Victoria Damasceno: da ECA-USP
para a Folha de S.Paulo
Com uma trajetória acadêmica e profissional brilhante, a jornalista retorna à sala de aula para compartilhar suas experiências com novos estudantes da área.

Foto: Arquivo Pessoal/Henrique Giacomin
Texto: Ana Santos, Larissa Bilak, Luiza Gabriela e Maria Luiza Vieira
Victoria Damasceno é jornalista formada pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e hoje atua como editora das áreas de Saúde e Todas na Folha de S.Paulo. Em entrevista ao JorGe, ela apresenta textos jornalísticos marcantes, descreve sua trajetória como repórter e editora e conta de que forma sua carreira impactou – e impacta – sua vida. Além disso, a jornalista realiza, ao final da entrevista, uma breve análise do cenário jornalístico atual.
A trajetória de Damasceno teve início em 2015, quando ingressou na Universidade de São Paulo. Recém-ingressa, passou a fazer parte da Jornalismo Júnior, empresa júnior de jornalismo da ECA.. Além de aproveitar essa oportunidade, Victoria também abraçou outras experiências oferecidas pela faculdade: participou da atlética; realizou um intercâmbio voltado à pesquisa na faculdade de Howard, nos Estados Unidos; e desfrutou da Prainha, um espaço do campus voltado à convivência dos estudantes ecanos.
No âmbito profissional, Damasceno também tem experiências variadas. Além de freelancer, trabalhou na CartaCapital, no UOL e na Globo, onde produziu reportagens para os telejornais SP1 e SP2 e para o Fantástico. Ainda como repórter, chegou à Folha de S.Paulo, veículo em que está até hoje, já na posição de editora.. Ao longo de sua carreira, Victoria cobriu eventos de grande alcance como as eleições municipais e a Copa do Mundo de 2022, sediada no Catar.

Foto: Reprodução/Instagram
A entrevista
A entrevista de Damasceno ao JorGe seguiu uma abordagem interativa, como em uma palestra. A jornalista investiu na interação com os alunos a partir de diversos textos demonstrativos e convidou a turma a explorarem diferentes gêneros jornalísticos.
Passando por categorias como reportagem, crônica, entrevista e análise, a editora da Folha exemplificou maneiras diferentes de escrever um mesmo tipo jornalístico e destaca a importância de se realizar, o quanto antes, projetos e estágios, a fim de praticar as várias modalidades de escrita. Ela também reforça a dificuldade de se elaborar determinados textos devido às suas características.
Tornando o momento ainda mais valioso para a turma, Damasceno também contou um pouco de sua experiência como mulher negra no jornalismo e de como isso impacta seu trabalho.
Os gêneros jornalísticos
Sobre o gênero reportagem, Victoria frisa que a construção do relato é feita por meio de dados verdadeiros, então, ao direcionar uma narrativa acusatória a alguém, isso deve ter um embasamento. Já ao escrever sobre a cultura de outro país, o jornalista deve adotar uma abordagem descritiva, de modo que o leitor conheça mais sobre o local.
Já o gênero perfil foca em uma figura considerada relevante para o público, buscando detalhes que as pessoas não saibam. “Não é fácil escolher se você vai ou não fazer um perfil”, comenta Vitória.
A entrevista ping pong apresenta os mesmos requisitos que o perfil, priorizando a relevância para o leitor. Um diferencial desse gênero é a fidedignidade das falas, que ajuda em situações nas quais o repórter precisa que as informações sejam atreladas ao entrevistado.
No gênero análise, o repórter escreve suas considerações sobre um assunto se baseando, é claro, em dados e informações confiáveis. “No artigo de opinião é a sua opinião que importa. A análise parte do factual”, explica ao diferenciar os gêneros análise e opinião.
Existem valores inegociáveis
Ao longo de suas explicações a respeito dos gêneros jornalísticos, Victoria discorre sobre sua jornada como jornalista e sobre as pautas que costuma abordar em seus textos.
Com uma carreira jornalística consolidada, Victória Damasceno escreve sobre temas relacionados aos direitos humanos, questões raciais e de gênero. A jornalista afirma que, como mulher negra, as vivências pessoais delineiam a forma com que exerce o jornalismo.
“Não existe imparcialidade. Mas eu, particularmente, sou defensora da ideia de isenção. Você não precisa ser sempre parcial, mas em alguns tipos de relatos, você consegue ser isento. Ao mesmo tempo, existem valores que não são negociáveis. Eu sou uma mulher negra. O racismo é algo que permeia a minha vida, então é uma questão inegociável para mim”.
Na opinião de Damasceno, é fundamental que os jornais tenham um olhar atento para a diversidade racial, regional e de gênero dentro das redações: “isso vai criar um cenário mais próximo do que a gente tem enquanto sociedade. É importante que seja assim”, evidencia a jornalista.
O jornalismo na atualidade
No atual cenário vivenciado pelos profissionais, é comum que surjam questionamentos relacionados ao futuro dos jornalistas. Para Victória Damasceno, existe uma crise no modelo de negócios que precisa ser examinada. “Uma questão muito difícil é que a notícia virou uma ‘commodity’, no sentido de que você precisa publicar um volume muito grande, mas com um financiamento muito baixo”, resume a profissional.
Apesar da realidade e dos desafios vivenciados na profissão, Damasceno compreende que os jornalistas cumprem, com certa maestria, um importante dever social.