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🔍 CFOs com experiência em auditoria: guardiões da transparência ou estrategistas dos números?

04 de Junho de 2025

A experiência prévia como auditor é sempre uma aliada da transparência financeira?
Ou, em ambientes com menor supervisão, essa expertise pode ser usada para “ajustar” os números de forma estratégica — especialmente em divulgações não auditadas, como as métricas non-GAAP?

Muitos CFOs trazem consigo uma sólida experiência em auditoria. Esse histórico pode, de fato, contribuir para maior precisão e transparência nas demonstrações financeiras. Mas até que ponto essa expertise técnica pode ser usada para ajustar resultados de forma mais agressiva em divulgações voluntárias e não auditadas?

Um estudo de D. G. DeBoskey, Jeff Wang e Lin Wang, publicado no Review of Quantitative Finance and Accounting, analisou o impacto da experiência prévia em auditoria sobre as características das divulgações financeiras non-GAAP. A amostra incluiu 4.410 CFOs de 2.299 empresas que divulgaram lucros ajustados entre 2003 e 2020. O objetivo: entender se essa expertise está sendo aplicada de forma informativa ou oportunista.

📊 Principais resultados

CFOs com experiência em auditoria tendem a adotar práticas mais agressivas de divulgação non-GAAP, como:

  • Exclusão de itens recorrentes;
  • Ajustes para superar expectativas de analistas;
  • Uso frequente de lucros ajustados (non-GAAP EPS).

 

👉 Apesar da maior agressividade, os ajustes realizados por esses CFOs geralmente apresentam maior qualidade: os itens excluídos demonstram persistência nos lucros futuros — o que sugere motivações informativas, e não meramente cosméticas.

📌 O efeito da experiência em auditoria é mais acentuado quando há menor monitoramento externo (menos analistas), governança corporativa fraca, e quando o CFO é homem.

✅ Recomendação prática:

A experiência técnica adquirida em auditoria deve ser usada com responsabilidade e alinhada a princípios de transparência e governança — especialmente em divulgações não auditadas. Em contextos de menor supervisão externa, é ainda mais crucial que CFOs adotem uma postura ética, garantindo que ajustes non-GAAP sirvam para informar, e não para manipular a percepção do desempenho.

🧠 Take-Home Message:

CFOs com experiência em auditoria têm o conhecimento necessário para fazer ajustes sofisticados nas métricas financeiras — o que pode ser uma arma de dois gumes. Quando usada de forma informativa, essa expertise contribui para a qualidade das divulgações. Mas em contextos de baixa governança, pode se tornar uma ferramenta oportunista. O desafio está em equilibrar competência técnica com responsabilidade ética.