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Ex-presidente do CNPq defende aliança entre ciência básica e inovação

O professor Glaucius Oliva deu palestra no IFSC-USP no dia 12/06/2015. Crédito: Assessoria de Comunicação do IFSC/USP.

“Não há contradição entre ciência básica e inovação”, disse Glaucius Oliva, professor titular do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) e coordenador do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), em palestra ministrada nessa sexta-feira. Fazendo referência à sua experiência de cinco anos na presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Oliva expôs uma série de dados para tentar responder à pergunta: há futuro para a ciência brasileira? O vídeo da palestra na íntegra está disponível no IPTV USP.

Segundo Oliva, é comum entre políticos e empresários a ideia de que os cientistas só se interessam em publicar artigos e não se preocupam o suficiente em gerar patentes. Por outro lado, persiste na academia uma visão pouco afeita à possibilidade de transferência de conhecimento por meio da colaboração entre empresas e universidades. Os dois lados dessa crítica, defende ele, não deveriam mais ter lugar no século XXI.

O professor ponderou que o crescimento do PIB brasileiro na última década não acompanhou um aumento relativo do investimento com pesquisa e inovação. Em termos absolutos, os orçamentos de todas as agências de fomento brasileiras cresceram no período. Porém, enquanto países como a China e a Coreia do Sul aplicaram recursos cada vez maiores em ciência, tecnologia e inovação, o Brasil manteve o gasto no patamar de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado é que, apesar de haver mais dinheiro para financiar pesquisas, o Brasil viu aprofundar-se o déficit da balança comercial nos setores de economia de média-alta e alta densidade tecnológica – farmacêutico, TICs, complexo industrial da saúde, químicos, máquinas e equipamentos; todos muito sensíveis ao desenvolvimento científico.

No caso específico das patentes, embora a quantidade de registros também tenha aumentado ao longo dos últimos dez anos, a maior parte continua sendo de cientistas e instituições não residentes no Brasil. Para os empresários, esse é um motivo de critica às universidades. Oliva, porém, chamou a atenção para o papel das próprias empresas nessa equação. Nos Estados Unidos, por exemplo, a universidade que mais deposita patentes junto ao escritório de patentes norte-americano é apenas a 52ª instituição da lista geral, que inclui empresas e outras entidades. Já no Brasil, sete universidades e institutos de pesquisa estão entre as dez instituições que mais depositam patentes. “Isso é uma grande fonte de distorção, porque o locus da inovação é a empresa. É na empresa que você vai usar a criatividade para transformar uma ideia interessante em um produto que se possa vender. A verdade é que as empresas brasileiras não estão envolvidas nesse processo”, disse Oliva.

Criar patentes não é função central da universidade, mas isso não quer dizer que o ambiente acadêmico não possa se beneficiar delas. A literatura científica sobre inovação aponta que existe uma relação forte entre criação de patentes e publicação de artigos: os pesquisadores que mais criam patentes também são os que mais publicam. Além disso, o professor lembrou três casos brasileiros nos quais o conhecimento da academia foi determinante para colocar o Brasil em outro patamar tecnológico: a parceria entre a UFRJ e a Petrobras, que possibilitou a exploração do pré-sal; o estabelecimento do ITA como gérmen da Embraer; e a criação da Embrapa, como resultado do trabalho das grandes escolas de agronomia em São Paulo, Minas Gerais e Bahia.