Marketing da indústria alimentícia prejudica hábitos alimentares

Marketing da indústria alimentícia prejudica hábitos alimentares

Quarto maior produtor de grãos e maior exportador de carne bovina do mundo, segundo estudo da Embrapa, o Brasil vive uma realidade contraditória: mesmo com um desempenho tão bom no setor agropecuário, mais da metade da população brasileira vive atualmente com algum tipo de dificuldade de acesso a alimentos. Além da questão financeira, esse problema sofre interferência do marketing da indústria alimentícia. O USP Analisa explica essas razões na segunda parte da entrevista com a professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do Grupo de Estudos em Agricultura Urbana do Instituto de Estudos Avançados da USP, Thaís Mauad; com a professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, Silvia Helena Galvão de Miranda; e com a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP Dirce Maria Lobo Marchioni.

Elas destacam que a principal causa desse problema é a falta de renda que atinge a população atualmente. “É uma situação diferente da que o Brasil vivia quando a gente estava naquele processo de migração rural, lá nos anos 50 e 60, em que não existia um sistema de abastecimento alimentar estruturado para atender às populações urbanas. De fato, houve aí um estrangulamento. Hoje a gente tem o alimento e não tem a renda”, explica Silvia.

O poder do marketing da indústria alimentícia também tem um papel nesse cenário. Segundo as especialistas, ele ajuda a criar uma falsa percepção de que os hábitos alimentares urbanos são melhores que os rurais. Isso leva ao consumo de produtos ultraprocessados em substituição aos alimentos nativos, disponíveis muitas vezes nos próprios quintais da população rural. “É nosso papel dentro da universidade tentar reverter ou tentar mostrar esse papel nefasto que a indústria alimentícia tem com as pessoas”, afirma Thaís.

“Acho que estamos falhando no diálogo com a sociedade, pois nossas ferramentas de marketing não são tão poderosas e apelativas quanto as que nossos colegas da indústria possuem. E o lobby da indústria é muito forte. Em muitos países, não se conseguiu estabelecer claramente alguma rotulagem de alimentos que permita ao consumidor fazer escolhas mais conscientes e, mesmo no Brasil, nós tivemos muitas dificuldades. No caso da propaganda de alimentos para crianças, por exemplo, foi uma luta conseguirmos que não houvesse conexão de personagens animados com alimentos”, completa Dirce.

As três professoras também integram o Grupo de Trabalho “Políticas Públicas de Combate à Insegurança Alimentar e à Fome”, criado pela Reitoria da USP. Um dos resultados alcançados pelo grupo foi a publicação de um e-book sobre o tema, que pode ser acessado neste link.

O USP Analisa é quinzenal e leva ao ar nesta sexta, às 16h45, um pequeno trecho da entrevista, que pode ser acessada na íntegra nas plataformas de podcast Spotify, Apple Podcasts e Google Podcasts.

O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram.

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