mental illness. Clinical Psychology: Science and Practice, v. 9, n. 1, p. 35-53, 2002.
CORRIGAN, P. W.; WASSEL, A. Understanding and influencing the stigma of mental illness. Journal of psychosocial nursing and mental health services, v. 46, n. 1, p. 42-48, 2008.
LI, L. et al. Stigma, social support, and depression among people living with HIV in Thailand. AIDS care, v. 21, n. 8, p. 1007-1013, 2009.
LINK, B. G.; PHELAN, J. C. Conceptualizing stigma. Annual Review of Sociology, 27, 363-385, 2021.