O universo da resenha televisiva
Jornalista Cristina Padiglione explora os elementos do gênero jornalístico em que se especializou
Foto: Reprodução/Gazeta de Pinheiros
Texto: Alinne Maria Aguiar, Isabella Lopes, Isabella Zanelli, Maria Clara Ramos e Nicoly Modesto
No dia 30 de Outubro, no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) foi realizada uma coletiva com a jornalista Cristina Padiglione, focada nos gêneros jornalísticos de resenha e análises.
A coletiva de imprensa faz parte da série de entrevistas e reportagens com convidadas que discutem conceitos e gêneros jornalísticos. Com vasta experiência na cobertura da televisão desde 1991, Padiglione já integrou a equipe da coluna de TV na Folha da Tarde ao lado de grandes jornalistas, como Ferreira Neto.
Posteriormente, continuou a escrever sobre o meio através da sua própria coluna chamada Zapping, na qual escreveu reportagens do núcleo de novelas e TV até 2021, com o fim do Jornal Agora. Além disso, foi editora-chefe da revista de celebridades Chiques & Famosos, passou por jornais como Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo, e assinou para o blog Telepadi.
Em entrevista, Padiglione conta como nunca deixou de escrever sobre televisão e novelas, sempre dando destaque maior para os conteúdos das obras e não para a vida pessoal dos atores e profissionais, compondo assim uma análise do material disponível de forma factual, mas ainda contendo sua opinião e estudo.
Foto: Reprodução/Telepadi
O que é resenha?
Durante a coletiva, Padiglione destacou a importância do gênero resenha no jornalismo cultural. Segundo o jornalista e pesquisador José Marques de Melo, “o gênero jornalístico que se convencionou chamar de resenha corresponde a uma apreciação das obras de arte ou dos produtos culturais, com a finalidade de orientar a ação dos fruidores ou consumidores”. Dessa forma, quem faz esse tipo de texto analisa de maneira crítica e comenta a forma artística escolhida, por meio de argumentos que fortaleçam o ponto de vista defendido, de forma a orientar o comportamento do público. Peças de teatro, novelas, filmes, exposições e livros são algumas das modalidades culturais avaliadas por resenhistas.
“Você tem que apresentar algo que o leitor não tenha visto. Eu acho que esse é o valor, não falar o óbvio”, explicou Padiglione. Para a jornalista, é essencial para quem deseja resenhar ter conhecimento sobre o produto analisado, sua história e o público que o consome. Além disso, a experiência com a escrita informativa — aquela que transmite informação — é necessária para que se insira no jornalismo opinativo: “Eu não cheguei fazendo resenha com dois anos de profissão. É preciso mergulhar um pouco nesse universo [o jornalismo]”, completa.
Resenha Televisiva
A resenha televisiva, foco do trabalho da jornalista Cristina Padiglione, é um formato de crítica voltado a produções de televisão, como novelas, séries, reality shows e programas de auditório. Esse tipo de resenha oferece uma análise aprofundada da obra por meio da exploração de elementos como roteiro, direção, desenvolvimento de personagens e recepção do público. Padiglione é uma das maiores referências neste campo.
Em entrevista coletiva, a jornalista comentou que sempre preferiu adotar uma abordagem crítica à televisão, em vez de seguir o caminho da fofoca: “É possível avaliar a televisão pelo conteúdo”, destacou. Para ela, uma boa resenha deve incluir o contexto de produção da obra analisada, apresentando ao leitor os fatores que determinam se uma produção pode ser considerada bem-sucedida ou não. “Acho que tudo tem que ser traçado, isso faz parte da informação e da resenha”, concluiu.
“Você tem que apresentar algo que o leitor não tenha visto. Eu acho que esse é o valor, não falar o óbvio”, explicou Padiglione. Para a jornalista, é essencial para quem deseja resenhar ter conhecimento sobre o produto analisado, sua história e o público que o consome. Além disso, a experiência com a escrita informativa — aquela que transmite informação — é necessária para que se insira no jornalismo opinativo: “Eu não cheguei fazendo resenha com dois anos de profissão. É preciso mergulhar um pouco nesse universo [o jornalismo]”, completa.
Foto: Arquivo pessoal/Henrique Giacomin
A opinião na resenha
As resenhas desempenham um papel crucial na formação das expectativas do público e na disseminação de ideias sobre produções culturais. A opinião do crítico, no entanto, é uma faca de dois gumes: por um lado, ela pode ajudar o leitor a decidir o que consumir, mas, por outro, pode ser influenciada por fatores que distorcem a percepção da obra analisada.
Embora a opinião nas resenhas também se baseie na análise de aspectos técnicos, como roteiro ou interpretação, ela sempre será permeada pela subjetividade. Padiglione diz que quando você escolhe destacar algo, acaba mostrando um pouco da sua opinião e da sua análise sobre aquilo. “Uma hora você tem que começar a arriscar e dar esses pitacos, de preferência com conhecimento muito vasto sobre aquilo que você está analisando, isso sempre foi uma coisa que eu defendi”.
O gosto pessoal do crítico, suas experiências de vida e até seu estado emocional no momento da análise podem impactar a forma como ele interpreta algo. Em muitos casos, isso pode resultar em uma avaliação mais positiva ou negativa, dependendo do que o crítico valoriza mais em uma produção.
A grande questão das resenhas, portanto, está no equilíbrio de uma avaliação que combine honestidade, contexto e reflexão crítica. Dessa forma, o leitor pode usar a opinião do crítico como uma ferramenta para ampliar sua própria perspectiva sobre a obra.
O interesse do público
Para Cristina Padiglione, o Youtube é atualmente o principal concorrente das emissoras da rede aberta de televisão, como a TV Globo, na disputa pela audiência. Nos últimos anos, a plataforma, assim como as produções da Netflix e da Prime Video, tem conquistado cada vez mais as telas dos brasileiros. Apesar do crescimento dos streamings, a jornalista ainda aponta a telenovela como uma grande força do entretenimento brasileiro: “Não existe uma plateia maior que uma plateia de uma novela das 21h”.
Por ser popular e acessível, a novela é um assunto que gera debates entre os brasileiros. Embora os leitores nem sempre concordem com o ponto de vista do resenhista, Padiglione afirma perceber que o público tem certo respeito pela autoridade atribuída ao crítico.
Assim como o futebol, todo mundo acha que entende de novela, mas as
pessoas gostam de ouvir alguém que entende do assunto falando sobre”
A jornalista também posicionou-se sobre a importância de considerar contextos ao escrever uma resenha televisiva. “Isso tem que fazer parte da resenha: qual história eu estou contando e para quem”. Veículos e plataformas diferentes apresentam audiências que diferem em tamanho e perfil. Produtores de conteúdos que vão ao ar na TV aberta apresentam maior resistência a abordar temas considerados tabus, como o sexo, as drogas e a violência explícita, enquanto nas produções para o streaming, esses assuntos são menos estigmatizados, por exemplo. Ao opinar sobre uma obra, é relevante considerar o público que se interessa pela produção abordada e em quais condições ela foi escrita e exibida.
