Há dez anos, em uma terça-feira mais do que especial, dia oito de julho de 2014, seria aquele, um dia que poderia comemorar duas grandes ocasiões: o aniversário de minha tia e, na minha cabeça na época, a clara classificação do Brasil à final da Copa do Mundo que estava sendo sediada em nosso país.
Sempre tive dificuldade de quantificar o tempo, afinal operações e contas não refletem minha escolha pelo jornalismo. Mas consigo sentir o tempo voar sem precisar recorrer à calculadora. A matemática simples de 2000 + X é minha maior aliada para buscar no fundo da memória que ano nasceu o primo João e faleceu a tia Maria. Até o dia que perdi a conta.
5, 4, 3, 2, 1… Feliz Ano Novo! Mas, dessa vez, a virada para os 366 dias que viriam carregava um peso amargo de incerteza. A escola — meu maior parâmetro até então — havia acabado e os resultados dos tão sofridos vestibulares estavam por vir. Faltava algo certo ao qual eu pudesse me segurar.
Desde pequenos, aprendemos a dar valor a coisas que ainda não podemos tocar. Eu lembro dos adesivos novos no caderno do começo do ano escolar. Cada um deles era escolhido com cuidado, brilhando com personagens e cores, como se carregasse a promessa de um ano inteiro de aventuras. Era só abrir o caderno, olhar para aquele adesivo tão bonito e pronto: eu travava.
Como um amante do futebol, sempre busco assistir o maior número possível de partidas. Mesmo sem ser do meu time, acompanho diversos embates no cenário sul-americano, principalmente quando se trata da maior competição entre clubes do continente: a Libertadores da América.
A Nürburgring Nordschleife é uma pista de corrida permanente na Alemanha. Você deve ter ouvido falar se já jogou algum Gran Turismo ou é fã de automobilismo. Um dos circuitos mais famosos internacionalmente, conta hoje com 22 quilômetros de extensão, sendo o maior do mundo. Com 22 quilômetros você poderia ir, por exemplo, de San Diego, na Califórnia, até o centro de Tijuana, no México. Eu levo 37 quilômetros da minha casa para o trabalho. São Paulo é imensa, a maior cidade do hemisfério sul.
Nesse exato momento me encontro sentado tentando escrever uma crônica de última hora. Abro diferentes textos no meu bloco de notas, leio as crônicas dos meus colegas e tento acompanhar as recomendações que o professor passou em aula “Façam algo de interesse público, baseado na vida real”. Por que será que eu esperei até o último minuto para fazer o meu texto? Não podia ter feito isso antes?
Há uns dias, soube de uma desistência. Sim, uma desistência. Anunciada, inclusive, em alto e bom som, sem aviso prévio. Meu protesto em relação a ela foi imediato, se deu logo depois da última sílaba do pronunciamento. Não podia ser! Onde já se viu!? Nem pensar! É uma decisão tomada no calor do momento. Afinal de contas, não se pode deixar o samba morrer ou acabar – é preciso que o show continue. Precisamos nos levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Desistir? Não! Tentar outra vez.
