Pesquisa
A Ecologia Histórica no Vale de Lambayeque, Peru
Ecologia histórica no Vale do Lambayeque, Norte do Peru: subsistência, mobilidade e resiliência do período formativo ao tardio.
Tipo de pesquisa: Auxílio à pesquisa FAPESP (Processo 16/15583-0)
Pesquisadores Associados: Prof. André Strauss, Dr. Rodrigo Elias de Oliveira, Profa. Marcia Arcuri, Prof. Walter Neves, Diego Bitencourt
Pesquisadores Associados Exterior: Prof. Walter Alva, Prof. Ignácio Alva, Prof. Edgar Brancaleoni
A região cultural dos andes centrais é definida pela extensão territorial de controle e influência do antigo império Inca: ao sul, o deserto de Atacama – no noroeste da argentina e no norte do Chile -, passando pela Bolívia, Peru e Equador, e terminando ao norte, no extremo sul da Colômbia. No eixo leste-oeste, quatro grandes zonas ecogeográficas – costa, serra, montanha e selva alta – parecem, de uma maneira geral, convergir características geográficas, históricas e ecológicas que influenciaram as formas de ocupação do território pelas sociedades andinas. Embora as feições geográficas e ambientais dos Andes sejam mencionadas por todos os grandes pesquisadores como necessárias à compreensão das relações socioecológicas da região, a evolução histórica dessas interações sempre se mostrou problemática. Um primeiro fator limitante está no fato de que grande parte das informações disponíveis na historiografia sobre o período pré-colombiano é legado da tradição oral ou de observações registradas pelas crônicas coloniais dos séculos XVI e XVII. O viés colonial europeu criado por esses primeiros testemunhos influenciou profundamente a maneira de ver as sociedades andinas. Foi só na virada do século XX e XIX, que arqueologia começou a acrescentar dados de outra natureza. Devido a enorme quantidade de material cerâmico, as cronologias criadas eram altamente dependentes de técnicas de seriação cerâmica, associação estilísticas e análise de iconografia. Os estudos exclusivamente focados em conjuntos cerâmicos e monumentos arquitetônicos foram colocados em cheque quando, sobretudo a partir dos anos 1980, a intensificação das pesquisas arqueológicas ampliou a gama de abordagens e referenciais teóricos disponíveis. Este movimento surgiu da crítica à vertente histórico-culturalista, principal responsável pela construção de narrativas pautadas quase exclusivamente em dados descontextualizados. As pesquisas arqueológicas com foco no período de desenvolvimento dos estados regionais na costa norte do Peru vêm apresentando particularidades, que trazem novos desafios à investigação científica e podem levar a uma revisão profunda dos na compreensão dos processos históricos e social na região Andina.
Nos últimos trinta anos, a constatação de maior variabilidade entre os “estilos cerâmicos” provenientes dos vales que integram as porções setentrionais da região Moche – quando comparados aos conjuntos artefatuais provenientes de sua porção meridional – tem levado especialistas a questionarem a antiga narrativa arqueológica proposta por Larco Hoyle sobre a expansão moche para o norte, no vale de Lambayeque, cujas principais expressões estariam nas mãos das elites de Sipán e Pampa Grande. Em consonância com as tendências da arqueologia andina em geral, os estudos da costa norte do Peru vêm buscando a ampliação de uma base de dados que permita inferir os processos de emergência de complexidade nas suas dimensões políticas, socioculturais e ecológicas, que por sua vez caracterizaram as ocupações desse território. Nesse panorama de pesquisa, é importante ressaltar que a região de Lambayeque concentra contextos ímpares para as investigações arqueológicas, com a presença abundante de sítios em que foram identificadas longas sequências estratigráficas. Por sua vez, estas têm evidenciado a grande biodiversidade presente na região podendo, desta forma, contribuir ineditamente ao debate científico sobre a Ecologia Histórica e a Arqueologia da Costa Norte Peruana. Tendo em vista os cenários históricos, fica evidente que a investigação sobre a dieta e a subsistência pré-hispânica no vale de Lambayque deve ser orientada à obtenção de dados que permitam identificar primariamente a composição, origem e localidade dos alimentos. Somado a isso, é premente o aumento de datações absolutas de forma a refinar a cronologia cultural local e sua associação com mudanças de captação de recursos locais e regionais.