CFOs: Trajetórias Diversas para Liderar no Mundo Corporativo
Publicado em 10/01/2025
Quando se pensa em CFO (Chief Financial Officer) — designação usada para se referir ao principal executivo financeiro de uma empresa, ou diretor financeiro — é comum associar esse cargo a uma formação específica em contabilidade ou finanças. Entretanto, você sabia que a graduação nessas áreas não é uma condição indispensável para alcançar a posição? Os caminhos para se tornar um líder na área financeira, uma posição cada vez mais essencial no ambiente corporativo, são variados e podem envolver diferentes combinações de habilidades técnicas (hard skills) e competências interpessoais (soft skills).
Conforme o sumário executivo elaborado pelo Reverbera (Reverbera PMS-FEA-USP), observou-se que, embora a graduação em áreas como contabilidade e finanças seja comum, representando 17,4% dos CFOs das empresas listadas na B3 (Brasil Bolsa Balcão), a maioria desses profissionais possui formação inicial em administração (30,6%), destacando-se também a formação inicial em economia (18,7%). Apesar de essas áreas poderem ser agrupadas na chamada formação em negócios e apresentarem interdisciplinaridades, chama a atenção o fato de a segunda área de formação inicial mais representativa ser engenharia (26,9%). Também há CFOs com formação inicial em direito (3,4%) e em outras áreas, como matemática, ciência da computação, relações internacionais e teologia, que, juntas, somam 3,1% do total.
Essa diversidade reflete o que Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco, destaca no prefácio da recente publicação lançada pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP), “CFO: Oportunidades e desafios sob a ótica de profissionais destacados”. Segundo ele, o contexto atual de negócios exige dos CFOs “uma formação cada vez mais abrangente e uma visão holística e estratégica para a organização”. Nessa mesma direção, destaca-se a fala de Joyce Saika, CFO da Nuclea, em entrevista para o CFO Experience: “uma das principais características de um CFO é a flexibilidade de se adaptar a diferentes ambientes. Digo isso com base na minha história, pois sou formada em química”.
Percebe-se que esses profissionais podem vir de diversas áreas. Mas, se esse é o caso, como eles adquirem os conhecimentos necessários para atuar na área financeira? A abrangência de formação e a visão holística dos CFOs são tipicamente alcançadas por meio de formação continuada. Em particular, para aqueles sem formação específica em finanças, cursos de MBAs ou especializações podem suprir lacunas de conhecimento técnico, capacitando os executivos a lidar com temas como análise financeira, gestão de risco e planejamento estratégico.
Conforme o sumário executivo elaborado pelo Reverbera (Reverbera PMS-FEA-USP), o principal diploma de formação continuada entre os executivos das empresas listadas na B3 é o MBA, obtido por mais de 60% dos CFOs ao longo de suas carreiras, seguido por cursos de especialização (13,1%) e mestrado (11,3%). Observa-se ainda que um pequeno número de CFOs (1,2%) obteve o grau de doutorado. No total, mais de 86% dos executivos possuem algum tipo de diploma de pós-graduação.
Alternativa ou complementarmente, os CFOs podem alcançar uma formação mais abrangente e holística por meio da obtenção de certificações na área financeira, que consistem em credenciais profissionais adquiridas por meio de exames, cursos e experiência prática, validando conhecimentos e competências específicas em diferentes aspectos das finanças.
São diversos os exemplos de certificações: o CFA (Chartered Financial Analyst), focado em investimentos, análise financeira e gestão de portfólio, sendo uma das certificações mais reconhecidas mundialmente para analistas financeiros; o CIMA (Chartered Institute of Management Accountants), valorizado por profissionais de finanças corporativas e controle gerencial, com ênfase em estratégia empresarial; e o ACCA (Association of Chartered Certified Accountants), que oferece uma certificação amplamente reconhecida internacionalmente para profissionais que buscam expertise em contabilidade, auditoria, finanças e gestão empresarial.
No Brasil, alguns cursos de graduação são credenciados por esses institutos, como o curso de Ciências Contábeis da FEA-USP, o que fomenta a busca por certificações como diferencial na carreira profissional, promovendo iniciativas e estímulos adicionais para sua obtenção. Além disso, há programas específicos de credenciamento oferecidos por institutos de representação profissional, como o programa de certificação CFO(BR) promovido pelo IBEF-SP.
Embora o conhecimento técnico, ou hard skills, seja essencial para a atuação dos CFOs — incluindo o domínio de KPIs (key performance indicators), orçamento e estratégias de captação de recursos —, esses profissionais têm sido cada vez mais demandados a desenvolver também habilidades interpessoais, ou soft skills, para uma atuação bem-sucedida. Conforme destacado por Marcus Cardoso, CFO do Sympla, em entrevista para o CFO Experience, “acho que hoje, as soft skills sejam mais importantes… talvez sejam mais importantes para o desenvolvimento de uma carreira de liderança em finanças, principalmente a flexibilidade, para lidar com todas as áreas… você precisa ser o orquestrador e aí vai precisar ter um jogo de cintura”.
De forma semelhante, Rosana Passos de Pádua e José Cláudio Securato, na apresentação da publicação “CFO: Oportunidades e desafios sob a ótica de profissionais destacados”, ressaltam que “Nesse novo mundo, outras questões demandam a atenção dos CFOs, incluindo a gestão e retenção de talentos e de habilidades de liderança e relacionamento em um contexto de novos modelos de trabalho”.
Portanto, o desenvolvimento de soft skills é tão importante quanto a competência técnica na área financeira para os CFOs prosperarem em um ambiente corporativo dinâmico e desafiador.
No contexto atual, marcado pela digitalização e pela busca por sustentabilidade, os CFOs enfrentam a necessidade de aprender continuamente. Conforme menciona Milton Maluhy Filho, na publicação “CFO: Oportunidades e desafios sob a ótica de profissionais destacados”, “Historicamente, o CFO era visto apenas como o diretor-financeiro da empresa, focado principalmente na gestão de caixa e balanços. … Atualmente, o CFO é um executivo estratégico, que … desempenha um papel crucial na formulação e execução das estratégias empresariais”.
Nesse mesmo sentido, conforme o sumário executivo elaborado pelo Reverbera (Reverbera PMS-FEA-USP), “o CFO ajuda a moldar o futuro da empresa, garantindo que as escolhas estratégicas estejam alinhadas com os objetivos financeiros e a sustentabilidade a longo prazo. Além disso, o CFO tem assumido um papel de liderança nas transformações organizacionais, como a digitalização dos processos financeiros, a adoção de novas tecnologias e a implementação de práticas de sustentabilidade (ESG)”. Liderar em ambientes dinâmicos é uma exigência crescente para quem ocupa a posição de CFO. Ser CFO é mais do que lidar com números. Ser CFO é também sobre liderar, inovar e transformar desafios em oportunidades.