A Confissão de Leontina de Lygia Fagundes Telles e a injustiça social
Stefany Porto Santos
A Confissão de Leontina, de Lygia Fagundes Telles, aborda injustiças sociais, violência contra mulheres e reflexões sobre dignidade humana e processo legal
Da obra
O conto “A confissão de Leontina” foi publicado pela primeira vez em 1949 e tem como sua autora Lygia Fagundes Telles, escritora e advogada.
No conto, narrado pela narradora-personagem Leontina, são contados os pesares, percalços e sofrimentos da vida de uma mulher pobre, vítima de injustiças, abandonos e de pouco amparo. A cada frase lançada é possível enxergar uma série de “faltas”, que existem tanto em sentido de amparo familiar, como de amparo jurídico/estatal.
Assim, Leontina vivencia a falta de incentivo educacional e pedagógico; é vítima de trabalhos excessivos desde muito nova, acarretando o prejuízo do seu desenvolvimento; presencia uma condição análoga à escravidão; é presa sem o devido processo legal e é taxada como criminosa sem receber os seus devidos direitos. Todas essas situações são prova de imenso desamparo e trazem consequências dolorosas na vida de uma mulher que só tentou por muito tempo dizer que “estava tudo bem” até que, por fim, veio a perceber que não estava nada bem.
Tem-se a crueldade vivenciada por uma mulher, de canto a canto no conto, no qual Leontina fala sobre a tortura que vivenciou na cadeia, onde lhe davam choques, bem como sobre como não foi levada em conta a ação de legítima defesa que a levou à prisão. Situações odiosas que ferem o artigo 5º da DUDH que vai contra a tortura, bem como a disposição do artigo 23 do Código Penal, que versa sobre a legítima defesa como pressuposto legal para a exclusão de ilicitude.
Conclusão
A leitura é forte, reflexiva e importante pois nos traz reflexões acerca do devido processo legal e de como ele é fundamental para que pessoas não sejam vítimas de injustiças, bem como sobre o fato de o indivíduo ser dotado de dignidade humana. Diante disso, os órgãos estatais precisam estar cada vez mais moldados por uma humanidade empática, porque ao olharem para as mulheres, que são todos os dias vítimas do patriarcado e de inúmeras violências, é preciso estender garantias, incentivo e proteções… até que as ações violentas e preconceituosas não mais existam.