SEPULTAMENTO 11 – LAPA DO SANTO
Localização Espacial e Estratigráfica
O Sepultamento 11 foi encontrado na região em que as quadras J10, J11, K10 e K11 se encontram. As Figuras 1 e 2 mostra os CEQs correspondentes aos níveis que serão discutidos a seguir. As cotas de abertura da quadra e desses níveis estão apresentadas na Tabela 1. De acordo com os CEQs, o Sepultamento 11 está presente desde o nível 4 até o nível 6. Na região em que o sepultamento está presente a cota de abertura do nível 4 é -0,123 e a de fechamento do nível 6 é -0,145. Obviamente, um rebaixamento na ordem de 2 centímetros é incompatível com a escavação de 3 níveis. Nos CESs, não existe nenhuma indicação de cota. Na FES, é informado que o topo do crânio e a base da bacia estão, respectivamente, nas cotas -0,120 e -0,335[1]. Esses valores serão considerados como o topo e a base do Sepultamento 11.
Os CEQs indicam que os sepultamentos 3, 4 e 11 co-ocorriam no nível 4. Entretanto, a Figura 3 mostra que o Sepultamento 11 estava abaixo dos sepultamentos 3 e 4.
Tabela 1. Cotas verticais iniciais (z) | |||||
Quadra | Nível | NW | NE | SE | SW |
J10 | 4 | -0,157 | -0,223 | -0,123 | -0,157 |
J10 | 5 | -0,149 | -0,086 | 0,044 | 0,012 |
J10 | 6 | -0,164 | -0,145 | 0,008 | -0,020 |
J10 | 7 | -0,272 | -0,278 | -0,099 | -0,146 |
J11 | 4 | -0,251 | -0,223 | -0,123 | -0,157 |
J11 | 5 | -0,265 | -0,245 | Sep 11 | -0,171 |
J11 | 6 | -0,287 | -0,300 | -0,145 | -0,164 |
J11 | 7 | -0,323 | -0,305 | -0,278 | -0,272 |
K11 | 1 | -0,030 | -0,019 | 0,160 | 0,150 |
K11 | 2 | -0,040 | -0,040 | 0,160 | 0,120 |
K11 | 7 | -0,305 | -0,289 | -0,203 | -0,278 |
Figura 1 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Croquis de escavação das quadras J10 e J11. Em vermelho, regiões onde foram encontrados ossos humanos. Em cinza, blocos de calcário.
Figura 2 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Croquis de escavação da quadra K11. Em vermelho, regiões onde foram encontrados ossos humanos. Em cinza, blocos de calcário.
Figura 3 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Fotos da quadra J10. a) nível 2 em que apenas o topo da estrutura de blocos que recobria o Sepultamento 4 pode ser observado (seta preta); b) nível 4, apesar de no CEQ os sepultamentos 3, 4 e 11 aparecerem como vizinhos no nível 4, esta foto deixa claro que os sepultamentos 3 (seta azul) e 4 (seta preta) estavam completamente acima do Sepultamento 11 (seta vermelha).
Descrição do Sepultamento
O Sepultamento 11 é composto pelos ossos de um único indivíduo adulto do sexo masculino. As Figuras 4 a 10 apresentam as fotos e os CESs de cada exposição. A cova tinha contorno circular muito bem definido com cerca de 40 centímetros de diâmetro e 25 centímetros de espessura. A cova estava totalmente preenchida, não havendo espaços vazios entre os ossos. Os ossos tocavam o limite da cova em toda sua extensão (Figura 11). Praticamente todos os ossos estavam presentes, mas não foi possível identificar nenhuma lógica anatômica entre eles. Além disso, ainda que os ossos longos pareçam se concentrar na metade sul da cova e as vértebras e costelas na metade norte, não foi possível determinar qualquer lógica mais clara na distribuição espacial dos ossos (ex. ossos da mão numa região, ossos do pé em outra).
Apesar de terem sido amplamente remontados em laboratório (Figura 12), originalmente os ossos encontravam-se muito fragmentados (Figura 13). Parte dessa fragmentação pode ser atribuída à ação pós-deposicional da gravidade, como no caso do colapso da calota craniana (vide Figuras 4 e 5). Entretanto, em outros casos, fragmentos de um mesmo osso se encontram em posições muito distantes na cova (ex. o úmero direito nas exposições 3 e 5). Nos ossos longos, a fragmentação ocorre preferencialmente na região central da diáfise (vide tíbia esquerda na exposição 1; fíbula na exposição 2; clavícula na exposição 3; fêmur e ulna na exposição 4; rádio e úmero direito na exposição 5; ulna e fêmur na exposição 6; fragmentos de ossos longos na exposição 7). Em alguns casos, como o do úmero direito da exposição 5 e o do fêmur e da ulna da exposição 6, o limite da cova nitidamente condiciona a fragmentação da diáfise. Em conjunto, isso parece indicar que a fragmentação dos ossos foi decorrência do processo de enterramento.
Modo de Enterramento
Para que todos os ossos desse indivíduo coubessem na cova, cujas dimensões eram diminutas, foi preciso pressioná-los, forçá-los para dentro dela. Nesse processo, alguns ossos foram quebrados, particularmente os ossos longos. A favor da ideia de que a cominuição dos ossos foi resultado do processo de enterramento em si e que não foi realizada previamente está na fato de que mesmo os menores fragmentos foram posteriormente remontados em laboratório. Se o processo de fragmentação tivesse precedido o enterro, esses fragmentos pequenos com menos de cerca de 3 centímetros de comprimento não deveriam ser encontrados dentro da cova. Por fim, o padrão da fragmentação é típico de ossos que ainda retinham, pelo menos algum grau, colágeno (Figuras 13 a 20).
Figura 11 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Fotos de campo. a) apesar de indicada como exposição 1, essa foto na verdade é anterior, mostrando os primeiros ossos desse sepultamento que foram descobertos; b) e c) vistas em ângulo da primeira exposição; d) nessa vista lateral da quarta exposição é possível perceber com clareza como a cova foi completamente preenchida pelos ossos, não restando quase nenhum espaço entre esses.
Figura 12a – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Crânio em vista frontal, lateral esquerda, superior e inferior.
Figura 15 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Rádio esquerdo. a) extremidade distal, vista posterior; b) parte proximal do osso em que é possível a fratura na diáfise que apresenta um componente helicoidal e seu contorno.
Figura 16 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Ulna esquerda. A diáfise esta bastante fragmentada por um conjunto de fraturas oblíquas. Reparar que o ângulo da fratura com a superfície cortical é muito baixo, indicando que o osso ainda continha colagem no momento da quebra.
Figura 17 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Tíbia direita. Vistas anterior, lateral, posterior e medial. O osso estava bastante fragmentado, sendo difícil discernir feições possivelmente associadas ao evento do enterro e feições geradas posteriormente. Existem 3 fraturas longitudinais que transpassam o osso de uma extremidade a outra. Em meio às demais fraturas uma se destaca pois possivelmente caracteriza quebra de osso ainda plástico (indicada por setas pretas).
Figura 18 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Tíbia esquerda. Vistas anterior, lateral, posterior e medial. O osso estava bastante fragmentado, sendo difícil discernir feições possivelmente associadas ao evento do enterro e feições geradas posteriormente. Na face medial e lateral da diáfise é possível observar fraturas longitudinais que percorrem o osso de uma extremidade a outra. Na face medial uma fratura chama atenção, pois tem feições compatíveis com quebra em osso verde (indicado pelas setas vermelhas). Inclusive, essa fratura é muito semelhante a indicada na tíbia direita.
Figura 19 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Fêmur esquerdo. O osso está intensamente fragmentado. a) vistas anterior e lateral; b) vistas posterior e medial. Conforme é possível observar nas fotos c) d) e), que apresentam, respectivamente, detalhes das porções proximal, central e distal do osso, existe um nítido componente helicoidal nessas fraturas.
Figura 20 – Lapa do Santo. Sepultamento 11. Fêmur direito. a) vistas anterior e posterior; detalhe da região central da diáfise na qual se observa uma fratura oblíqua.
[1] Na ficha esses dois valores foram preenchidos no campo “Profundidade do Sepultamento”. Entretanto, parece que se trata da cota vertical “z” e não da profundidade.
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