ANTICONCEPÇÃO NA TRANSIÇÃO MENOPÁUSICA

Por: Dr. Edson Santos Ferreira Filho e alunas: Nayara Sousa Santos e Caroline Burch
A fase climatérica, caracterizada pela transição da idade reprodutiva para a idade não reprodutiva, é um período do ciclo vital feminino marcado por alterações, em função da instabilidade hormonal típica da fase pré-menopáusica, que se iniciam em média por volta dos 40 anos. Nesta fase, há riscos de uma gestação tardia que, se não planejada, pode acarretar desfechos obstétricos desfavoráveis. Segundo a pesquisa “Nascer no Brasil”, sabe-se que mais da metade das gestações que ocorrem no Brasil não são planejadas, o que nos faz refletir sobre a importância da prevenção consciente, segura e participativa, que pode ser atingida através do planejamento familiar.

O protocolo de saúde sexual e planejamento reprodutivo do Ministério da Saúde (2013) afirma que todas as pessoas devem ter direito a fazer sua escolha reprodutiva e de ter acesso a informações qualificadas e seguras, além dos meios e métodos para atingir seus objetivos. Além disso, esclarece que as ações de planejamento familiar são voltadas para o fortalecimento dos direitos sexuais e reprodutivos dos indivíduos e se baseiam em ações clínicas, preventivas, educativas, oferta de informações e dos meios, métodos e técnicas para regulação da fecundidade.

A perimenopausa é o período em que ocorre o declínio da função cognitiva, até que a menopausa – isto é, a última menstruação – tenha ocorrido, o que geralmente se dá entre 40 e 55 anos. Este período é marcado pela instalação da irregularidade menstrual, que pode ser controlada com métodos hormonais. A escolha do método contraceptivo ideal deve ser o que melhor se adapta a cada mulher, devendo levar em consideração o contexto de vida dessa mulher, assim atendendo às necessidades quanto à eficácia, mantendo o menor índice de efeitos colaterais e trazendo, por fim, o maior índice de satisfação.

Na perimenopausa, ainda que os ciclos sejam irregulares, há ovulações esporádicas, ou seja, ainda pode haver demanda contraceptiva. Segundo os critérios médicos de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde (OMS), idade não contraindica nenhum método anticoncepcional, desde que não existam outras condições clínicas, como tabagismo, hipertensão arterial descontrolada, enxaqueca ou outras situações que possam elevar o risco para doença cardiovascular.

Compreende-se que a gravidez em mulheres climatéricas envolve maior risco, tanto para a mãe como para o feto. A efetividade de métodos hormonais, intrauterinos e cirúrgicos é alta; contudo, métodos comportamentais podem ter maior chance de falha, devido à imprevisibilidade menstrual intrínseca à falha ovulatória. Independentemente do método escolhido, o seu uso deve ser mantido até um ano após a instalação da menopausa, o que ficará evidente pela ausência de menstruação em usuárias de método não hormonal ou elevação dos níveis séricos do hormônio folículo-estimulante (FSH).

Além de preocupações com a gravidez, também devemos atentar para a possibilidade de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), cuja incidência pode ser reduzida com o uso de preservativos externos e internos, profilaxia pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP), vacinação contra Hepatite B e HPV, testagem das parcerias sexuais e tratamento de pessoas diagnosticadas com ISTs.

A escolha do método deve ser feita levando em consideração as demandas da paciente, os critérios médicos de elegibilidade, as expectativas em relação ao padrão de sangramento e a disponibilidade do método conforme contexto, sempre em decisão conjunta entre paciente e profissional de saúde.

Referências:

SCHÖNHOLZER, Tatiele Estefâni et al. Planejamento reprodutivo de mulheres climatéricas usuárias da Atenção Primária à Saúde Mutirão. Journal of Nursing and Health, v. 7, n. 1, p. 58-66, 2017. Disponível em: <https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/enfermagem/article/view/8951/7091> Acessado em: 25 de Abril de 2022

DE ALMEIDA, Luiz Carlos. Métodos contraceptivos: uma revisão bibliográfica. 2011. Disponível em: <https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-A79HA8/1/monografia_luiz_carlos_de_almeida.pdft> Acessado em: 30 de Mar de 2022.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo. SESA, O que são IST. 2022. Disponível em: <https://saude.es.gov.br/o-que-sao-ist> Acessado em: 30 de Mar de 2022.

TRINDADE, Raquel Elias da et al. Uso de contracepção e desigualdades do planejamento reprodutivo das mulheres brasileiras. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, p. 3493-3504, 2021. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/csc/a/wYMBdngQjR9dRs48jbwjCVL/?format=html&lang=pt> Acessado em: 25 de Abril de 2022

BRASIL. Saúde sexual e saúde reprodutiva. 2013. Editora do Ministério. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_sexual_saude_reprodutiva.pdf> Acessado em: 25 de Abril de 2022

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