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SEPULTAMENTO 6 – LAPA DO SANTO

SEPULTAMENTO 6 – LAPA DO SANTO

Localização Espacial e Estratigráfica

O Sepultamento 6 foi encontrado na quadra I12. A Figura 8.6.1 mostra os CEQs correspondentes aos níveis que serão discutidos a seguir.  As cotas de abertura da quadra e desses níveis constam na Tabela 8.6.1.

O Sepultamento 6 está localizado na parte sul da quadra I12. A cova está representada nos CEQs dos níveis 3 e 4, mas blocos possivelmente associados ao sepultamento estão presentes desde o nível 2. A cota mais elevada indicada pela FES está associada ao crânio e é de -0,293. Na FES também há indicação de fundo da cova na cota de -0,435. Esses valores estão de acordo com os indicados na Tabela 1 para os níveis de 1 a 4 e serão utilizados neste trabalho como cota de topo e base do Sepultamento 6.

Esse sepultamento estava recoberto pela estrutura de blocos EB-5 (vide seção 8.29 para maiores detalhes).

Tabela 8.6.1. Cotas verticais iniciais (z)
Quadra Nível NW NE SE SW
I12 1 -0,287 -0,268 -0,103 -0,130
I12 2 -0,328 -0,295 -0,126 -0,160
I12 3 -0,449 -0,429 -0,360 -0,409
I12 4 -0,570 -0,434 -0,360 -0,445
I12 5 -0,616 -0,490 -0,374 -0,576

 

Descrição do enterramento

O Sepultamento 6 é composto pelos ossos de um único indivíduo sub-adulto cuja idade estimada é de 2 a 5 anos. As Figuras 8.6.3 a 8.6.17 apresentam as fotos e os CESs de cada exposição. Em campo foi descrito como um sepultamento secundário devido à falta de lógica anatômica na maioria dos ossos. Infelizmente, os croquis de escavação do sepultamento são muito genéricos na sua descrição, impedindo uma descrição mais detalhada desse sepultamento. Foi registrado na FES que havia “grande quantidade de raízes na cova, sinal de bioturbação”.

 

Figura 8.6.1 – Sepultamento 6. Croquis de escavação da quadra I12. Em vermelho, regiões onde foram encontrados ossos humanos. Em cinza, blocos de calcário.

 

Figura 8.6.2 – Sepultamento 6. Fotos da quadra I12. a) nível 2, os sepultamentos ainda não estão presentes; b) nível 3 onde já se observa a estrutura de blocos do Sepultamento 15 (seta azul), a cova do Sepultamento 7 (seta vermelha) e a cova do Sepultamento 6 (seta preta)

 

A cova em que foi feito o enterramento estava bem definida, apresentando contorno circular com cerca de 20 centímetros de diâmetro. Estava totalmente preenchida de maneira que não havia muitos espaços vazios entre os ossos e havia ossos encostados na parede da cova em toda sua extensão[1]. Era uma cova rasa com cerca de 15 centímetros de profundidade. Os ossos estavam muito fragmentados e caoticamente distribuídos pela cova. Ainda assim, quase todos os ossos estavam presentes, com exceção do esterno, do rádio direito, da fíbula direita e da maioria dos ossos da mão e do pé. É possível inferir que o crânio estava apoiado sobre a calota e com a face voltada para o sudoeste de acordo com os seguintes elementos: a posição do osso petroso nas exposições 1 a 3, a posição do fragmento do forame magno na exposição 1, a posição do occipital nas exposições 10 a 12 e a posição da mandíbula nas exposições 4 a 9. Apesar de muito fragmentado, o crânio estava virtualmente inteiro, conforme pode ser constatado pela ótima remontagem feita em laboratório (Figura 8.6.18).

Apesar da ausência de lógica anatômica, é possível discernir duas regiões distintas. Na região sul do sepultamento, havia poucos ossos além dos do crânio, e na região norte estavam concentrados os ossos do pós-crânio. Nessa região norte, os ossos do pós-crânio que estavam mais próximos ao topo da cova eram o rádio, o púbis e o ílio (exposições de 1 a 3). Por baixo desses ossos havia uma concentração de epífises não fusionadas de vértebra, fragmentos de escápula e alguns fragmentos de costela (exposição 4). Logo abaixo, ocorria um aumento na presença de costelas e surgiu a mandíbula (exposição 5). Por baixo da mandíbula foram encontrados os ossos longos, muito fragmentados (exposições de 6 a 11). No fundo da cova foram encontradas a clavícula esquerda, duas vértebras (a partir da foto é possível determinar que uma era cervical e a outra provavelmente torácica) e algumas costelas (pelo que é possível estabelecer através da fotografia, são da região superior do tórax). Os únicos casos de conexão anatômica envolviam as epífises não fusionadas de ossos longos e suas respectivas diáfises.

O padrão de fragmentação observado em alguns ossos (Figura 8.6.19), no qual a quebra é do tipo espiralado e a textura do córtex é fibrosa, sugere que os ossos estavam “verdes” quando foram quebrados (i.e. ainda possuíam colágeno, preservando sua plasticidade).

Um bloco de calcário (vide exposição 1) estava posicionado dentro dos limites da cova e estava possivelmente associado ao enterro. Além disso, havia uma estrutura circular formada por pelo menos 8 blocos recobrindo o sepultamento (vide o CEQ do nível 2). Além disso, uma região rica em carvões foi observada dentro dos limites da cova. Entretanto, nenhum osso queimado foi observado, de maneira que esta pode ser uma associação fortuita.

Modo de enterramento

A total falta de lógica anatômica, a ausência de alguns ossos (especialmente os pequenos como da mão e do pé) e a disposição dos ossos na cova sem que houvesse espaço entre eles configuram um enterro em contexto secundário. Somado ao tamanho diminuto da cova a presença de diversas fraturas características de osso verde indicam que os ossos foram quebrados justamente para caberem na cova.  Além disso, essas quebras mostram que apesar de se tratar de um contexto secundário, a manipulação dos ossos foi feita enquanto esses ainda apresentam propriedades plásticas e, portanto, não muito tempo após o falecimento ter ocorrido.

Figura 8.6.3 – Sepultamento 6. Foto da exposição 1 e seu respectivo croqui. Os pontos pretos indicam concentração de carvão. Em cinza, bloco de calcário.

 Figura 8.6.4 – Sepultamento 6. Foto da exposição 2 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.5 – Sepultamento 6. Foto da exposição 3 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.6 – Sepultamento 6. Foto da exposição 4 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.7 – Sepultamento 6. Foto da exposição 5 e seu respectivo croqui.

Figura8.6.8 – Sepultamento 6. Foto da exposição 6 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.9 – Sepultamento 6. Foto da exposição 7 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.10 – Sepultamento 6. Foto da exposição 8 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.11 – Sepultamento 6. Foto da exposição 9 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.12 – Sepultamento 6. Foto da exposição 10 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.13 – Sepultamento 6. Foto da exposição 11 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.14 – Sepultamento 6. Foto da exposição 12 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.15 – Sepultamento 6. Foto da exposição 13 e seu respectivo croqui..

Figura 8.6.16 – Sepultamento 6. Foto da exposição 14 e seu respectivo croqui.

Figura 8.6.17 – Sepultamento 6. Foto da exposição 15 e seu respectivo croqui.

 

Figura 8.6.18 – Sepultamento 6. Vista do crânio em norma frontal, posterior, lateral direita, lateral esquerda, superior e inferior.


Figura 8.6.19 – Sepultamento 6. Fêmur esquerdo, ulna direita, úmero direito, rádio esquerdo, fíbula esquerda, ulna direita (em vista

[1] Nos CESs o limite da cova vai muito além de onde se encontram os ossos. Entretanto, essa delimitação deve estar equivocada.