Corre que já vai começar

Texto: Alinne Aguiar

Era sempre a mesma cena: a TV ligada no horário certo, o sofá ocupado em posições estratégicas, e uma espera silenciosa que só terminava quando o som da abertura começava. “O que será que vai acontecer hoje?” Era a pergunta que rodava na minha cabeça, mesmo já imaginando que o mocinho ia escapar, a vilã ia tramar, e o final feliz estava garantido.

Hoje, as coisas parecem diferentes. As novelas atuais já não carregam o mesmo encanto — e nem o mesmo público. As tramas, que antes reuniam famílias inteiras em frente à TV, agora parecem lutar para se manterem relevantes em um mundo onde tudo é rápido, descartável e à distância de um clique.

Será que as novelas mudaram tanto assim, ou fui eu quem mudei? Porque, olhando para trás, tudo parecia melhor. As histórias eram bem escritas, os atores, mais carismáticos, e os finais, inesquecíveis. Como não lembrar daquele último capítulo em que a vilã se redime com a mocinha depois de ter aprontado tantas maldades?  Ou do reencontro do casal separado pela trama.

Hoje, confesso, não sei bem o que acontece. Tudo parece apressado demais. Talvez seja a vida, que agora deixa pouco espaço para a pausa no sofá. Talvez seja a internet, que se apressa em me contar o final antes mesmo do capítulo começar. As novelas de hoje parecem ter perdido o tempo de respirar, como se tudo precisasse ser entregue mastigado, sem espaço para o telespectador imaginar ou sentir.

No fundo, o que sinto mesmo é saudade. As novelas eram um mundo à parte, um território onde fantasia e realidade se misturavam com leveza. Era o lugar onde eu brincava e sonhava ao mesmo tempo. Mais do que histórias, elas eram a certeza de que o dia, por mais corrido ou difícil que fosse, terminaria com o som familiar de alguém gritando: “Corre, que a novela já vai começar!“.