Por: Caio Portella
Durante a transição menopausal é comum aparecerem sintomas psicológicos, urogenitais e sexuais, impactando na qualidade de vida da mulher. Apesar das alterações hormonais, sabe-se que este período representa também importantes mudanças sociais e psicológicas, muitas vezes coincidindo com a saída dos filhos de casa e aposentadoria das mulheres.
Globalmente aproximadamente 51% das mulheres neste período usam recursos alternativos ou complementares para enfrentar o climatério e mais de 60% percebem estes como eficazes para os sintomas desta fase (Nedrow et al. 2006). O uso de recursos terapêuticos, denominados pela OMS como Medicinas Tradicionais Complementares e Integrativos (MTCI) no brasil mais conhecido como PICS, Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, muitas vezes se deve à insuficiência de acesso a recursos convencionais de cuidado ou mesmo a busca por outras abordagens em saúde.
Essas práticas foram institucionalizadas por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), e são muito diversas. As indicações são embasadas no indivíduo como um todo, considerando-o em seus aspectos físico, psíquico, emocional e social.
As PICS também contribuem para atenuação dos sintomas do período climatérico. Nesse campo, destacam-se principalmente as práticas de Meditação, Acupuntura, Prática corporal chinesa, Yoga e as Plantas medicinais, mas também Auriculoterapia, Shantala, Reflexologia e a Aromaterapia.
Segundo o artigo Complementary and Alternative Medicine for Menopause, que tece uma análise crítica da literatura sobre o benefício das PICS no climatério, as práticas mentais e corporais, são seguras e contribuem para o tratamento dos sintomas mais comuns desse período, como sintomas vasomotores, disfunção sexual e problemas com o sono. Essas práticas podem ainda reduzir o estresse e melhorar a qualidade de vida na transição menopausal e na pós menopausa.
Em grande parte, o crescimento dessa área se deve à produção de evidências sobre as MTCI, que tem aumentado significativamente nos últimos 20 anos (Treister-Goltzman and Peleg 2015). A América do Norte, a Ásia oriental e a Europa têm se destacado pelo número de publicações neste campo, sendo que o EUA é mundialmente reconhecido pelo grande volume de investimento em pesquisa na área (Adams 2019). A principal entidade nos EUA é o National Center of Complementary and Integrative Health do National Institute of Health (NCCIH – NIH), agência do Governo Federal Americano para a investigação científica sobre os diversos sistemas, práticas e produtos de saúde que geralmente não são considerados parte da medicina convencional. O NCCIH investe ao redor de 150 milhões de dólares anualmente em pesquisa com ênfase no estudo de produtos naturais e terapias mente-corpo como meditação e yoga e tem se dedicado ao enfrentamento de problemas de saúde pública como a crise dos opióides nos EUA (Reddy 2016).
O Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN), o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde (Bireme/OPAS/OMS) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com apoio da Coordenação Nacional das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde do Ministério da Saúde realizaram mapeamentos de evidência na área.
Estes mapas resultam em achados científicos importantes a partir de mais de 1500 revisões sistemáticas, com achados científicos sobre várias modalidades de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, aproximando a ciência da gestão em saúde e servindo de base para a implementação das práticas integrativas e complementares como política pública.
Os Mapas podem ser acessados gratuitamente na BIREME, e caracterizam-se pela sistematização, identificação, descrição e caracterização da produção científica relativa a recursos terapêuticos integrativos que fazem parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de uma ampla busca sistemática de documentos nas principais bases de dados, realizada por pesquisadores especialistas nas temáticas.
Referências:
Adams J. Public Health and Health Services Research in Traditional, Complementary and Integrative Health Care: International Perspectives. World Scientific; 2019.
Mori ME, Coelho VLD. Mulheres de corpo e alma: aspectos biopsicossociais da meia-idade feminina. Psicol Reflexão e Crítica. 2004;17:177–87.
Nedrow A, Miller J, Walker M, Nygren P, Huffman LH, Nelson HD. Complementary and alternative therapies for the management of menopause-related symptoms: a systematic evidence review. Arch Intern Med. 2006;166(14):1453–65.
Portella CFS, Sorpreso ICE, de Assis A da SM, de Abreu LC, Junior JMS, Baracat EC, et al. Meditation as an approach to lessen menopausal symptoms and insomnia in working women undergoing the menopausal transition period: A randomized controlled trial. Adv Integr Med. 2020;
Reddy B. What’s New in the NCCIH Strategic Plan. Acupunct Today [Internet]. 2016;17(10). Available from: http://www.acupuncturetoday.com/mpacms/at/article.php?id=33251
Johnson, Alisa, Lynae Roberts, and Gary Elkins. “Complementary and alternative medicine for menopause.” Journal of evidence-based integrative medicine 24 (2019): 2515690X19829380.
Treister-Goltzman Y, Peleg R. Trends in publications on complementary and alternative medicine in the medical literature. Vol. 12, Journal of Complementary and Integrative Medicine. 2015. p. 111–5.