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Aplicativo que auxilia no tratamento de pacientes com tuberculose é destaque na OMS

Pacientes com tuberculose (TB) que recebem o medicamento através do acompanhamento domiciliar (visitas) pelo agente de saúde tem chances muito maiores de curarem da doença. O tratamento diretamente observado, do inglês directly observed treatment (DOT), é um protocolo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para aumentar a adesão ao tratamento e eliminar a doença do organismo. No entanto, após o início da pandemia de Covid-19 praticamente todas as visitas domiciliares do TDO foram suspensas ou profundamente comprometidas por conta dos riscos associados.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP desenvolveram um aplicativo chamado VDOT ou “tratamento diretamente observado por vídeo”, que auxilia no telecuidado de pessoas com TB. No início do projeto (antes da pandemia) a proposta era reduzir a necessidade de visitas presenciais do agente de saúde no domicílio do paciente para observá-lo tomando os remédios da TB. Esta medida também reduziria os custos com transporte e aumentaria muito a capacidade do agente de saúde de acompanhar um número maior de portadores da TB em tratamento.

O sistema já estava sendo testado em estudos pilotos, quando do advento da pandemia da Covid-19. Em março de 2020 quatro unidades básicas de saúde (UBS) da cidade de Ribeirão Preto e o ambulatório de tuberculose do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) incoproram também o recurso, agora para suprir uma limitação imposta pela pandemia.

“A plataforma auxilia no registro da ingestão diária de medicamentos e os dados são acompanhados e validados pela equipe médica de forma on-line. Além disso, o aplicativo oferece aos pacientes a possibilidade de fazer perguntas sobre seu tratamento para profissionais de saúde e pesquisadores”, conta Luiz Ricardo Albano dos Santos, pós-graduando da FMRP e um dos autores do projeto.

O uso do VDOT reduziu em 43% a necessidade de visita domiciliar que significa diversos benefícios, como manter a continuidade do tratamento supervisionado e a proteção de pacientes e cuidadores contra a covid-19. “Desmascaramos alguns preconceitos ao longo do uso do VDOT. Por exemplo, a classe social não interferiu na capacidade de acesso ao monitoramento e descobrimos que a melhor maneira de garantir o uso adequado do aplicativo é fornecer treinamento para todos que desejam usá-lo”, afirma.

Em janeiro de 2021, o VDOT – Video system for telemonitoring and direct observed treatment for tuberculosis” foi indicado pelo Ministério da Saúde e aceito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) num processo seletivo das melhores e mais inovadoras iniciativas mundiais no combate à tuberculose, no contexto da Covid-19.

Além de Luiz Ricardo, o projeto conta com a orientação do professor Valdes Roberto Bollela, e já contou com o auxílio dos professores Antônio Ruffino-Netto e Domingos Alves; todos da FMRP; além do apoio da pós-graduanda Luana Michelly Aparecida da Costa da FMRP, Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), Instituto de Química de São Carlos (IQSC); e da aluna Ana Clara Mirandolla Linardo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP); todos da USP.

Entenda o que é tuberculose

A tuberculose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Apesar de ser comumente associada ao acometimento do pulmão, a doença pode afetar outros membros, como os rins e o sistema nervoso central. É transmitida pelo ar e pessoas infectadas podem ter tosse, febre, perda de peso, suores à noite e catarro que pode ser acompanhado por sangue.

“Apesar de dispormos de um tratamento efetivo para o tratamento da doença há mais de 70 anos, ainda hoje a tuberculose é responsável pela morte de milhares de pessoas em todo o mundo, e uma das razões para a persistência deste quadro é a dificuldade que o paciente tem para tomar regularmente os medicamentos da TB durante os seis meses que são necessários para se obter a cura. Iniciativas que aumentam adesão ao tratamento estão entre as mais efetivas e são fortemente apoiadas pela Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde”, completa o professor Bollela.