A síndrome de Ménière é uma patologia crônica degenerativa da orelha interna, descrita primeiramente pelo médico francês Prosper Ménière em 1861, e caracterizada clinicamente por uma tétrade sintomática:
1) ataques de vertigem;
2) perda auditiva sensórioneural flutuante;
3) tinnitus na orelha afetada;
4) plenitude aural na orelha afetada.
Em meados do século XIX, praticamente todos os pacientes que experimentavam sensações de tontura e/ou vertigem recebiam o diagnóstico de “congestão cerebral aplopectiforme”, e a própria relação entre vertigem e doenças da orelha interna era pouco conhecida. Prosper Ménière teve a engenhosidade de estabelecer e apontar a orelha interna como o sítio de lesão em diversos pacientes que compartilhavam distúrbios auditivos e vertiginosos, sendo que muito dessa observação veio por meio dos estudos com pombos de Flourens, concluindo-se a relação entre a ablação dos canais semicirculares e o equilíbrio das cobaias.
Quadro Clínico:
Classicamente, os pacientes portadores de síndrome de Ménière apresentam a tétrade sintomática composta pelos ataques espontâneos e recorrentes de vertigem, a perda auditiva flutuante e a plenitude aural na orelha afetada. Os
ataques vertiginosos têm por critérios diagnósticos uma duração entre 20 minutos e 12 horas, sendo que, na maioria das vezes, os pacientes relatam os terem com uma duração média de 2-3 horas. A vertigem é intensa, e geralmente acompanhada de sintomas vagais como náuseas, vômitos, sudorese, taquicardia e aumentos da pressão arterial. Exatamente pelos sintomas serem tão intensos e desconfortáveis, a maioria dos pacientes acaba por procurar assistência médica em serviços de urgência e emergência. Especialmente nos atendimentos de pronto-socorro, a síndrome de Ménière pode ser facilmente confundida com outras patologias labirínticas, como a hipofunção vestibular unilateral aguda (neuronite vestibular), a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), as labirintites infecciosas, as fístulas labirínticas e até com patologias de origem central, como os acidentes vasculares cerebrais de fossa posterior e a própria migrânia vestibular.
Quanto mais grave a crise, mais proeminentes são as manifestações autonômicas. Ocorre perda auditiva flutuante, com um retorno ao normal depois da resolução do episódio. Inicialmente, os sintomas tendem a ser unilaterais e resultam em nistagmo rotatório, causado por um desequilíbrio no controle vestibular dos movimentos oculares. Como o envolvimento inicial é, por vezes, unilateral e o sentido da audição é bilateral, muitas pessoas com o distúrbio não têm consciência de toda a extensão de sua perda auditiva.
Etiopatogenia:
A lesão primária parece se localizar no saco endolinfático, que se acredita ser a porção responsável pela filtração e excreção da endolinfa. Tem sido postulado um grande número de mecanismos patogenéticos, incluindo um aumento da produção de endolinfa; diminuição da produção de perilinfa, acompanhada por um aumento compensatório no volume do saco endolinfático; e redução da absorção de endolinfa causada pelo mau funcionamento do saco endolinfático ou por obstrução das vias endolinfáticas.
Não obstante, a causa da doença de Ménière é desconhecida, mas sabe-se que essa síndrome é a origem periférica da
vertigem. Foram identificadas diversas condições como possíveis causas etiológicas da doença de Ménière,
incluindo traumatismo, infecção, medicamentos específicos (como antibióticos) e toxinas. A forma mais comum
da doença é idiopática e se acredita que seja causada por uma única lesão provocada por vírus ao sistema de
transporte de líquido da orelha interna. Uma das áreas de investigação tem pesquisado a relação entre doença
autoimune e doença de Ménière.
REFERÊNCIAS:
PORTH, C. M.; GROSSMAN, S. Fisiopatologia. 9 Ed. Rio de Janeiro – Guanabara Koogan, 2016.
ABORL CCF. Tratado de Otorrinolaringologia. 3 Ed. São Paulo – Elsevier, 2018.