Das pequenas "furtunas"
Texto: Luana Mendes
Sempre tive dificuldade de quantificar o tempo, afinal operações e contas não refletem minha escolha pelo jornalismo. Mas consigo sentir o tempo voar sem precisar recorrer à calculadora. A matemática simples de 2000 + X é minha maior aliada para buscar no fundo da memória que ano nasceu o primo João e faleceu a tia Maria. Até o dia que perdi a conta.
Não admito a ninguém, como diria meu avô “os Furtunatos são orgulhosos demais para admitir”, mas esqueci algumas datas importantes. Isso mesmo, furtunato com “u”. Às vezes pequenos detalhes escondem uma fortuna de história. Bira é o meu avô. Ubirajara Furtunato contava que seu nome era para atrair sorte. Achava que os “u” eram mentira até ver a certidão de nascimento.
Conto isso, porque antes pensava que a maior ¨furtuna¨ que teria na vida seria o dinheiro. Rios, milhares. Milhares não, milhões. Construiria palácios enormes, traria a praia para Minas, seria eleita presidente e todo dia o almoço teria coca-cola. Isso ficou para a Luana de 10 anos.
Aos 18, vejo que a cada dia fico um pouco mais pobre. De dinheiro, sim, mas de tempo principalmente.
O tempo quantificado, aquele ordenado pelo relógio, no qual um minuto é igual ao outro, passa a todo instante. Talvez mal saiba, mas esteja tão próxima do fim quanto do começo.
Como, se acabei de começar ?
Ubirajara respira e inspira aos 79 anos. Já eu tenho problemas respiratórios desde nova, mas a primeira respiração a que tudo indica foi em 2006. O engraçado é que posso nunca respirar tanto quanto os pulmões de Bira. Ou posso inalar a poluição de São Paulo e me tornar a próxima ¨Drauzia Varella¨. Acho que estou distante desse, como disse, escolhi o jornalismo.
Talvez, esteja tão enganada e descubra no futuro que a verdadeira ¨furtuna¨ são os bitcoins, quem sabe ? Mas até lá prefiro imaginar que talvez cada segundo seja muito valioso, muito mesmo. Quero aproveitar cada minuto com meus amigos, cada hora com minha família, cada dia em que descanso, cada ano que passa, cada década que envelheço. Sabe lá qual vai ser meu último respiro. Não posso brincar com a sorte, afinal, não tenho Furtunato no nome.