Em outubro, durante a campanha Outubro Rosa, o projeto Menopausando trouxe à discussão a prevenção e controle do câncer de mama, com foco especial nas pacientes mais jovens. A Dra. Flávia Pursino, médica formada pela UFMG, ginecologista e obstetra pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde também completou residência em mastologia, é especialista em exames de imagem da mama pela Unicamp e mestre em ciências pela USP. Com sua vasta experiência, ela apresentou informações essenciais sobre o tema.
Entre os principais fatores de risco do câncer de mama estão o envelhecimento e, simplesmente, ser mulher. Outros fatores incluem menarca precoce (antes dos 12 anos) e menopausa tardia (após os 55 anos), o que aumenta o tempo de exposição ao estrogênio. Hábitos como tabagismo, consumo de álcool, além do histórico familiar de câncer de mama ou ovário e a presença de mutações genéticas, especialmente em mulheres com casos de câncer antes dos 50 anos, também elevam o risco.
A detecção precoce influencia diretamente o tratamento e o prognóstico da doença. Identificar o câncer em seus estágios iniciais possibilita tratamentos menos invasivos, menos custosos e com maiores chances de cura. A mamografia é a principal ferramenta de rastreamento, recomendada anualmente a partir dos 40 anos, conforme a Sociedade Brasileira de Mastologia. Embora o Ministério da Saúde indique o exame a partir dos 50 anos, as sociedades especializadas apontam para a importância da mamografia desde os 40, pois muitos casos de câncer de mama ocorrem em mulheres mais jovens. Para aquelas consideradas de alto risco, devido ao histórico familiar ou mutações genéticas, o rastreamento deve começar já aos 25 anos e incluir exames complementares como ressonância magnética e ultrassom.
O autoexame das mamas também é relevante, não como substituto da mamografia, mas como ferramenta de autoconhecimento. Ele ajuda as mulheres a identificarem mudanças nas mamas e a procurarem atendimento médico diante de qualquer alteração. Para as que ainda menstruam, o ideal é realizar o autoexame após o período menstrual, quando as mamas estão menos sensíveis. Já as mulheres na menopausa podem fazê-lo em qualquer período do mês. O objetivo é observar o contorno das mamas, alterações na pele ou na presença de líquidos, além de realizar a palpação circular, buscando por nódulos.
Quanto aos mitos relacionados ao câncer de mama, a Dra. Flávia esclareceu que a mamografia não causa câncer, como alguns acreditam. Na verdade, a realização regular do exame reduz em até 30% o risco de morte por câncer de mama. Outro mito comum é o de que a mamografia pode romper próteses de silicone, o que não é verdade. O exame é seguro, mesmo para mulheres com próteses, e continua sendo a escolha indicada para o rastreamento. Além disso, desodorantes e antitranspirantes não causam câncer de mama, um equívoco bastante disseminado.
Em relação às abordagens complementares ao tratamento médico, a manutenção da qualidade de vida durante e após o tratamento é fundamental. Atividades físicas, acompanhamento psicológico e controle do peso são essenciais. Práticas de controle de estresse, como yoga e mindfulness, também podem trazer benefícios. Além disso, é crucial que as pacientes oncológicas conheçam seus direitos legais, já que barreiras financeiras podem dificultar o acesso ao diagnóstico e tratamento. O apoio de assistentes sociais é fundamental nesse processo.
A Dra. Flávia destacou, ainda, a responsabilidade dos profissionais de saúde em prestar atenção aos sintomas de mulheres jovens, especialmente no climatério. O diagnóstico precoce é crucial, e o “gaslighting”, prática de desvalorização de sintomas reais, deve ser evitado. Acolher essas pacientes de maneira adequada pode fazer a diferença entre tratar a doença em estágio inicial ou lidar com uma condição mais avançada.
Este episódio reforça a importância do cuidado contínuo com a saúde das mamas, ressaltando que a detecção precoce é fundamental para salvar vidas. A campanha Outubro Rosa serve como um lembrete de que a prevenção deve ser uma prática constante, e o conhecimento sobre o próprio corpo é um passo essencial nesse processo.