Docente discute consequências do isolamento social para a saúde mental

Docente discute consequências do isolamento social para a saúde mental

A necessidade de distanciamento e muitas vezes também de isolamento social trazida pela pandemia de covid-19 tem deixado profissionais da área de saúde mental em alerta para algumas consequências que isso pode trazer para a população. Na segunda parte da entrevista com a professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto  da USP Kelly Graziani Giacchero Vedana, o USP Analisa vai discutir o impacto disso em questões como o vivenciamento do luto e um possível aumento na ocorrência de suicídios.

Ela explica que os rituais de despedida de um ente querido, como o velório e o enterro, são necessários em nossa cultura principalmente pelo apoio recebido de outras pessoas nesse momento. Em virtude das restrições impostas a esses rituais para evitar aglomerações, há uma necessidade de criar novas formas de vivenciá-los, utilizando, por exemplo, recursos virtuais.

“A gente precisa fazer com que essa experiência seja menos solitária, menos desorganizada emocionalmente. Enquanto sociedade, enquanto pessoas próximas a alguém ou mesmo profissionais de alguma área específica que possa atuar nesse sentido, é importante que a gente possa favorecer o enfrentamento mais saudável dessas situações. Porque o luto é necessário e a gente pode favorecer para que não seja um luto complicado, um processo tão negativo, tão ruim. E de alguma forma, na sociedade como um todo, a gente também está vivendo uma espécie de luto coletivo, então isso também fomenta um pouco essa solidariedade. Nós estamos, enquanto sociedade, tendo quebras de expectativas, tendo frustrações coletivas e sofrendo também por pessoas que nós conhecemos ou não, mas que nós sabemos que estão morrendo nesse momento difícil que o mundo está passando”, diz ela.

Segundo a professora, ainda não existem dados suficientes para dizer que haverá influência na ocorrência de suicídios em virtude das restrições trazidas pela pandemia, já que a forma que cada país vivenciou essas restrições é diferente. Porém, os profissionais de saúde mental seguem atentos a isso.  

“O fato é que a gente vai precisar estar muito atento para acompanhar quais são os impactos e transformações sociais que nós teremos e quais serão as consequências disso sobre o risco de suicídio e mesmo a ocorrência dos suicídios. E não só só olhando para os óbitos, mas o comportamento suicida como um todo: as tentativas, essa redução do desejo de viver, essas situações e comportamentos que precedem o próprio óbito por suicídio. Então é muito possível que nós tenhamos modificações sociais com um impacto, sim, tanto nos fatores de risco quanto nos fatores de proteção contra o suicídio. O acesso aos serviços de saúde, como vai ser esse impacto da crise nos diferentes lugares, como as pessoas vão enfrentar isso. Porque não é só o impacto em si, mas também algumas possibilidades de mudanças culturais e sociais em relação a alguns aspectos”, explica. 

A segunda parte da entrevista vai ao ar nesta quarta (30), a partir das 18h05, com reapresentação no domingo (4), às 11h30. O programa também pode ser ouvido pelas plataformas de streaming iTunes e Spotify

O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o programa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram.

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