Projeto – Padrões Comportamentais de Gatos Indicativos de Apego ao Tutor: Teste da Base Segura

Neste projeto ampliamos o foco de estudo do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Expressão das Emoções no Homem e nos Animais para incluir gatos (Felis catus).

Estudaremos o apego aplicando para a relação do humano com o animal de estimação conceitos e metodologias desenvolvidos na psicologia do desenvolvimento com inspiração etológica, a partir dos estudos pioneiros de John Bowlby (1969, 1973). Baseado em princípios evolucionistas, propôs que os comportamentos de apego na infância são regulados por um sistema comportamental inato que funciona para promover a segurança e a sobrevivência de bebês e crianças mantendo-as na proximidade de um cuidador responsivo. A tendência para formarem vínculos com seus cuidadores primários resultou de pressões de seleção no Ambiente de Adaptação Evolutiva (AAE), uma vez que comportamentos de apego promoveriam a sobrevivência sob ameaça de predação. A sua teoria sobre apego e as pesquisas que estimulou levaram ao questionamento da visão tradicional de que a alimentação está na base da vinculação (conhecida como “amor pelo armário de comida” ou, em inglês “cupboard love”), demonstrando a importância da responsividade e do cuidado como determinantes primários do apego.

O Procedimento da Situação Estranha foi desenvolvido pela psicóloga Mary Ainsworth (1970) para avaliar o apego de crianças à mãe por meio de uma sequência de episódios de separações curtas e reencontros (Van Rosmalen, Van der Veer & Van der Horst, 2015). O comportamento das crianças em relação às mães nos dois episódios de reunião era observado com foco em: (a) Proximidade e busca de contato, (b) manutenção de contato, (c) esquiva de proximidade e contato e (d) resistência ao contato e ao conforto. Outros comportamentos observados incluíam: (a) comportamentos exploratórios (tais como andar pela sala, brincar com brinquedos disponíveis), (b) comportamentos de busca (incluindo seguir a mãe até a porta, bater na porta, orientar-se para a porta, olhar para a porta, ir até a cadeira vazia da mãe, olhar para a cadeira vazia da mãe), (c) exibições de afeto (chorar, sorrir). Com base nestes comportamentos, Ainsworth (1970) identificou três estilos principais de apego: seguro, ansioso e evitativo.

Podemos aplicar a teoria de apego de Bowlby como referencial conceitual para compreender o vínculo humano–animal de estimação, uma vez que quatro características da relação de apego parecem se aplicar também a este vínculo: busca de proximidade, base segura para exploração do ambiente, porto seguro diante de problemas e angústia de separação. Tutores com frequência buscam a proximidade de seus animais de estimação e derivam prazer desta proximidade. A perda de um animal de estimação pode gerar considerável sofrimento, insônia, perda de dias de trabalho e outras dificuldades psicológicas e sociais. O Questionário de Avaliação de Apego ao Animal de Estimação (Pet Attachment Questionnaire) desenvolvido por Zilcha-Mano, Mikulincer e Shaver, tem mostrado a existência de relação de apego e seus estilos correspondentes por parte do tutor em relação ao animal (seguro, ansioso, evitativo).

Vitale, Behnke & Udell (2019) fizeram uma adaptação da situação estranha de Ainsworth para gatos que denominaram Teste da Base Segura. De acordo com este protocolo de teste, um gato passa 2 minutos numa sala nova com o tutor, seguido por 2 minutos sozinho e, então, por 2 minutos de reunião com o tutor. A Figura 1 ilustra padrões indicativos de: (a) apego seguro, em que o animal usa o tutor como base para a exploração do ambiente, (b) apego ansioso, em que o animal passa a maior parte do tempo no colo do tutor e não explora o ambiente e (c) apego evitativo, em que o animal se posiciona num canto da sala, longe do tutor, e não explora o ambiente. N. De 70 gatos testados entre 3 e 8 meses, 64,3% foram categorizados como tendo apego seguro e 35,7% como tendo apego inseguro. Daqueles inseguros, 84% apresentaram o padrão ansioso e 12% o padrão evitativo.

Neste projeto iremos comparar gatos do Gatil da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) (Fig. 2) e gatos domiciliados no Teste da Base Segura de Vitale et al. (2019). O Gatil tem um Programa de Enriquecimento conduzido por seis alunos do curso de Zootecnia, que trabalham em grupos de dois ou três a cada dia. Atualmente há 10 gatos para serem testados no Teste da Base Segura. Este número irá se alterar com a entrada de novos animais que serão testados também, após um período de adaptação e tratamento e participação no Programa de Enriquecimento. Após a adoção dos animais, pretendemos, na medida da disponibilidade dos tutores, testar também os gatos adotados depois de seis meses de convivência com os tutores. Desta forma, poderemos comparar cada gato testado em duas condições: (a) com cada um dos participantes do Programa de Enriquecimento, que é uma situação de apego indiferenciado ou de apego com múltiplas figuras e (b) com o tutor que o adotou, que é uma situação individualizada de apego. Pretendemos também comparar os estudantes participantes no Programa de Enriquecimento em duas condições: (a) com cada um dos animais do Gatil e (b) com o seu próprio animal de estimação, caso houver.

Além de participar do Teste da Base Segura, os participantes do Programa de Enriquecimento e os Tutores irão responder à versão brasileira do Questionário de Apego ao Pet [Pet Attachment Questionnaire (PAQ) – Zilcha-Mano, Mikulincer & Shaver, 2011]. Poderemos, então, comparar o seu auto-relato na situação de institucionalização do Gatil e na situação de domicilio.

 

 

Docente da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). 

Bióloga formada pela Universidade de São Paulo (USP).

Docente no Instituto de Psicologia da USP (IPUSP).

Docente no IPUSP.

Para saber mais:

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