No coração da floresta: uma experiência na Reserva Extrativista Cazumbá- Iracema

Texto: Lara Cáfaro

Era julho, e eu estava no aeroporto, com o coração inquieto, ansiosa pelo que o desconhecido me traria. Embarquei na capital paulista com destino às terras amazônicas, rumo ao Acre, um lugar que sempre pareceu distante, uma parte esquecida do bioma amazônico.

Quando pisei em Rio Branco, senti o calor me envolver por completo. Era surreal sair do frio para um calor de quase 40°C. Minhas amigas Clarissa, Kateryne e Mariane estavam ao meu lado, todas com o mesmo brilho nos olhos. Estávamos prestes a explorar uma realidade tão diferente da nossa, a descobrir novas formas de viver e sentir.

Na manhã seguinte, seguimos para nosso destino mais esperado: a Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema, uma imensidão de 750 mil hectares que abriga cerca de 400 famílias. Ali, eles vivem do que a natureza oferece, extraindo castanhas, pescando, criando artesanatos e cultivando a terra. Senti como se estivesse adentrando um mundo à parte, um lugar onde o tempo tem outro ritmo, onde cada som e cada cor pareciam mais intensos.

O ar da reserva era diferente. Respirá-lo era como sentir a floresta entrar em mim, me preenchendo de vida. E o céu? Um azul profundo, de uma beleza quase sobrenatural, que parecia ter saído de uma paleta inédita de cores.

Fomos recebidas de forma generosa por cada pessoa que cruzava nosso caminho. Não precisavam ser tão receptivos, mas eram. E foi assim que conhecemos Seu Nenzinho, com sua sabedoria serena, um homem que lutou ao lado de Chico Mendes para defender a floresta e seu povo. Ouvir sua história, repleta de coragem e resistência, foi como tocar o coração da Amazônia. Ali, me dei conta de que poucos brasileiros percebem a preciosidade que temos tão perto de nós: a maior floresta tropical do mundo.

Tia Noi, com seu sorriso acolhedor, cuidou de nós no alojamento com carinho, preparou comidas que lembravam o gosto de casa. Seu marido, Nonato, nos levou pela floresta, e vê-lo caminhando entre as árvores, agradecendo a Deus pela vida, era como observar uma prece em movimento. A  gratidão com que eles viviam me ensinaram a olhar o mundo de outra forma, com mais amor e gratidão por cada instante.

Nossa missão era registrar tudo aquilo em fotos e palavras, e confesso que temi que as pessoas se sentissem intimidadas. Pelo contrário, elas se entregaram com uma generosidade que jamais esperava, compartilharam histórias e memórias, responderam a cada pergunta com uma paciência infinita. Muitas vezes, enquanto conversávamos, nem percebiam que estavam sendo fotografadas, compondo cenas de uma beleza tão pura que pareciam capturadas pela própria alma da floresta.