Fibra
Em sua origem, o Estudo Fibra é um estudo multicêntrico, multidisciplinar e de base populacional realizado em 17 cidades localizadas nas cinco regiões geográficas do país escolhidas por conveniência.
Nos anos 2008 e 2009, quatro grandes universidades públicas brasileiras se responsabilizaram pelo recrutamento e pela coleta de dados do estudo, que teve um protocolo comum às localidades e protocolos específicos a cada uma delas. O objetivo foi investigar associações entre fragilidade e variáveis demográficas, socioeconômicas, de saúde e psicossociais em idosos brasileiros com 65 anos ou mais. A cidade de Campinas (SP) e o subdistrito de Ermelino Matarazzo em São Paulo (SP), Brasil, integraram o grupo de localidades pertencentes ao polo coordenado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, SP).
No polo Unicamp, participaram da primeira onda de medidas do Estudo Fibra 1.284 idosos (65 anos e mais) residentes em domicílios familiares localizados em setores censitários selecionados por sorteio em Campinas e no subdistrito de Ermelino Matarazzo. Domicílios e pontos de fluxo de idosos das áreas sorteadas de Campinas (90 setores censitários) e Ermelino Matarazzo (62 setores censitários) foram percorridos por duplas de recrutadores treinados (estudantes de Pós-Graduação e Agentes Comunitários de Saúde). Os idosos identificados que cumpriam os critérios de elegibilidade foram convidados pelos recrutadores a comparecer a uma sessão de entrevista e de medidas de saúde, com 60 a 90 minutos de duração, realizada em centros comunitários, escolas, clubes e igrejas, em datas e horários previamente estipulados. Foram convocadas cotas adicionais equivalentes a 25% das amostras estimadas para as duas localidades, para repor perdas.
Foram considerados como critérios de elegibilidade, a idade de 65 anos ou mais, e residência permanente na cidade e no domicílio. Não foram incluídos na amostra, idosos com problemas cognitivos sugestivos de demência, sequelas graves de acidente vascular cerebral, doença de Parkinson em estágio grave ou instável e deficiências auditivas ou visuais graves. Aqueles idosos que estavam restritos ao leito, se encontravam em estado terminal, tinham câncer ou estavam em tratamento quimioterápico também foram excluídos (ver detalhes em publicação prévia16).
A coleta de dados foi dividida em dois blocos. Do primeiro, do qual os 1.284 idosos participaram, constaram variáveis de identificação, sociodemográficas, antropométricas, clínicas (saúde bucal e pressão arterial), de fragilidade e de status cognitivo. Na segunda parte, da qual participaram apenas os idosos que pontuaram acima da nota de corte no teste de rastreio cognitivo (Mini-Exame do Estado Mental – MEEM) aplicado no final da primeira fase (n=991), foram incluídas variáveis de autorrelato de saúde física e mental, capacidade funcional, psicossociais e eventos de vida estressantes. As notas de corte do MEEM foram 17 para os analfabetos e os que nunca foram à escola, 22 para os com 1 a 3 anos de escolaridade, 24 para os com 5 a 8 e 26 para os com 9 ou mais17.
Nos anos de 2016 e 2017, em média nove anos depois da realização da primeira onda de medidas ou linha de base, foi realizada a segunda onda ou seguimento. O recrutamento dos participantes foi feito em domicílio, a partir dos endereços registrados no banco de dados da linha de base. Foram feitas três tentativas de localização para cada idoso. Os idosos localizados foram convidados a participar de uma avaliação de seguimento do Fibra 2008- 2009, por meio de sessão única com duração média de 80 minutos e conduzida por pesquisadores previamente treinados (estudantes de Graduação e Pós-graduação). Foram usados os mesmos critérios de elegibilidade e exclusão da fase anterior. Foi solicitada a presença de um familiar ou outro proxy para mediar a interação entre o entrevistador e os idosos e para responder itens sobre a saúde e a funcionalidade que os idosos tivessem dificuldade de responder. Para os idosos com pontuação inferior a nota de corte do MEEM, a entrevista era realizada com um familiar ou outro proxy.
As variáveis selecionadas para estudo foram: sexo (com as opções masculino e feminino); idade, derivada de pergunta sobre a data de nascimento; morar sozinho (uma pergunta com resposta sim ou não); estado civil (com as alternativas com o cônjuge ou companheiro, solteiro, divorciado e viúvo); alfabetizado (sim ou não); escolaridade com as opções nunca foi à escola, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos e 9 anos ou mais de estudo); chefia familiar (sim e não) e renda familiar (<1,0, 1,1 a 3,0, 3,1 a 5,0 e >5,1 salários-mínimos).
A presença de deficit cognitivo sugestivo de demência foi novamente avaliada utilizando-se o MEEM, com notas de corte ajustadas pelos anos de escolaridade, notas essas obtidas em estudo populacional com idosos brasileiros17.
A fragilidade foi avaliada com base no modelo do fenótipo, operacionalizado por Fried et al.18 em cinco componentes: perda de peso não-intencional nos 12 meses anteriores à entrevista, correspondente a 4,5 kg ou 5% do peso corporal; fadiga indicada por resposta sempre e quase sempre a dois itens escalares sobre fadiga extraídos da escala de depressão do Center for Epidemiologic Studies Depression (CES-D); baixa força de preensão palmar, refletido em um valor em kg força localizado abaixo do 1o quintil da distribuição das médias da amostra relativas a três tentativas consecutivas de apertar a alça de um dinamômetro modelo Jamar, médias essas ajustadas por sexo e por Índice de Massa Corporal (IMC); lentidão da marcha indicada pela média do tempo em segundos despendido para percorrer 4,6 m em linha reta e com passo usual, valor esse localizado acima do percentil 80 da distribuição da amostra, ajustado por sexo e pela altura, e baixo nível de atividade física indicado por gasto calórico semanal inferior ao valor do 1o quintil da distribuição das unidades metabólicas despendidas pelos idosos na prática semanal acumulada de atividades domésticas e de exercícios físicos de intensidade leve, moderada e vigorosa, conforme respostas a itens selecionados do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire19. Pontuaram para baixo nível de atividade física os idosos cujo o cálculo dos equivalentes metabólicos (METs) situava-se abaixo do 1º quintil da amostra, corrigido por sexo. Os procedimentos, os critérios, as notas de corte e as variáveis de ajuste adotados foram os descritos por Fried et al.18.
Para os idosos que pontuaram abaixo da nota de corte no MEEM, o fenótipo de fragilidade foi determinado por meio de escala válida20 correspondente ao modelo de Fried et al.18, com seis itens respondidos pelos proxies. Os participantes que pontuaram para um ou dois critérios foram classificados como pré-frágeis; os que pontuaram para três ou mais como frágeis, e os que não pontuaram para nenhum como não-frágeis ou robustos.
Os princípios éticos que fundamentam a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (nº 466/2012) foram obedecidos. Na linha de base e no seguimento, os participantes assinaram Termos de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto do estudo de 2008- 2009 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas mediante os pareceres de no 208/2007 e 907.575. O projeto para o estudo de seguimento foi aprovado mediante os pareceres no 1.332.651 e no 2.952.507.
As frequências relativas das variáveis sociodemográficas, do status cognitivo e do status de fragilidade foram calculadas e estão apresentadas de acordo com a condição dos participantes na linha de base e no seguimento (reentrevistados, falecidos ou perdidos). A significância estatística das diferenças entre as quantidades de idosos encontradas nas análises intergrupos foram analisadas por meio do teste qui-quadrado de Pearson; as observadas entre os resultados da linha de base e do seguimento por meio do teste de McNemar. Em ambas as análises foram consideradas as mesmas variáveis sociodemográficas como de interesse para o estudo. O nível de significância das diferenças foi estabelecido em p<0,05 para ambos os testes.