Por: Maély Ignácio e Mariana Martins
Em meio ao “Março Lilás”, nós do Menopausando dedicamos um episódio do nosso podcast ao importante tema: conscientização sobre a prevenção do câncer de colo de útero. Entrevistamos a Professora Cristiane Lima Roa, Médica assistente da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Mestre em ginecologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Coordenadora da Saúde da Mulher no Município de Diadema, Especialista em genitoscopia e papilomavírus humano pela Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, especialista em Sexualidade Humana pelo Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática / Faculdade de Medicina do ABC.
O câncer de colo de útero é uma das principais causas de morte entre as mulheres no Brasil, sendo o terceiro câncer mais comum. Em 2023, foram registrados 17.010 novos casos e estima-se que ocorram cerca de 6.000 mortes por ano devido a essa doença. No entanto, é uma doença evitável, principalmente com ações de prevenção na atenção primária à saúde.
O papilomavírus humano (HPV) é reconhecido como o principal agente causador do câncer de colo de útero. Cerca de 97% dos casos desse tipo de câncer são atribuídos ao HPV de alto grau. É importante ressaltar que nem todos os subtipos de HPV têm o potencial de causar câncer genital. No Brasil, os subtipos mais comuns são o 16 e 18. Portanto, o diagnóstico positivo para HPV de alto risco não significa automaticamente o desenvolvimento do câncer, mas indica a necessidade de vigilância e acompanhamento médico adequados. Além da presença do HPV de alto risco, vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento do câncer de colo de útero. Relações sexuais desprotegidas sem uso de preservativo interno ou externo e infecções sexualmente transmissíveis, como clamídia e herpes, aumentam a vulnerabilidade e o contágio pelo vírus. O tabagismo também é um fator de risco significativo, pois estudos mostram uma associação entre o hábito de fumar e o desenvolvimento do câncer cervical. Outros fatores, como subnutrição, multiparidade e baixo conhecimento sobre prevenção, também estão relacionados ao aumento do risco dessa doença. É essencial conscientizar sobre esses fatores e promover a educação em saúde, destacando o papel dos profissionais de saúde nesse contexto.
O exame de Papanicolau é fundamental para o rastreamento do câncer de colo do útero. Este exame é acessível, gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e é considerado de leve desconforto. Ele consiste em detectar células alteradas que podem indicar a presença do câncer. Caso o resultado do Papanicolau sugira alguma alteração, o médico pode solicitar uma colposcopia. Este procedimento utiliza um microscópio para examinar o colo do útero e indicar a presença do câncer de colo do útero e lesões precursoras, ou seja, que antecedem o câncer. Se confirmada a presença de lesões, uma biópsia é realizada para determinar se são pré-cancerígenas, cancerígenas ou benignas. Além disso, o teste de DNA HPV também pode ser realizado, porém, é necessário avaliar se o vírus está causando lesões. A detecção precoce é essencial, pois o desenvolvimento do câncer invasor pode levar de 15 a 20 anos. É importante ressaltar a importância da realização periódica do Papanicolau, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde, e refletir sobre estratégias para promover a conscientização e aumentar a adesão a este exame simples e acessível.
A vacina contra o HPV é uma ferramenta crucial na prevenção do câncer de colo de útero. Desenvolvida como uma vacina profilática, ela é destinada a prevenir a infecção pelo vírus, que é o principal agente causador desse tipo de câncer. O Brasil, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), oferece a vacina contra o vírus HPV para meninas e meninos com idades entre 9 e 14 anos (14 anos, 11 meses e 29 dias), além de homens e mulheres transplantados, pacientes em tratamento oncológico com quimioterapia e radioterapia, pessoas vivendo com HIV/Aids e vítimas de violência sexual. De acordo com o Programa Nacional de Imunizações, o esquema de vacinação contra o HPV consiste em duas doses, com um intervalo de seis meses entre elas, para meninas e meninos de 9 a 14 anos de idade (14 anos, 11 meses e 29 dias). Para grupos com condições clínicas especiais, incluindo pessoas de 9 a 45 anos de idade vivendo com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos e de medula óssea, pacientes oncológicos, imunossuprimidos por doenças e/ou tratamento com drogas imunossupressoras, o esquema é de três doses, com um intervalo de dois meses entre a primeira e a segunda dose e seis meses entre a primeira e a terceira dose (0, 2 e 6 meses). É necessário obter prescrição médica para a vacinação deste grupo. A seguir, está o esquema vacinal para pessoas vítimas de violência sexual:
- Pessoas de 9 a 14 anos de idade, de ambos os sexos: devem receber duas doses conforme o Calendário Nacional de Vacinação de rotina, com um intervalo de seis meses entre a primeira e a segunda dose (0 e 6 meses).
- Pessoas de 15 a 45 anos de idade, de ambos os sexos: devem receber três doses, sendo duas doses com um intervalo de dois meses entre a primeira e a segunda dose, e a terceira dose administrada seis meses após a primeira dose (0, 2 e 6 meses).
- Pessoas de 9 a 45 anos de idade, de ambos os sexos com indicações especiais (como vivendo com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos, imunossuprimidos por doenças e/ou tratamento com drogas imunossupressoras): devem receber três doses, sendo duas doses com um intervalo de dois meses entre a primeira e a segunda dose, e a terceira dose administrada seis meses após a primeira dose (0, 2 e 6 meses).
Pessoas que já completaram o esquema vacinal não precisam de doses adicionais. Aqueles com esquema incompleto devem receber as doses necessárias para completar o esquema vacinal. Sendo assim, a vacinação é uma estratégia essencial na luta contra o câncer de colo de útero e deve ser promovida como parte dos esforços de saúde pública.