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OSSOS HUMANOS ISOLADOS – LAPA DO SANTO

OSSOS HUMANOS ISOLADOS – LAPA DO SANTO

Alguns ossos humanos que foram encontrados na Lapa do Santo não estavam associados a sepultamento. Isso significa que esses ossos foram tratados de acordo com o protocolo padrão de coleta de material arqueológica. Ou seja, sua posição espacial é plotada com a estação total e ele é recebe um número de proveniência (exatamente como seria feito, por exemplo, para uma lasca de quartzo). Portanto, ao contrário do que ocorre com os ossos que fazem partes de sepultamentos esses ossos estão todos armazenados numa mesma caixa e na discussão que segue as referências a eles será feita pelo número de proveniência.

Entretanto, ao contrário do que pode parecer, a classificação de um osso como não pertencente a sepultamento não é imediata e está sujeita a decisões subjetivas. O principal critério para que um osso seja classificado como não associado a sepultamento é seu grau de isolamento espacial. Por exemplo, se um único osso é achado sozinho num raio de 1 metro de diâmetro ele provavelmente será plotado e receberá um número de proveniência. Entretanto, caso esse osso seja um crânio inteiro, ainda que isolado, ele muito provavelmente será registrado como um sepultamento. Esse é justamente o caso do Sepultamento 9 que foi descrito anteriormente. Ele é basicamente composto por um único crânio e nem por isso foi coletado como osso não associado a sepultamento. Outro exemplo pertinente é o Sepultamento 25, em que 3 ossos de um indivíduo adulto e meia-dúzia de ossos de um indivíduo subadulto foram coletados como parte de um único sepultamento. O importante é ter em mente que essas classificações são frutos de decisões tomadas em campo. Portanto, não é porque um conjunto de ossos está coletado sob a égide de “Sepultamento” que ele, de fato, representa um evento de enterramento.

Uma vez que os ossos não associados a sepultamentos foram coletados com números de proveniência eles encontram-se dispersos pelas dezenas de caixas que contém o material escavado no sítio. Até o início dessa dissertação nenhum esforço havia sido feito no intuito de juntar esse material. Infelizmente, até o momento em que esse texto foi finalizado esse processo ainda não havia sido terminado e, portanto, a descrição que segue deve ser vista como parcial e, potencialmente, sujeita a acréscimos futuros.

Existem duas principais fontes através das quais os ossos humanos isolados podem ser identificados. Uma delas é através do diário de campo do sítio. Assim, o diário de campo foi lido em procura de toda e qualquer menção a ossos humanos que foram encontrados mas não estavam associados a sepultamentos. De acordo, foi possível identificar a existência dos seguintes ossos isolados:

  • ossos humanos sem identificação na quadra O27
  • fragmento proximal de tíbia humana no nível 1 da quadra L11
  • concentração de osso evidenciado no canto NE da quadra K10
  • mandíbula humana no nível 2 da quadra L11
  • úmero e clavícula de um recém nascido no nível 2 da quadra J09
  • parte proximal de um úmero humano com evidencias de ter sido cortado no nível 3 da quadra J09
  • possível parte distal de uma tíbia com marcas de corte no nível 3 da quadra L09
  • fragmento isolado de crânio humana de criança no nível 5 da quadra J09
  • parte distal de fêmur no nível 6 da quadra L09 (PN-3083)
  • parte distal de fêmur com marcas de corte no nível 8 da quadra L11 (cota -0,363; PN-3632)
  • fragmento proximal de tíbia no nível 8 da quadra L11 (cota -0,409; PN-3918)
  • fragmento de escápula que se soltou do perfil da quadra L11 (PN-5631)

 

A outra forma de identificar ossos humanos não associados a sepultamentos é através dos “boletos” em que ficaram registradas informações referentes a todo o material que foi coletado em campo e recebeu um número de proveniência. Como esses boletos estavam disponíveis exclusivamente em papel, tornando a consulta uma tarefa interminável, o primeiro passo foi digitalizar cada um deles (3456 boletos). Em seguida, foi gerada uma lista de todos os números de proveniência em cujo campo “Descrição do Material” contivesse a palavra osso e não contivesse a palavra fauna. A partir dessa lista foi feito um esforço conjunto entre o autor dessa dissertação e o técnico do laboratório (Max Ernani) para encontrar esses ossos em meio às dezenas de caixas com material do sítio. Até o momento apenas dois ossos foram identificados, sendo que um deles não consta na listas apresentadas acima (foi um encontro fortuito).

Ambos esses ossos, uma extremidade distal de fêmur esquerdo e uma extremidade proximal de úmero direito (PN-3093 e PN-3305), foram cortados, apresentando os chanfros característicos próximos à borda seccionada. A Figura 8.28.1 apresenta os CEQ dos níveis correspondentes em que esses ossos foram encontrados. As Figuras 2 e 3 mostram fotos desses ossos.

 

Figura 1 – Lapa do Santo. Croqui de escavação da quadra L-09 indicando a posição em que foram encontrados os dois ossos isolados mencionados no texto.

 

Figura 2 – Lapa do Santo. Osso isolado número 3083. Extremidade distal do fêmur esquerdo. a) Da esquerda para a direita, vista anterior, lateral, posterior e medial; b) detalhe da superfície anterior resultante após remoção da diáfise e incisões, c) detalhe da superfície posterior após a remoção da diáfise e incisões, d) incisão na parte posterior, próximo à superfície articular, e) marcas presentes na superfície articular do côndilo medial, possivelmente geradas pela ação de algum roedor.

 

Figura 3 – Lapa do Santo. Osso isolado 3305. Extremidade proximal de úmero direito. a) vista anterior, lateral, posterior e medial; b), c), d) detalhe para os chanfros próximos a superfície seccionada nas faces anterior, pôstero-medial e medial, respectivamente; e) chanfros na face medial que não estavam tão próximos da face seccionada.

  

Figura E1– Osso isolado 3083. Microscopia eletrônica de varredura das incisões localizadas na superfície articular do côndilo do fêmur esquerdo.

 

Figura E1– Lapa do Santo. Osso isolado 3083. Microscopia eletrônica de varredura das incisões localizadas na superfície articular do côndilo do fêmur esquerdo (continuação).