Mesa reúne Conselhos e ressalta a importância da ocupação desses espaços pela população, para que tenham voz ativa na construção de políticas públicas em prol da Justiça Climática
Ao dar início à mesa do Fórum Coop Clima intitulada “Lideranças em Foco: Diálogos com os Conselhos Municipais”, a mediadora Leandra Regina Gonçalves Torres, professora adjunta do Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), destacou que o projeto “Coop Clima” tem o objetivo de construir territórios resilientes, com planos e programas eficazes implementados por meio da parceria entre sociedade civil, governo e universidades.
Para Leandra, o princípio da justiça climática é o elemento chave para essa construção, a fim de garantir que existam planos, políticas e programas que evitem que a maior parte dos impactos recaia sobre as populações mais vulneráveis, que geralmente vivem em regiões e moradias em situação de risco. “E essa construção não será possível sem a participação popular nos Conselhos Municipais, que são os espaços que garantem essa cooperação entre os diferentes públicos”, disse.
Em relação à participação social nos Conselhos, existem diversas formas de colaboração e engajamento, mas o fundamental é que, uma vez abertos pelo poder público, esses espaços sejam utilizados com o objetivo de influenciar a construção de políticas públicas. “Os Conselhos são os espaços adequados para levantar as demandas do território por parte da própria sociedade civil”, ressaltou.
Para o debate, a mesa contou com a participação de representante dos Conselhos de Juventude, Segurança Alimentar e Economia Solidária.
Participação popular no planejamento do município
Paloma Melo, do Conselho da Juventude, enalteceu a importância dos Conselhos para possibilitar à sociedade civil uma presença mais efetiva junto ao governo e às Secretarias, de forma a participar do planejamento do município.
O Conselho da Juventude de São Vicente, com base no processo educacional, busca aproximar os jovens da sustentabilidade por meio da conscientização ambiental. A estratégia é suscitar uma mudança de hábitos, com a educação causando impacto nos núcleos familiares. Paloma também reforçou a relevância da presença das mulheres nesses colegiados. “O enfoque para a participação das mulheres dentro das atividades do Conselho tem como objetivo empoderar a força feminina a respeito da importância da sustentabilidade em seu cotidiano”, disse.
O colegiado realiza reuniões itinerantes em várias regiões do município, medida tomada para que os estudantes e jovens com dificuldades de locomoção tenham a oportunidade de participar das atividades dentro dos seus territórios, tenham voz, reconheçam o Conselho e tragam as suas contribuições para o combate às mudanças climáticas.
Uma das atividades desenvolvidas no âmbito da educação ambiental dos jovens é a limpeza de lixo das praias. “É uma iniciativa que visa a sustentabilidade emocional. Gera impacto sobre quem está na praia e vê o lixo como um problema a ser solucionado”, disse a conselheira, que comentou sobre a possibilidade de transformar a juventude, por meio da “potência” das redes sociais, em multiplicadores de conhecimentos em prol da sustentabilidade.
A importância da alimentação saudável
Celina Isabela, do Conselho de Segurança Alimentar, informou que o colegiado trabalha para mostrar que segurança alimentar não é só combate à fome, é qualidade de vida, e que é preciso o estudo sobre os alimentos para a criação de hábitos da alimentação saudável. “Temos que incentivar desde a primeira infância, uma vez que as crianças que não têm alimentação saudável terão problemas de saúde, como sobrepeso por insegurança alimentar e falta de nutrientes”.
Reativado em abril de 2023, o Conselho visa agrupar secretarias, como do Meio Ambiente, Saúde e Educação, às diversas ações existentes no território, por meio da implementação do Plano Municipal de Segurança Nutricional. Uma das metas é desenvolver um banco de alimentos, sobretudo para atender as famílias em estado de insegurança alimentar. “Para isso, é importante que se desenvolva um mapa de insegurança alimentar em São Vicente”, ressaltou. O Conselho também planeja aplicar um curso de reaproveitamento de alimentos e uma cozinha comunitária, uma vez que há uma taxa de 30% de desperdício de alimentos, desde a produção até o consumo.
O Conselho é composto por dois terços de representantes da sociedade civil e um terço do poder público, o que confere, na construção do plano, que a sociedade tenha maior peso para tomar as decisões e guiar a sua implementação. No entanto, Celina chamou a atenção para a dificuldade de uma participação mais ativa da sociedade civil. “As pessoas comparecem de forma espontânea, não ganham nada financeiramente e possuem dificuldades de locomoção até as reuniões”.
Reaproveitamento de materiais em respeito ao meio ambiente
Francisca Eliane, do Conselho de Economia Solidária, explicou que o colegiado atua para gerar trabalho e renda para a população carente. A questão climática é abordada dentro dos projetos com todo suporte e orientação, uma vez que a economia solidária visa o respeito ao meio ambiente e às pessoas que nele estão inseridas.
O Conselho oferece curso de corte e costura, em que se reaproveita o material que sobra do processo produtivo, para que o mínimo possível seja descartado no meio ambiente. “É só ver como os manguezais estão cheios de plásticos, o meio ambiente está sobrecarregado de materiais que não deveriam estar lá, isso é uma agressão”, alertou. Outra ação realizada é o trabalho de conscientização com as crianças sobre a importância de preservar o meio ambiente. “É brincando que se aprende e caminha para a formação de um adulto respeitoso e com ações sustentáveis”, disse.
Já a iniciativa Horta Entre Amigos, na comunidade do México 70, trabalha a questão da segurança alimentar por meio de uma horta comunitária autogestionada, que a própria comunidade trabalha e toma conta. “Essa ação gera uma nova forma de economia, prazer e bem-estar para quem está envolvido”, disse.
Francisca contou que o Conselho sempre teve um caráter itinerante dentro do poder público, tendo em vista a dificuldade dos servidores em participar das reuniões. “Já realizamos encontros itinerantes dentro das Secretarias e também já levamos conselheiros para empreendimentos parceiros”, disse.
Durante a mesa “Lideranças em Foco: Diálogos com os Conselhos Municipais” ficou evidente o potencial entre os três Conselhos (Juventude, Segurança Alimentar e Economia Solidária) em desenvolver ações integradas para avançar na agenda das mudanças climáticas em São Vicente. O Conselho de Economia Solidária, por exemplo, pretende iniciar uma ação para a limpeza dos mangues da região, em parceria com as escolas do município.
Para acesso completo à mesa “Lideranças em Foco: Diálogos com os Conselhos Municipais” clique aqui.