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SEPULTAMENTO 10 – LAPA DO SANTO

SEPULTAMENTO 10 – LAPA DO SANTO

Localização Espacial e Estratigráfica

O Sepultamento 10 foi encontrado na porção centro-oeste da quadra I13. A Figura 1 mostra os CEQs correspondentes aos níveis que serão discutidos a seguir. As cotas de abertura da quadra e destes níveis estão apresentadas na Tabela 1. De acordo com os CEQs indícios do Sepultamento 10 já estão presentes no nível 2, mas é somente a partir do nível 3 que ele se estabelece de forma plena. No CEQ do nível 5 o sepultamento já não está mais presente. A FES indica que o crânio, a bacia e o pé foram encontrados, respectivamente, nas cotas -0,450; -0,387 e -0,400. Esses valores estão de acordo com o indicado pelos CEQs. No CES referente à ultima exposição há uma cota de -0,523. Como não existe nenhuma indicação explícita da cota do fundo da cova na FES esse valor será usado como tal. Novamente, o indicado pelo CES está de acordo com o indicado pelo CEQ.

Durante as escavações, num primeiro momento, foi assumido que o Sepultamento 10 estava associado com uma estrutura de blocos localizada no sul da quadra I13. Por isso, as três primeiras exposições do Sepultamento 10 representam justamente essa estrutura. Entretanto, conforme discutido na seção sobre “Estruturas de Blocos”, essa estrutura (EB-6) não está associada ao Sepultamento 10. Isso foi percebido ainda em campo de maneira que uma “nova” exposição 1 foi criada para o Sepultamento 10, dessa vez sem incluir a estrutura dos blocos. Entretanto, apesar dos CESs das três primeiras exposições serem majoritariamente dedicado à representação da estrutura de blocos que não faz parte do sepultamento, também estão presentes alguns ossos que de fato são do Sepultamento 10. Portanto, optou-se por apresentar todos os CES referentes ao Sepultamento 10. Com isso as exposições 1, 2 e 3 serão apresentadas duas vezes. É importante enfatizar que nos CESs referentes às três primeiras exposições (Figuras 3 à 5), a estrutura de blocos neles retratadas não faz parte do Sepultamento 10 (Figura 2).

 

Figura 1 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Croquis de escavação de quadra. Em vermelho, regiões onde foram encontrados ossos humanos. Em cinza, blocos de calcário.

 

Tabela 1. Cotas verticais iniciais (z)
Quadra Nível NW NE SE SW
I13 1 -0,354 -0,314 -0,268 -0,287
I13 2 -0,388 -0,324 -0,294 -0,360
I13 3 -0,498 -0,461 -0,435 -0,473
I13 4 -0,506 -0,488 -0,435 -0,616
I13 5 -0,562 -0,579 -0,551 -0,594
I13 6 -0,720 -0,672 -0,634 -0,676

 

Figura 2 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. A estrutura de blocos EB-6 (seta preta) foi escavada como parte do Sepultamento 10 (seta vermelha) mas, na verdade, não faz parte dele. a) A quadra I13 está no nível e a quadra I12 no nível 4. A seta branca aponta o barbante que estabelece o limite das duas quadras, a I13 estando acima dele e a I12 abaixo. A estrutura de pedras no centro da quadra é aquela que viria a ser escavada como associada ao Sepultamento 10; b) a quadra I13 está no nível 4, a seta vermelha indica os ossos que de fato compões o Sepultamento 10 e a seta azul indica a estrutura de blocos que foi considerada em campo como associada ao sepultamento 10; c) croquis  de escavação do nível 12 da quadra I12 (abaixo) e I13 (acima), mostrando como a estrutura de pedra formava um círculo que se localizava justamente acima de onde viria a aparecer o Sepultamento 15. A seta branca aponta o a linha que estabelece o limite das duas quadras, a I13 estando acima dele e a I12 abaixo.

 

Descrição do Sepultamento

O sepultamento 10 é composto pelos ossos de um único indivíduo adulto do sexo feminino. As Figuras 3 a 17 apresentam as fotos e os CESs de cada exposição. A cova tem cerca de 40 centímetros de diâmetro e apresenta contorno circular. Entretanto, na exposição 3 esse contorno circular é interrompido em sua borda oeste, que assume uma forma côncava. A cova estava totalmente preenchida, quase não havendo espaços vazios entre os ossos. Apesar dos ossos estarem muito fragmentados todas as principais partes do esqueleto foram identificadas. Ossos do crânio, incluindo o maxilar (nenhum dente superior foi encontrado), a clavícula e a escápula são as principais ausências. Por outro lado, ossos pequenos como carpos, tarsos e patelas foram recuperados. Os ossos estavam dispostos de forma caótica não havendo qualquer lógica anatômica entre a maioria deles. De maneira geral, é possível dizer que na parte superior do conjunto de ossos encontravam-se os dois coxais e que abaixo deles estavam as costelas e ossos longos. Na base do enterramento estavam as vértebras, o sacro e a mandíbula. Na exposição 6 é possível observar dois conjuntos formados por quatro e três vértebras, respectivamente, que estavam totalmente articuladas. Na base da cova, abaixo dos ossos, foram evidenciados alguns blocos e uma concentração de carvão.

Os ossos apresentavam marcas de queima que, em sua maioria, apresentavam cores escuras indicando que eles não chegaram a ser calcinados (Figura 18). Não foram observadas fissuras transversais indicativas de que os ossos estavam verdes durante a ação do fogo. Além disso, alguns fragmentos de diáfise de osso longo apresentam sinais de queima tanto na sua superfície externa como interna, atestando que o evento de quebra/fragmentação precedeu o evento de exposição à fonte de calor. Além disso, o tipo de quebra nos ossos longos é característico de ossos verdes, estando presente não apenas quebras espiraladas como também uma fratura do tipo asa de borboleta na diáfise do fêmur direito.

Não foram observados sinais de corte ou aplicação de ocre.

Modo do Enterramento

            A ausência de lógica anatômica entre os ossos aponta para um sepultamento em contexto secundário. Ainda assim, a presença de alguns ossos em direta conexão anatômica atestam que, pelo menos em algum grau, tecidos moles ainda estavam presentes no momento do enterro. Por outro lado, a proximidade entre os ossos indica que os músculos já haviam desaparecido. O fato de que tanto a superfície externa como a interna dos ossos apresentam marcas de queima indicam que essa ocorreu depois da fragmentação dos ossos. Ou seja, que o processo de queima não estava associado ao estágio primário, mas sim ao enterro final. A presença de uma concentração de carvões no fundo da cova apóia a idéia de que o esqueleto foi exposto ao fogo no momento de sua inumação final.

 

Figura 3 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 1 e seu respectivo croqui. A estrutura de blocos não faz parte do Sepultamento 10, mas os ossos humanos sim.

 

Figura 4 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 2 e seu respectivo croqui. A estrutura de blocos não faz parte do Sepultamento 10, mas os ossos humanos sim.

 

Figura 5 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 3 e seu respectivo croqui. A estrutura de blocos não faz parte do Sepultamento 10, mas os ossos humanos sim.

 

Figura 6 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 1 e seu respectivo croqui.

 

Figura 7 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 2 e seu respectivo croqui.

 

Figura 8 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 3 e seu respectivo croqui.

 

Figura 9 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 4 e seu respectivo croqui.

 

Figura 10 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 5 e seu respectivo croqui.

 

Figura 11 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 6 e seu respectivo croqui.

 

Figura 12 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 7 e seu respectivo croqui.

 

Figura 13 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 8 e seu respectivo croqui.

 

Figura 14 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 9 e seu respectivo croqui.

 

Figura 15 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 10 e seu respectivo croqui.

 

Figura 16 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Foto da exposição 11 e seu respectivo croqui.

 

Figura 17 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Vista lateral da exposição 3.

 

Figura 18 – Lapa do Santo. Sepultamento 10. Ossos longos com marca de queima. Cada osso é mostrado duas vezes, em posições diferentes. Da esquerda para a direita: tíbia esquerda, tíbia esquerda, fíbula direita e fíbula direita.