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SEPULTAMENTO 7 – LAPA DO SANTO

SEPULTAMENTO 7 – LAPA DO SANTO

Localização Espacial e Estratigráfica

O Sepultamento 7 foi encontrado na região central entre as quadras I12 e J12. A Figura 1 mostra os CEQs correspondentes aos níveis que serão discutidos a seguir. As cotas de abertura da quadra e desses níveis estão apresentadas na Tabela 8.7.1. Apesar de se encontrar numa região em que os sepultamentos comumente foram recobertos por uma camada de blocos de pedra, não havia tal camada sobre o Sepultamento 7.

De acordo com os CEQs o sepultamento restringe-se ao nível 3. No CES referente à primeira exposição, a cota mais elevada é de -0,271. Já no CES, referente à última exposição, a cota mais inferior é de -0,418. Esses valores estão de acordo com o indicado pelos CEQs e serão considerados como cotas de topo e base desse sepultamento.

Tabela 1. Cotas verticais iniciais (z)
Quadra Nível NW NE SE SW
I12 1 -0,287 -0,268 -0,103 -0,166
I12 2 -0,328 -0,295 -0,160 -0,126
I12 3 -0,305 -0,289 -0,203 -0,278
I12 4 -0,449 -0,429 -0,360 -0,409
J12 1 -0,239 -0,216 -0,381 -0,080
J12 2 -0,258 -0,283 -0,060 -0,095
J12 3 -0,433 -0,414 -0,249 -0,345
J12 4 -0,466 -0,427 -0,341 -0,326

 

Descrição do enterramento                                              

O Sepultamento 7 é composto pelos ossos de um único indivíduo sub-adulto cuja idade estimada é de 5 a 6 anos. As Figuras 2 a 15 apresentam as fotos e os CESs de cada exposição. Em campo foi descrito como um sepultamento “secundário” devido à falta de lógica anatômica entre a maioria dos ossos. Entretanto, um olhar mais atento mostra que, pelo menos em algum grau, os tecidos moles ainda estavam presentes.  A cova em que foi feito o enterramento estava bem definida, apresentando contorno circular com cerca de 25 centímetros de diâmetro. Era uma cova rasa com cerca de 15 centímetros de profundidade. A maioria dos ossos estava presente ainda que não foram encontradas as clavículas, os coxais, as fíbulas e a tíbia direita. Diversos ossos do pé e da mão também estavam ausentes. Em linhas gerais, é possível dizer que no fundo da cova, se encontrava a maioria dos ossos longos. Por cima destes encontrava-se o crânio, que após ter sido comprimido passou a ocupar quase toda a superfície da cova. Por cima do crânio, restrito à região oeste da cova, estava parte do esqueleto axial e da bacia. Recobrindo tanto o crânio como as vértebras e ossos da bacia, havia uma concentração de costelas. Por fim, no topo do enterramento foram encontrados ossos do maxilar, a mandíbula e o fêmur direito. Os ossos da mão e do pé também foram encontrados, em sua maioria, na parte superior da cova.

 

Figura 1 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Croquis de escavação das quadras I12 e J12. Em vermelho, regiões onde foram encontrados ossos humanos. Em cinza, blocos de calcário.

 

Os ossos não estavam explicitamente articulados. Entretanto, mediante uma observação detalhada, é possível identificar uma série de elementos que atestam certo grau de articulação entre os ossos no momento do enterramento. Assim, na exposição 7, por exemplo, a cabeça não fusionada do fêmur direito encontra-se em posição anatômica (i.e. adjacente à parte proximal do pescoço do fêmur). Na exposição 10, o mesmo pode ser observado para o fêmur esquerdo. Na sequência da exposição 13 para a exposição 14 também é possível observar que a epífise distal não fusionada do fêmur esquerdo estava exatamente em sua posição anatômica, encaixada na superfície distal da diáfise. Na exposição 5, cinco vértebras estavam articuladas e, na exposição 8 mais quatro vértebras estavam totalmente articuladas entre si. Na exposição 11, a epífise proximal não fusionada da tíbia esquerda estava em sua posição anatômica. Na mesma exposição, a tíbia esquerda (localizada na porção sul da cova) encontrava-se orientada no mesmo sentido que a fíbula esquerda, que por sua vez estava encostada na tíbia. Além disso, mesmo que deslocada anteriormente em relação à posição anatômica esperada, é importante notar que a fíbula se encontrava em posição lateral em relação à tíbia, em concordância com a posição anatômica. Na exposição 4, parece que o atlas e o áxis estavam articulados. Outro conjunto que apresenta certa lógica anatômica são os ossos do pé que aparecem nas primeiras posições. Ainda que não tenha sido possível observar associações anatômicas diretas, todos os ossos do pé se encontravam circunscritos a uma região específica dentro da cova. Além disso, a partir das exposições 8, 9 e 10 é possível afirmar que, apesar de fragmentado e achatado, o crânio, estava inteiro no momento do enterramento. Isto fica claro mediante o alto grau de remontagem obtido em laboratório (Figura 16 e 17).

Outra feição importante de ser observada nesse sepultamento é o padrão de fragmentação dos ossos longos. Em primeiro lugar, chama a atenção que em sua grande maioria a fragmentação ocorreu de forma localizada na porção central das diáfises (Figuras 18). Além disso, o tipo de quebra é indicativo de osso fraturas espiraladas e textura fibrosa do córtex exposto (Figuras 18). Em vários casos, a margem quebrada do osso longo estava localizada junto à parede da cova, sugerindo que foi a pressão contra a parede que levou à quebra do osso. Na exposição 7, a diáfise do fêmur direito está quebrada justamente no ponto em que encontra a parede da cova. Nas exposições 11 e 12 fica claro que a quebra na diáfise da tíbia esquerda também está condicionada pela parede sul da cova. A quebra na diáfise do rádio da exposição 12 também coincide com a parede da cova.

Não foram observadas marcas de corte, queima ou ocre.

Modo de enterramento

Apesar de se tratar de um enterro em contexto secundário, as observações feitas acima, indicam que no momento do enterro esse corpo de criança ainda apresentava um considerável grau de articulação. O corpo foi colocado na pequena cova circular cujas dimensões não eram suficientes para acomodar nem mesmo um corpo de criança totalmente fletido ou em posição fetal. Ainda assim, o corpo foi “enfiado” na cova, processo forçado que levou à quebra dos ossos e à sua grande desorganização. Na medida em que não foram identificadas marcas de corte, parece mais adequado assumir que a organização caótica dos ossos seja resultado do próprio processo que fez o corpo se encaixar na cova e não de desmembramentos intencionais.

Uma última observação importante é que no topo do sepultamento foi encontrado um seixo arredondado de quartzo com cerca de 8 centímetros de diâmetro. A natureza exótica da matéria-prima e a morfologia esférica atestam que esse seixo foi intencionalmente trazido ao abrigo. Sua associação com o sepultamento é inquestionável.

                                                                              

Figura 2 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Croqui da exposição 1. Foto comprometida por razões técnicas.

 

Figura 3 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 2 e seu respectivo croqui.

 

Figura 4 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 3 e seu respectivo croqui.

 

Figura 5 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 4 e seu respectivo croqui.

 

Figura 6 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 5 e seu respectivo croqui.

 

Figura 7 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Croqui da exposição 6. Foto comprometida por razões técnicas.

 

Figura 8 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 7 e seu respectivo croqui.

 

Figura 9 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 8 e seu respectivo croqui.

 

Figura 10 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 9 e seu respectivo croqui.

 

Figura 11 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 10 e seu respectivo croqui.

 

Figura 12 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 11 e seu respectivo croqui.

 

Figura 13 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 12 e seu respectivo croqui.

 

Figura 14 – Sepultamento 7. Foto da exposição 13 e seu respectivo croqui.

 

Figura 15 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 14 e seu respectivo croqui.

 

Figura 16 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Foto da exposição 15 e seu respectivo croqui.

 

Figura 16 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Vista frontal, lateral esquerda e inferior do crânio. O retângulo tem 10 centímetros de comprimento.

 

Figura 17 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. Vista superior e inferior da maxila. O retângulo tem 5 centímetros de comprimento.

 

Figura 18 – Lapa do Santo. Sepultamento 7. a) Rádio direito cuja diáfise estava quebrada em sua região mediana (à esquerda). Detalhe em vista posterior e anterior da região indicada pelo quadrado vermelho (à direita). b) Fêmur esquerdo e direito em vista posterior. Reparar como ambas as diáfises estão quebradas próximo à região central (à esquerda). Detalhe da margem quebrada da diáfise do fêmur direito (à direita).