Março Amarelo: Desvendando a Endometriose com Dr. Luciano Gibran

Por: Maély Ignácio e Mariana Martins

Março Amarelo, um mês dedicado à conscientização e prevenção da endometriose, uma doença ginecológica que afeta milhões de mulheres em todo o mundo. Para aprofundarmos o conhecimento sobre essa condição complexa, o Menopausando entrevistou o renomado Dr. Luciano Gibran. Ele é doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da USP, chefe do setor de dor pélvica crônica do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Programa de Endometriose da Prefeitura Municipal e secretário-geral da Sociedade Brasileira de Endometriose e Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva.

A endometriose é uma doença inflamatória que afeta a qualidade de vida das mulheres, ocorrendo durante a fase reprodutiva, principalmente devido ao estímulo do estrogênio em células endometriais ectópicas (fora do local de origem). Caracterizada pela presença do endométrio fora do útero, pode causar dores intensas, cólicas menstruais excessivas, dispareunia e dificuldade para engravidar. Geralmente desenvolve-se em mulheres com predisposição genética, iniciando-se frequentemente na adolescência tardia ou adulta jovem. Seu pico ocorre entre 25 e 35 anos, continuando após os 35 anos, com sintomas diminuindo na fase climatérica e desaparecendo na pós-menopausa, embora não em todas as mulheres.

A endometriose é uma condição não esclarecida completamente em termos de sua fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. Um atraso no diagnóstico é comum, pois muitas mulheres foram ensinadas a acreditar que as dores menstruais são normais. Este mito perpetuado ao longo dos anos tem sido difícil de desfazer, apesar dos esforços da comunidade médica. Mulheres muitas vezes chegam ao climatério sem saber que sofreram com endometriose por toda a vida, o que é lamentável, pois essa condição pode afetar sua fertilidade. Até recentemente, a endometriose não era detectada em exames de rotina, contribuindo para diagnósticos equivocados de infertilidade inexplicada. Essa falta de conhecimento levou muitas mulheres a enfrentar desafios significativos ao longo de suas vidas sem compreender a verdadeira causa de seus sintomas.

A conscientização sobre a endometriose muitas vezes surge de conversas informais entre mulheres, já que muitas descobrem sua condição por meio da internet ou de relatos de amigas. O diagnóstico da doença ainda é um desafio, com muitas mulheres relatando que seus ginecologistas não suspeitavam da condição. O exame físico realizado durante consultas ginecológicas pode detectar endometriose em cerca de 65% a 70% dos casos, principalmente nos casos mais graves. No entanto o diagnóstico definitivo engloba à síndrome clínica principalmente que engloba dores pélvicas, dismenorréia (cólica menstrual), dispareunia (dor na relação sexual), disquesia (dificuldade para evacuar), disúria (dor ao urinar) e dificuldades para engravidar e também há a importância da complementação diagnóstica com exames como o ultrassonografia e ressonância magnética de pelve. É importante ressaltar que o subdiagnóstico não é exclusivo do Brasil e ocorre em todo o mundo.

O diagnóstico tardio pode levar a anos de sofrimento para as mulheres, com muitas enfrentando desafios no trabalho e nas relações pessoais devido à dor incapacitante. No climatério, os sintomas da endometriose podem ser confundidos com sintomas normais da menopausa, o que pode levar a um tratamento inadequado. É essencial que o tratamento hormonal na perimenopausa e na pós menopausa considere a presença de endometriose, pois o uso isolado de estrogênio pode reativar a doença. O tratamento definitivo da endometriose é cirúrgico, mas o tratamento hormonal com progestagênios é comum para aliviar os sintomas. A tibolona também é uma opção de terapia hormonal, mas nem todas as mulheres podem ou devem usar terapia hormonal. Em última instância, o tratamento hormonal deve ser monitorado pelo ginecologista e lembrar que existem também outros tratamentos complementares e não hormonais que auxiliam no alívio dos sintomas da perimenopausa e pós menopausa e que podem ser utilizados por mulheres com endometriose e que vivenciam a peri e pós menopausa. 

Para saber mais sobre o tema, ouça o novo episódio do nosso podcast: https://open.spotify.com/episode/6i1cQDc9mr7La2QQCaaPdt?si=GMnqxt5QTKeUMv6vdP0f3Q

Você também vai gostar