Linha de Pesquisa
Cronobiologia é o estudo da organização temporal dos seres vivos, a qual se manifesta por meio de ritmos biológicos, sincronizados por ciclos ambientais terrestres. O ciclo claro/escuro da Terra constitui o principal sincronizador dos ritmos com períodos de 24h, para a maioria das espécies.
A sede Argentina do Laboratório de Cronobiologia Binacional está localizada no meio do Deserto do Monte, em pleno habitat natural dos tuco-tucos. O ambiente subterrâneo que habitam representa um ambiente extremo onde não há luz e a temperatura varia menos do que na superfície, sendo ideal para se explorar a persistência ou não de ritmos biológicos e sua sincronização pelos ciclos ambientais.
Em LABORATÓRIO, temos um ambiente controlado (iluminação, temperatura, alimento, etc..) que permite estudos sistemáticos dos mecanismos biológicos. Realizamos diversos experimentos nas escalas diárias e anuais, para estudarmos ritmos no comportamento (Yassumoto et al., 2019), no dispêndio energético (Tachinardi et al., 2015), na alimentação e na temperatura interna (Tachinardi et al., 2014). Para entendermos os mecanismos de sincronização ao ciclo dia-noite de 24 horas (Flôres et al., 2012; 2016) assim como a sincronização às estações do ano por meio da medida do fotoperiodo (Flôres e Oda, 2020; Improta 2020), manipulamos as condições de iluminação em seus diversos parâmetros.
Em ARENAS SEMI-NATURAIS os tuco-tucos podem expressar comportamentos típicos de sua vida natural como escavação, forrageio e alerta contra predadores (Tomotani et al., 2012; Flôres et al., 2016; Jannetti et al., 2019). Utilizamos três micro-sensores: um sensor de luz e um acelerômetro ligados a um colar, e um sensor intra-abdominal. Assim, registramos os ritmos de saída à superfície, atividade no subterrâneo e de temperatura corporal, respectivamente. Esses registros têm mostrado que os tuco-tucos são diurnos nas arenas ou seja, ao contrário do laboratório, estão ativos principalmente durante o dia (Jannetti et al., 2019). As condições ambientais são registradas continuamente em estações próximas das arenas, permitindo estabelecer sua influência na expressão rítmica destes roedores subterrâneos (Tachinardi et al., 2017).
Em VIDA-LIVRE estudamos o comportamento do tuco-tuco em seu ambiente natural com toda sua complexidade, minimizando interferências externas. Este sempre foi a grande meta do grupo tendo superado diversos desafios tecnológicos para atingir esse estágio. Os primeiros registros confirmaram definitivamente que os tuco-tucos são diurnos na natureza. Além de registrarmos os ritmos já mencionados, medimos também ritmos sazonais de hormônios em fezes de animais recém-capturados, em parceria com o laboratório de dosagens hormonais da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. Medidas morfométricas têm permitido verificar que a reprodução dos tuco-tucos subterrâneos apresenta sazonalidade. O estresse, estado energético e reprodutivo podem alterar os padrões do ritmo diário e, com as medidas hormonais, pretendemos verificar se esses fatores explicam as mudanças que observamos nos tuco-tucos.
Utilizamos MODELAGEM MATEMÁTICA para entendermos diversos fenômenos associados à sincronização do relógio circadiano e fotoperiodismo dos tuco-tucos em condições naturais.
São várias as perguntas que temos investigado e vamos seguindo nossos trabalhos, comparando parâmetros dos ritmos no laboratório, arena e vida livre, relacionando com resultados das modelagens e formando assim um conjunto integrado de registros e experimentos. Finalmente, acreditamos que a nossa colaboração internacional entre Argentina e Brasil é um exemplo muito exitoso e rico de como as colaborações entre países da América do Sul podem unir esforços na construção de linhas de pesquisa originais.
Brasil: