Data do encontro: 24 de maio de 2021

Composta com a ajuda de Jacques Levy, um psicólogo estadounidense, “Hurricane” discorre, em seus 8 minutos e 31 segundos, sobre a vida de Rubin “Hurricane” Carter, um lutador de sucesso que perdeu sua carreira para um sistema de justiça enviesado e preconceituoso. É uma canção de protesto contra esse próprio sistema que tirou a chance de uma pessoa se tornar uma “grande estrela mundial” por causa de sua cor de pele, principal argumento utilizado no julgamento que o culpou pelo triplo homicídio ocorrido no Lafayett Bar.

A música, entretanto, serviu de pano de fundo a um debate acalorado sobre a música ser ou não literatura, haja vista que Bob Dylan, seu compositor e intérprete, ganhou um Nobel de Literatura em 2016, tendo publicado somente 3 livros, dos quais nenhum ganhou particular destaque a ponto de ser considerado digno de um Nobel.

Além disso, a própria comissão responsável pela avaliação deixou claro que Dylan ganhava o prêmio mais por sua competência em compor canções do que por seu dom de escrever livros.

Por fim, o quanto a sua nacionalidade pesou na escolha desse prêmio? É notório que, nessa mesma edição, concorriam nomes de peso originários de países não pertencentes ao denominado “norte global”, como Lygia Fagundes Telles. Será que esse resultado teria sido diferente caso os demais nomes também fossem estadunidenses? Inúmeros grandes compositores não norte-americanos passaram ao largo desse prêmio, indicativo de que talvez haja um certo favoritismo da academia na escolha de seus vencedores.

– Julia Duarte Santos