SEPULTAMENTO 24 – LAPA DO SANTO
Localização Espacial e Estratigráfica
O Sepultamento 24 foi encontrado no canto nordeste da quadra J12. A Figura 1 mostra os CEQs correspondentes aos níveis que serão discutidos a seguir. As cotas de abertura da quadra e destes níveis são apresentadas na Tabela 1.
Nos CEQs não existe uma indicação formal da posição deste sepultamento. Ainda assim, parece não haver qualquer dúvida que o conjunto de blocos presente no cato NE dos CEQs da quadra J12 seja a estrutura de blocos EB-4, que recobria o Sepultamento 24. Conforme discutido na seção sobre as Estruturas de Blocos o topo dessa estrutura de blocos encontrava-se na cota de -0,208 e a base na cota de -0,524. De acordo com a FES o primeiro osso encontrado estava na cota de -0,561 e de acordo com o CES da última exposição o fundo da cova estava na cota -0,630. Portanto, a espessura do pacote com ossos era de não mais do que 7 centímetros. De maneira geral, essas cotas estão de acordo com as apresentadas na tabela 1. Ou seja, a estrutura EB-4 e o Sepultamento 24, em conjunto, estavam presentes desde o nível 1 até o início do nível 6.
Tabela 1. Cotas verticais iniciais (z) | |||||
Quadra | Nível | NW | NE | SE | SW |
J12 | 1 | -0,239 | -0,216 | -0,038 | -0,080 |
J12 | 2 | -0,258 | -0,283 | -0,060 | -0,095 |
J12 | 3 | n/d | n/d | n/d | -0,290 |
J12 | 4 | -0,466 | -0,427 | -0,341 | -0,326 |
J12 | 5 | -0,551 | -0,615 | -0,510 | -0,425 |
Figura 1 – Lapa do Santo. Sepultamento 24. Croquis de escavação da quadra J12. Em vermelho, regiões onde foram encontrados ossos humanos. Em cinza, blocos de calcário. O sepultamento está localizado no canto nordeste da quadra. Entretanto essa é uma informação que foi adicionada a posteriori pois no croqui original não havia nenhum indicação nesse sentido.
Descrição do Sepultamento
Este sepultamento é composto por ossos pequenos, como falanges e dentes, e fragmentos de ossos maiores, como clavícula e ulna. A Tabela 2 indica os dentes que foram encontrados. Esses ossos estavam abaixo da estrutura EB-4 e, apesar de se encontrarem circunscritos ao perímetro delimitado por essa última, não foi possível identificar de maneira segura os limites da cova. As Figuras 3 a 5 mostram as fotos e CES correspondentes. Na primeira exposição foram encontrados 13 ossos representados por dentes e fragmentos de falanges. Na 2ª exposição havia 25 ossos dentro os quais fragmentos indeterminados, fragmentos de costela, fragmentos de vértebras, dentes, falanges de mão e de pé, carpos e clavícula. Na 3ª exposição foram encontrados dentes, falanges e ossos do pulso. Na 4ª e última exposição, apenas dentes e fragmentos não identificados foram recuperados. Todos os ossos são de um indivíduo adulto. Os dentes parecem ser de um único indivíduo.
Não parece existir nenhuma organização espacial dos ossos. Não foram identificados sinais de queima, corte ou aplicação de ocre.
Tabela 2. Dentes encontrados no sepultamento 24* | |||||||
Dente | Quantidade | Dente | Quantidade | Dente | Quantidade | Dente | Quantidade |
RM3 | 0 | RM3 | 0 | Rdm2 | 0 | Rdm2 | 0 |
RM2 | 1 | RM2 | 1 | Rdm1 | 0 | Rdm1 | 0 |
RM1 | 0 | RM1 | 1 | Rdc1 | 0 | Rdc1 | 0 |
RP4 | 1 | RP4 | 1 | Rdi2 | 0 | Rdi2 | 0 |
RP3 | 1 | RP3 | 1 | Rdi1 | 0 | Rdi1 | 0 |
RC1 | 1 | RC1 | 0 | Ldi1 | 0 | Ldi1 | 0 |
RI2 | 1 | RI2 | 0 | Ldi2 | 0 | Ldi2 | 0 |
RI1 | 1 | RI1 | 1 | Ldc1 | 0 | Ldc1 | 0 |
LI1 | 1 | LI1 | 1 | Ldm1 | 0 | Ldm1 | 0 |
LI2 | 0 | LI2 | 0 | Ldm2 | 0 | Ldm2 | 0 |
LC1 | 1 | LC1 | 1 | ||||
LP3 | 1 | LP3 | 1 | ||||
LP4 | 1 | LP4 | 1 | ||||
LM1 | 0 | LM1 | 0 | ||||
LM2 | 0 | LM2 | 1 | ||||
LM3 | 1 | LM3 | 0 | ||||
*Além dos dentes identificados na tabela foi encontrado 1 incisivo inferior. A identificação precisa desse dente não foi possível devido ao seu estado de preservação. |
Modo de Enterramento
A presença de um número pequeno de ossos e o fato desses terem dimensões diminutas coloca em dúvida se de fato se trata de um sepultamento. Ainda em campo foi aventada a possibilidade de que este conjunto de ossos sob a estrutura EB-4 seria, na verdade, o produto de um esvaziamento de cova. A lógica atrás dessa interpretação é que num processo de esvaziamento de cova os ossos menores teriam uma maior probabilidade de “ficarem para trás”. Entretanto, mesmo reconhecendo a validade geral desse pressuposto, ele não parece ser válido no caso dos dentes. Afinal, mesmo que um ou outro dente pudesse cair do alvéolo durante um hipotético evento de esvaziamento de cova, não seria esperado que todos eles caíssem. Mesmo assim, essa continua sendo a explicação mais cabível. Ainda que a seleção anatômica observada pudesse ter sido gerada intencionalmente como parte dos ritos funerários, a inexistência de qualquer caso similar no sítio torna isso pouco provável. Afinal, em todos os casos em que foram identificados ossos abaixo dessas estruturas de blocos eles incluíam um indivíduo completo e não fragmentos esparsos e dentes.
Por outro lado, assumindo-se tratar de um esvaziamento de cova, a estrutura de blocos EB-4 que estava sobre os ossos, deixaria de estar formalmente associada a um sepultamento. Dentre todas as estruturas de blocos da Lapa do Santo, essa é a que apresenta o maior número de blocos, chegando a conter duas vezes mais blocos do que qualquer outra estrutura. Assim, caso a cova tenha de fato sido esvaziada, os blocos foram recolocados dentro dela.
Figura 2 – Lapa do Santo. Sepultamento 24. Foto da exposição 1 e seu respectivo croqui. Em cinza, blocos de pedra e, em vermelho, ossos humanos.
Figura 3 – Lapa do Santo. Sepultamento 24. Croqui da exposição 2. Foto comprometida por razões técnicas. Em azul, lasca. Em laranja, concreção. Em amarelo, carvões e cinzas.
Figura 4 – Lapa do Santo. Sepultamento 24. Croqui da exposição 3. Foto comprometida por razões técnicas. Em azul, lascas. Em laranja, concreção.
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