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Da Função de CFO à Liderança: Tendências e Desafios no Brasil

O CFO tem sido considerado o segundo mais importante executivo no ambiente corporativo, logo após o CEO, e frequentemente é visto como um sucessor natural para o cargo de CEO. Dados recentes mostram que cerca de 8,4% dos atuais CEOs da lista Fortune 500 e S&P 500 foram promovidos internamente da função de CFO em 2023. Embora esse percentual possa parecer modesto à primeira vista, no primeiro ano de coleta desses dados, em 2013, esse número era de apenas 5,8%, representando um crescimento de quase 50%, sendo o percentual mais elevado da série.

 

Um estudo conduzido pela Russell Reynolds Associates apresenta dados mais específicos sobre essa tendência, indicando que, em 2022, 33% dos CFOs na S&P 500 deixaram suas empresas para assumir a função de CEO em outras companhias. Globalmente, é possível estimar que o percentual de CEOs que ascenderam da posição de CFO ultrapasse 10%. Essa tendência evidencia a crescente importância do papel do CFO, posicionando esse profissional como um forte candidato para o cargo de CEO, graças à sua visão abrangente e estratégica do negócio.

 

Mas, e no Brasil? Qual é a taxa de ascensão dos CFOs brasileiros para a posição de CEO? No caso das empresas brasileiras, infelizmente, os dados específicos sobre CFOs que assumem a posição de CEO são limitados, e esse movimento permanece pouco evidente no país, em parte devido à escassez de iniciativas de pesquisa locais que investiguem esse tema especificamente no Brasil.

 

Entretanto, por um lado, é possível afirmar que o Brasil provavelmente segue a tendência global, com pouco mais de 10% dos atuais CEOs vindo da função de CFO, promovidos internamente ou contratados do mercado. Por outro lado, também é possível conjecturar que esse percentual seja um pouco menor em empresas brasileiras, devido a fatores organizacionais e de mercado específicos que influenciam a decisão sobre quem será promovido à função de CFO.

 

Um desses fatores é a estrutura de propriedade, marcada pela predominância de empresas familiares no Brasil. Nessas empresas, devido ao desejo de preservar sua riqueza sócio-emocional, a sucessão de CEOs tende a priorizar membros da família. Consequentemente, se o CFO não for da família, suas chances de suceder ao CEO são reduzidas.

 

Além disso, a influência política é um fator predominante na sucessão de CEOs no Brasil. Isso se deve à grande presença de empresas estatais (por exemplo, a Caixa) ou de economia mista (como o Banco do Brasil), nas quais o controle estatal exerce forte influência nas decisões de sucessão. Casos recentes, como o da Petrobrás, ilustram essa situação. Como consequência, o perfil estratégico de liderança e o conhecimento do negócio do CFO acabam não prevalecendo na decisão de sucesso para o cargo de CEO.

 

A influência política na sucessão de CEOs no Brasil também pode se manifestar em empresas de controle privado. Um exemplo recente, que funciona como um contraexemplo, é o processo de indicação do próximo CEO da Vale, no qual influências políticas foram superadas, e o perfil financeiro e de liderança do atual diretor financeiro prevaleceu na escolha para o cargo de CEO.

Em síntese, embora haja poucas informações disponíveis sobre a transição de CFOs para o cargo de CEO em empresas brasileiras, é possível reconhecer que essa é uma tendência global. De fato, pesquisa recente da McKinsey & Company indica a crescente aproximação e interação entre CFOs e CEOs no Brasil. Essa aproximação reforça a importância da sinergia e do alinhamento entre CEO e CFO. As implicações para o sucesso do negócio dessa sinergia, que pode envolver alinhamento de valores, equivalência de gênero, referências geracionais similares, entre outros fatores, são temas que merecem mais investigação e entendimento.