Do Conhecimento à Competitividade: a Inovação como Ponte para o Desenvolvimento Nacional

No Dia Nacional da Inovação, reforça-se a necessidade de articular ciência, tecnologia e desenvolvimento por meio de políticas públicas estáveis e da integração entre instituições de pesquisa e setor produtivo. Valorizar a pesquisa aplicada como vetor de competitividade, soberania tecnológica e crescimento sustentável é essencial para transformar conhecimento em desenvolvimento.

A transformação tecnológica não é apenas o resultado de descobertas científicas: é o elo que converte conhecimento em valor econômico e social. Em um cenário global marcado por rápidas mudanças tecnológicas, países que conseguiram reduzir o abismo entre pesquisa e mercado consolidaram novas posições de liderança. 

A trajetória recente da China ilustra esse movimento. Entre 2015 e 2024, o país deixou de ser visto apenas como produtor de genéricos e passou a figurar como um dos principais polos de avanço farmacêutico do mundo, responsável por quase 40% das primeiras aprovações globais de novos medicamentos. Essa virada foi resultado direto de políticas públicas consistentes, reformas regulatórias e investimentos estratégicos em pesquisa e desenvolvimento.

No Brasil, a discussão sobre progresso científico volta ao centro do debate no Dia Nacional da Inovação, celebrado neste 19 de outubro. O país ainda enfrenta um cenário de atraso tecnológico, com baixo investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e defasagem na transferência de tecnologia entre universidades e setor produtivo. 

Segundo a Confederação Nacional da Indústria, superar esse quadro exige fortalecer a educação científica, ampliar a pesquisa aplicada e criar políticas estáveis de incentivo à renovação tecnológica, sobretudo em áreas estratégicas como biotecnologia, energia e agricultura sustentável. O desenvolvimento baseado em ciência, nesse contexto, é uma questão de soberania e de competitividade, o que torna urgente repensar os mecanismos que convertem descobertas em impacto.

Um dos maiores desafios está na conexão entre academia e indústria: o chamado “vale da morte” da inovação. A pesquisadora Helen Brabham, da organização 2Blades, destacou em entrevista à Nature Plants que grande parte da ciência de ponta esbarra em barreiras regulatórias, de mercado ou de comunicação entre os dois mundos. Enquanto o meio acadêmico busca compreender fenômenos com rigor e profundidade, a indústria precisa de soluções escaláveis, seguras e economicamente viáveis. 

Um exemplo positivo desse elo entre ciência e aplicação prática é o trabalho da equipe da UFV (Universidade Federal de Viçosa), que desenvolveu uma variedade de mandioca resistente a pragas, em colaboração com agricultores locais, permitindo aumento de produtividade e redução no uso de pesticidas, um caso em que o conhecimento acadêmico gerou transformação direta na economia rural. 

Superar esse descompasso exige uma nova geração de pesquisadores com visão interdisciplinar, capazes de transitar entre o laboratório e o mercado, e uma estrutura institucional que premie a criação de soluções tanto quanto a publicação científica.

No Brasil, universidades como a Universidade de São Paulo (USP) têm avançado nesse sentido. A iniciativa USP Inovação reforça que transformar conhecimento em impacto social e econômico é parte da missão da universidade pública, e que fortalecer o ecossistema de empreendedorismo científico requer aproximação entre laboratórios, startups e empresas parceiras, além de programas de pré-aceleração e valorização da propriedade intelectual.

Por outro lado, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) tem apostado em políticas como o Programa Centelha e o Rota 2030, voltadas à inovação aberta e à formação de talentos, destacando que a política de fomento tecnológico deve ser de Estado, não de governo, para garantir continuidade e resultados duradouros.

A experiência internacional mostra que políticas públicas consistentes podem transformar o destino de um país. A década de renovação estratégica chinesa não foi apenas fruto de investimento, mas de planejamento integrado entre governo, academia e indústria, com foco em valor agregado, internacionalização e regulação ágil. 

O Brasil possui base científica sólida e reconhecida globalmente, mas carece da transformação dessa força intelectual em vetor de desenvolvimento sustentável, inclusão produtiva e autonomia tecnológica.

Inovação não é um fim em si: é um instrumento de futuro que nasce no encontro entre o conhecimento e a coragem de aplicá-lo; entre a curiosidade científica e a estratégia nacional. Construir essa ponte é decidir que o país não ficará à margem das transformações tecnológicas do século XXI.

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