Por Diego Amorim Xavier
Ainda sem superarmos e, sem previsão do fim de todas as restrições impostas pela pandemia do coronavírus no que se refere aos impactos na saúde pública e econômicos, o direito de receber as doses de vacinas que garantiriam a retomada da normalidade, ou quase, da vida, enfrenta desafios talvez ainda maiores. A corrida por uma vacina minimamente eficaz foi vencida, no entanto, o aumento do número de casos notificados, mortes e uma terceira onda mais avassaladora, apresentam agora o desafio de serem todos vacinados.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os BRICS, correspondem a 40% da população mundial, em números absolutos, cerca de 3,8 bilhão de pessoas. Os números reforçam a significância e os desafios de se enfrentar um vírus tão delicado.
Atualmente, três países do BRICS são responsáveis pelo desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus. A Rússia criou a SPUTINIK V; a China desenvolveu vacinas como a Sinopharm e Coronavac com o Instituto Butantã; e a Índia apresentou a Covaxin. Além disso, devemos levar em consideração que China e Índia são os grandes responsáveis pela cadeia de suprimentos de material hospitalar como agulhas e seringas que dão o suporte para a efetivação da vacinação.
Vencido pela ciência o vírus mortal, percebemos que ciência e política, assim como teoria e prática, escondem as falhas humanas na luta pelo bem comum. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia alertado a necessidade de um pacto global para a gestão e distribuição das vacinas, lembrando dos países mais pobres. O Papa Francisco, ao escrever a encíclica Laudato Si em 2015, já alertava que estamos todos interligados, ou seja, os desafios globais necessitam de respostas globais. A pandemia, contudo, reforçou dois pontos. Primeiro, países ricos como na Europa e Estados Unidos continuam protecionistas. Segundo, que países em desenvolvimento como Brasil e Índia permanecem com desafios gravíssimos de gestão política.
Na administração da vacina, entre os membros do BRICS, o caso brasileiro é o mais assustador. O número de mais de 300 000 mortes, falta de vagas nos hospitais, novas variantes registradas em território nacional e mortes por falta de oxigênio, por exemplo, conduzem o país para a oficialização do caos. O governo central negacionista, minimizou a pandemia, desinformou a população e até o momento não tem vacinas suficientes para um plano efetivo de vacinação.
A Índia, por sua vez, embora tenha capacidade produtiva, insumos e uma vacina nacional em curso, seu programa de vacinação está pautado sobretudo pela Vacina da Oxford-AstraZeneca. E na geopolítica da vacina, interesses nacionais e regionais vêm determinando o discurso das autoridades, mas que não apresentam soluções efetivas na gestão da pandemia. O lado mais impactante fica expresso no aumento do número de casos de infectados e mortes no cenário indiano.
A África do Sul ganhou destaque no cenário pandêmico em função da variante denominada 501Y.V2. As vacinas continuam sendo testadas e o país não tem até o momento um programa claro de vacinação. Alguns estudos apontam a baixa eficácia das vacinas desenvolvidas para combaterem a variação sul-africana e neste sentido, o último membro do BRICS aguarda observando o número de casos e mortes aumentarem diariamente.
Em resumo, os membros do BRICS poderiam ter construído e elaborado um programa de desenvolvimento, produção de vacinas e vacinação para amenizar a situação de pandemia de 40% da população mundial. Nacionalismo, negacionismo e negligencias (NNN), não apenas no bloco, limitaram a resposta global para um mundo globalizado. Os BRICS, formados e construídos sob a ótica de uma nova ordem mundial, vêm perdendo o momento de demonstrar que de fato são novos atores mundiais.