Manifesto às gerações

A velhice e o envelhecimento são parte integrante da condição humana, mas existe muito desconhecimento e preconceito sobre esses fenômenos, provavelmente porque são associados ao declínio e à morte, ideias mal toleradas pelo ser humano.
O aumento da esperança de vida e a melhoria das condições físicas dos idosos são uma decorrência dos avanços sociais, científicos e tecnológicos ocorridos no século XX. Nas últimas décadas, avanços conceituais e metodológicos consideráveis favoreceram a compreensão e a explicação da velhice.
A experiência coletiva de várias sociedades quanto a uma velhice bem-sucedida, isto é, muito mais saudável, ativa, produtiva e integrada socialmente do que no passado inspirou ideais de reproduzir e estender essa possibilidade a um número cada vez maior de idosos.
A pesquisa tem respondido à nova realidade e aos novos anseios, produzindo dados e teorias sobre as características e os determinantes do envelhecimento. Novos conceitos e novas metodologias científicas e de intervenção na saúde física e mental contribuem para que, aos poucos, sejam criados novos cenários para a velhice.
Ao mostrar que a velhice é uma realidade muito mais heterogênea do que se supunha, têm permitido a revisão de crenças, atitudes e estereótipos negativos tradicionais sobre a velhice.
Porém, resta ainda um longo caminho a ser percorrido, tanto para elucidar os pontos ainda obscuros do fenômeno do envelhecimento como para tornar mais universais conceitos mais corretos sobre o tema.
A educação desempenha um papel central em qualquer projeto de mudança de atitudes em relação à velhice.
Aumentar a informação e levar as pessoas e as instituições a pensarem de forma mais positiva e realística sobre os idosos e a velhice pode contribuir para mudar as suas atitudes, mas apenas isso não é suficiente para modificar a maneira pela qual a sociedade trata as pessoas idosas.
Inserir nos currículos, nas diversas etapas da educação básica, conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, criará uma nova forma de pensar e agir sobre a última fase do ciclo vital.
Promover a criticidade dos estudantes quanto às questões ligadas ao envelhecimento demanda uma rigorosa formação ética.
Intervir e romper com uma lógica baseada na valorização da juventude implica em compreender o fato de que todos estamos envelhecendo desde o nosso nascimento. Afinal, estamos ganhando, dia a dia, mais idade.
Neste cenário, é fundamental que estudantes dos diferentes níveis e modalidades de ensino, e os educadores, possam construir significados e conferir sentido àquilo que aprendem a respeito de si mesmos e da sociedade na qual estão inseridos.
A educação para o envelhecimento pode preparar as pessoas para os próximos anos da vida e combater o preconceito etário, podendo (re)imaginar o envelhecimento como um processo de desenvolvimento e de realizações contínuas.
Como o tema do envelhecimento na educação não é uma ocorrência comum, faz-se necessário tratá-lo no ambiente escolar ao longo de todos os níveis formativos. A estrutura conceitual para a educação para o envelhecimento deve partir pelo entendimento das atitudes e crenças em relação ao processo do envelhecimento e à velhice.

Profª Meire Cachioni
PROFESSORA ASSOCIADA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Idealizadora e coordenadora do Projeto Ger@ções