INSUFICIÊNCIA OVARIANA PREMATURA: O QUE É?

Por: Dra Ana Gabriela Pontes, e alunas Maély Ignácio e Mariana Martins.

Nos ovários da mulher, há o que chamamos de folículos ovarianos – pequenas bolsas de líquido que envolvem em seu interior a célula reprodutiva feminina, os futuros óvulos. A mulher já nasce com o seu estoque de folículos completos, formados ainda na vida intrauterina e na puberdade, dispõe de 300 a 400 mil folículos para serem “gastos” ao longo de sua vida reprodutiva. Em torno dos 48 a 50 anos, a população folicular se esgota, o que se traduz, clinicamente, pela irregularidade menstrual do climatério e pela menopausa, com a finalização dos ciclos menstruais e do período reprodutivo. Contudo, a insuficiência ovariana prematura é uma condição também clínica que antecipa esse quadro e a mulher para de menstruar antes dos 40 anos.

A maior parte das insuficiências ovarianas prematuras são idiopáticas (cerca de 50% das pacientes), ou seja, a causa de sua ocorrência não é definida. Entretanto, existem causas genéticas, onde o antecedente familiar é importante (mãe, avó com insuficiência), e doenças que podem predispor o quadro clínico em questão, como o lúpus, o hipotireoidismo descompensado e doenças hematológicas. Existem também situações chamadas de causas iatrogênicas, em que a paciente realiza alguma cirurgia, seja por motivo benigno e precisa retirar o ovário, ou por uma causa não benigna como o câncer de ovário.  

Antigamente, usava-se o termo menopausa precoce, porém, é um termo que estigmatizava as pacientes, como esclarece a Dra. Ana Gabriela Pontes, responsável pelo setor de ginecologia endócrina e reprodução do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu e pós-doutoranda em ginecologia endócrina do programa de pós-graduação em Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP. Por isso, o termo insuficiência ovariana prematura é mais correto: “insuficiência” descreve adequadamente a redução da função e da reserva ovariana; “prematura” está mais ligado ao conceito do momento em que ocorre, isto é, antes dos 40 anos. Quando se fala da menopausa natural, que acontece entre os 48 e 50 anos, estamos nos referindo àquela mulher que fica por mais de um ano sem menstruar, apresentando ou não sintomas. Na insuficiência ovariana prematura, a mulher que menstrua regularmente começa a ter falhas de menstruação. A investigação está indicada em mulheres que apresentem ciclos menstruais longos ou períodos de 4 a 6 meses sem menstruar, e ela pode ter ou não os sintomas climatéricos, como as ondas de calor e ressecamento vaginal. O principal exame diagnóstico é a dupla dosagem de FSH (hormônio folículo estimulante, produzido pela glândula hipófise, responsável pela maturação dos óvulos).

Felizmente, há tratamento para a insuficiência ovariana prematura. Durante a vida reprodutiva, o corpo da mulher produz um hormônio chamado estrogênio, que atua no desenvolvimento puberal, dos pelos, das mamas, na proteção cardiovascular e óssea. Dessa forma, ao se realizar o diagnóstico de insuficiência ovariana prematura, é necessária a prescrição de terapia hormonal com estrogênio, a menos que a mulher tenha contraindicação ao uso de hormônio. Pela terapia, há uma diminuição do risco da osteopenia e da osteoporose, situações que aumentam os riscos de fratura, e diminuição dos riscos cardiovasculares. Contudo, o tratamento adequado inclui não só a terapia hormonal, como também o controle e redução de fatores de risco como tabagismo, realização de atividade física regular, manutenção do peso corporal dentro da faixa saudável, dieta equilibrada e controle da pressão arterial, que podem auxiliar na cardioproteção.

Ademais, a gestação nesse quadro é rara, com chances de 5 a 10%, mas se a mulher tem o desejo de engravidar, há a possibilidade de uma gestação por reprodução humana assistida com óvulos de doadoras, que no Brasil, são de doadoras desconhecidas. Caso a mulher não queira engravidar, a terapia hormonal é convertida em anticoncepção de estrogênio e progesterona combinados. 

A terapia hormonal é indicada a longo prazo, se estendendo até os 50 anos, idade esperada para a menopausa natural. Após os 50 anos, a terapia hormonal poderá ser mantida, devendo o médico avaliar, em conjunto com a paciente, as indicações a partir dessa idade, que só então se assemelhavam às de mulheres climatéricas.

Essa matéria foi extraída de uma entrevista entre a doutora Ana Gabriela Pontes e a aluna Maély Ignácio e que você pode conferir no nosso podcast no Spotify 🎧 https://open.spotify.com/episode/6yINeVm31ukvUrZXwxixzK?si=mCmIJw-LT_6M0Zxdnz-lAg&utm_source=copy-link

Referências 

Tratado de Ginecologia FEBRASCO 1°Edição

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