"Vamo marcar alguma coisa!"

Texto: Isadora Batista

Infelizmente – ou felizmente -, conexões humanas são únicas e as pessoas também. 

Durante nosso tempo na escola, temos o dilema de quem é amigo e quem é colega, em quem devemos confiar e com quem devemos apenas andar junto. Sobre isso, eu sempre tive noção plena de com quem eu realmente poderia contar, sempre soube quem eram minhas amigas e com quem queria fazer trabalho. 

Com onze anos de idade, ganhei uma bolsa de estudos em uma escola particular e fiquei quatro bons anos lá. Conheci muitas pessoas, me inspirei em professoras e descobri a profissão dos meus sonhos. No nono ano, em 2020, veio a pandemia da COVID-19 e tudo mudou. Quando percebi, já era final do ano e minha jornada naquela escola havia acabado, sem formatura, sem despedidas, apenas o desligamento do Microsoft Teams. O próximo passo era o Ensino Médio e o medo tomou conta de mim, medo por não saber para onde ir e medo de não ter mais os mesmos amigos todos os dias. 

A vida consegue surpreender de diversas maneiras. Depois de finalizar o ensino fundamental de forma conturbada, eu passei na visada e elogiada Etec, onde conheci quatro meninas admiráveis. Sim, quatro. Para quem carregava a ansiedade do novo, as novidades não poderiam ter sido melhores. 

Durante todo o meu ensino médio, andei com essas mesmas meninas. Não apenas andei, como também construí um laço que vai muito além da amizade escolar, aquela conexão que vale a pena preservar para o resto da vida, sabe? 

Porém, como tudo tem um fim, a nossa formatura chegou e, as meninas com as quais dividi todos os dias dos meus últimos três anos já não estariam no mesmo ambiente cotidiano que eu. 

O grupo se dissipou e cada uma foi para um curso, uma universidade, uma cidade. Fatalmente, no meu curso, na minha universidade e na minha cidade, eu não as encontrei.

Agora, a amizade não se pauta mais em acordar cedo e ir para a escola, mas sim, em uma relação de admiração à distância e preservação do sentimento no coração. O grupo de Whatsapp já não recebe tantas mensagens de fofocas, mas a mesma chamada anual: “Vamos marcar alguma coisa!”.