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Por que a presença de CFOs mulheres ainda é tão rara nas empresas?

A diversidade de gênero é um tema que vem sendo cada vez mais discutido no âmbito das organizações. Essa discussão tem se concentrado na participação de mulheres nos conselhos de administração, considerada um indicativo de boas práticas de governança corporativa. Diversos estudos acadêmicos internacionais demonstram os potenciais benefícios de um maior nível de participação feminina nos conselhos e em níveis gerenciais. Por exemplo, um estudo em empresas australianas indica que uma maior diversidade de gênero pode contribuir para uma gestão e monitoramento de riscos mais eficazes, melhorando o desempenho financeiro. Em outro estudo que analisou bancos da União Europeia, constatou-se que instituições com conselhos mais diversos em gênero apresentam menor probabilidade de bailouts públicos e desempenho financeiro superior. No contexto norte-americano, uma pesquisa sugere que a diversidade de gênero nos conselhos fortalece o monitoramento e aprimora a dinâmica do conselho. Além disso, um estudo com empresas em 24 países industrializados revelou que o aumento da diversidade de gênero no ambiente de trabalho impacta diretamente a redução das emissões de carbono e, de maneira geral, os impactos na mudança climática.

 

No Brasil, diversos estudos também têm examinado os potenciais benefícios da diversidade de gênero nos conselhos de administração. Por exemplo, um estudo com empresas listadas na B3 identificou que a presença de mulheres no conselho está associada ao aumento do desempenho financeiro, embora essa relação seja um pouco mais fraca em empresas de controle familiar. Outro estudo, também focado em empresas listadas na B3, demonstrou que a presença feminina nos conselhos está relacionada à redução da remuneração dos executivos e da prática de gerenciamento de resultados, contribuindo assim para uma melhor governança e controle financeiro. Por fim, outro estudo indica que uma maior participação feminina nos conselhos de administração de empresas listadas na B3 pode elevar a qualidade do debate e melhorar os níveis de governança corporativa. Em conjunto, a diversidade de gênero pode trazer benefícios significativos para as organizações.

 

No que diz respeito à participação feminina no cargo de principal executiva financeira (CFO), uma pesquisa realizada no mercado norte-americano demonstra que a presença de CFOs mulheres e uma maior proporção de mulheres no conselho de administração estão associadas à redução significativa de republicações financeiras, indicando melhorias na supervisão financeira e na governança. Nesse mesmo contexto, outro estudo mostrou que a presença de CFOs mulheres está negativamente associada a ocorrências de fraudes nas demonstrações financeiras. Uma pesquisa realizada no Reino Unido evidenciou que a presença de CFOs mulheres está relacionada à redução significativa do endividamento corporativo, especialmente em empresas com conselhos diversos em gênero, nacionalidade e idade.

 

A presença feminina no nível executivo financeiro pode influenciar as decisões financeiras das empresas. Portanto, espera-se que as empresas promovam a presença feminina nas funções financeiras, especialmente na posição de CFO, reconhecendo os benefícios associados a essa diversidade. Em uma pesquisa recente sobre as características demográficas dos CFOs das empresas listadas na B3, observou-se que apenas 11% dos CFOs nessas empresas são mulheres, enquanto a presença feminina é superior (20,6%) em empresas com ativos financeiros inferiores a R$1 bilhão.

 

Essa contradição sobre a presença feminina nas funções financeiras em empresas listadas na B3, especialmente na posição de CFO, pode gerar diversas oportunidades. Por exemplo, as empresas podem implementar iniciativas para aumentar a diversidade de gênero em cargos de liderança. Adicionalmente, existem oportunidades relacionadas à promoção da igualdade de gênero por meio da atração de talentos qualificados. Conforme essas diversas evidências demonstram, a diversidade de gênero e uma maior participação feminina em cargos de liderança financeira podem levar a decisões mais equilibradas, impactando positivamente os resultados financeiros. Em última análise, a inclusão de mulheres em cargos de destaque, particularmente de liderança financeira, pode contribuir para a reputação da empresa entre investidores e clientes. Investir na diversidade de gênero nas funções financeiras pode ser não apenas uma boa prática de governança, mas também um passo estratégico em direção ao futuro sustentável e lucrativo das organizações.

 

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