Majô

Adeus à Majô, Maria José Pereira dos Santos

Por: Memorial Lélia Gonzalez

01/03/2013

Amiga, militante no Movimento Negro e na área da Saúde da População Negra.

Olorun Kosi pu re. Que Olorun mantenha seu espírito em paz.

Majô continuará como importante referência nacional.

Maria José Pereira dos Santos, apelido Majô, negra, nascida em 1959, filha de pais camponeses, lavradores. É a penúltima de 10 filhos. Família simples, mas muito unida e batalhadora.

Ao contrário da maioria dos seus irmãos e irmãs, viveu poucos anos no campo. Em meados dos anos 60, seus pais que eram semi-analfabetos, Sra. Maria Rosa de Jesus e Sr. Tertuliano Franco Pereira, se mudaram com todos os filhos para cidade em busca de melhores condições de vida, já que o cultivo do café já não lhes garantia a sobrevivência. Primeiramente, para São José do Rio Preto, Estado de São Paulo e a partir de 1970, para Capital.

Majô, chegando em São Paulo, logo cedo, ainda com 11 anos, trabalhou como empregada doméstica para ajudar os pais no sustento da família. Aos 15 anos, fruto do seu esforço nos estudos, passou a trabalhar em escritórios de grandes empresas como Telesp, Serpro etc.

A questão social sempre foi alvo de suas preocupações, por isso buscou uma profissão onde pudesse envolver-se e contribuir com a justiça social, assim passou a cursar a Faculdade de Serviço Social na Puc/SP.

Nesse período, encontrou um pequeno grupo de jovens negros universitários que buscavam espaço dentro da Universidade, espaço não individual, mas espaço para a causa da população negra no Brasil, onde a Universidade era um território estratégico para dar visibilidade a este contingente populacional invisível do ponto de vista do acesso aos bens e serviços produzidos socialmente. Falar das desigualdades raciais na década de 80 na Universidade ainda era tabu, imperava o mito da democracia racial, assim, não tínhamos muitos estudos a respeito, não tínhamos orientadores, pois era raro o docente que se interessava por pesquisas nesta área temática.

Majô atuou ativamente no Grupo Negro da PUC/SP, onde organizavam seminários, palestras, participavam de encontros, congressos, levantavam a bandeira de luta pela superação da discriminação e racismo existentes no Brasil.

Buscavam aliados no universo acadêmico e diálogo com toda a sociedade.

Em 1984 seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi sobre o Serviço Social e as desigualdades raciais, debate incipiente na época, pois imperava nesta área a ideia que apenas as relações de classe explicavam as desigualdades econômicas e sociais.

Em 1991, participou da fundação da Soweto-Organização Negra.

Em 1996, casou-se com um poeta e bancário, Romildo José dos Santos. Desta união tem uma filha chamada Julia Dandara, de 15 anos.

Em 2000, buscando ainda aprofundar o conhecimento sobre o impacto das questões sócio raciais na vida das pessoas, começa a cursar o mestrado em Psicologia Social, onde defende uma tese sobre os “Sentidos e Significados da escolha do parceiro afetivo e sexual entre adolescentes negros e negras.”

É coautora dos livros Adolescências Construídas – a visão da psicologia sócio histórica. Cortez, Editora 2003 e Retratos da Juventude Brasileira – Análises de uma pesquisa nacional. Editora Fundação Perseu Abramo e Instituto Cidadania em 2005.

Foi relatora do documento final do I Seminário Nacional da Saúde da População Negra em 2004 e em 2006 da II Conferência Municipal da saúde da População Negra em São Paulo.

Em 2007 foi representante da Coordenação Nacional de entidades Negras (CONEN) no Conselho Nacional de Saúde.

Trabalhou como Assistente Social no Sistema Penitenciário e na Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, onde também atuou como Educadora em Saúde Pública.

Trabalhou com “Educação de Jovens para o Trabalho” no SENAC/SP.

Desde 2003 era assistente social do Centro de Saúde Escola do Butantã da Faculdade de Medicina da USP.