– Quando eu morava na Bahia…

E lá meus pais vão relembrando o passado. É engraçado como um encontro de família nas férias sempre resulta em trazer memórias à vida. Não que eu me importe, é claro, às vezes tem umas histórias divertidas.

E a criação deles foi bastante diferente da minha. Meus pais vieram do interior da Bahia para São Paulo ainda novos, em busca de oportunidades melhores. Ainda assim, eles sempre conversam sobre as mesmas histórias e reagem como se fosse a primeira vez que as mencionam. A lembrança de ir ao rio lavar roupa, de comer apenas feijão com farinha…

Permaneço quieta, apenas escutando quando contam as dificuldades que passaram.

– Tinha que andar na estrada de terra até a escola. – minha mãe comenta.

– Desde novo, saía para vender geladinho pela rua e ai de mim se voltava para casa com algum sobrando! – exclama meu pai, seguido por sons de concordância dos demais.

Bem, as coisas realmente mudaram, mas nem tanto. Me questiono se sentem saudades de suas antigas vidas. 

Há uma estante bem atrás de onde estou sentada. O álbum de fotografias está ali guardado. Dou poucos minutos para resolverem pegá-lo também. O folheio enquanto suas vozes ainda ecoam ao fundo com novas narrativas. 

Além das falas da minha família, muitas histórias são transmitidas em fotografias também. Acho legal completar os dois assim e imaginar como realmente era o dia a dia deles. O quão diferente ou igual conseguia ser. O quão real suas histórias são transmitidas.

A maioria das imagens é na natureza. Eles na roça. Eles com cavalo. Eles no rio. Longe do caos de São Paulo.

Será que eles sentem falta? Voltariam para lá?

Bem, não tenho certeza. Eles falam tanto da vida na Bahia, mas poucos voltam lá para visitar.