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Misreporting: o que CFOs precisam saber sobre distorções contábeis

18 de Junho de 2025

Nem toda distorção contábil é fraude clássica — mas sempre exige vigilância do CFO.

A distorção contábil (misreporting) é um tema central na governança corporativa por afetar diretamente a confiabilidade das informações financeiras — base para decisões de investidores, credores e outros stakeholders. Mesmo quando não infringe tecnicamente normas contábeis, a manipulação dos números compromete a transparência, distorce o valor da empresa e pode levar a alocações ineficientes de capital. Escândalos de misreporting também abalam a reputação das organizações e do mercado como um todo, ampliando a desconfiança em relação à liderança executiva — especialmente CEOs e CFOs — e gerando pressões por maior regulação. Compreender as diferentes motivações por trás dessas práticas é essencial para aprimorar os mecanismos de controle, os sistemas de remuneração e as práticas de auditoria que sustentam a integridade dos mercados financeiros.

Um estudo de Wenjiao Cao, Yuping Jia e Yachang Zeng, publicado na Management Science, investiga as causas do misreporting e propõe três tipos distintos de distorção contábil, cada um com diferentes graus de envolvimento e comportamento por parte de CEOs e CFOs.

O artigo mostra que nem toda distorção contábil está ligada à ganância pessoal. Em muitos casos, ela reflete contextos organizacionais específicos e incentivos institucionais. Os três tipos identificados são:

  • Enriquecimento pessoal (Wealth-pursuing misreporting):
    Executivos manipulam informações com o objetivo de obter benefícios próprios, como bônus ou ganhos com ações. Envolve diretamente CEOs e CFOs em condutas oportunistas e uso de informações privilegiadas.
  • Pressões do mercado (Market-induced misreporting):
    A distorção visa atender expectativas de investidores e facilitar o acesso a capital. Neste caso, CEOs e CFOs tendem a agir alinhados aos interesses dos controladores, priorizando o desempenho corporativo. Mesmo após a descoberta da fraude, são menos punidos.
  • Falta de supervisão (Subordinate-driven misreporting):
    Surge da omissão ou incompetência dos executivos na supervisão de subordinados. CEOs e CFOs não são os autores diretos, mas sua falha em monitorar adequadamente permite que a distorção ocorra.

 

Principais pontos sobre CEOs e CFOs:

  • Papéis diversos:
    CEOs e CFOs não são sempre agentes oportunistas. Em alguns casos, atuam como stewards, alinhados à estratégia da empresa ou enfrentando desafios de supervisão.
  • Incentivos financeiros:
    Remuneração baseada em ações ou bônus está associada apenas ao misreporting por ganho pessoal. Nos demais casos, esses incentivos não explicam a conduta dos executivos.
  • Alinhamento com controladores:
    Nas distorções induzidas pelo mercado, é comum que CEOs e CFOs atuem em conjunto com acionistas majoritários para proteger a reputação da empresa ou viabilizar recursos.
  • Consequências distintas:
    Executivos envolvidos em distorções para benefício próprio enfrentam punições mais severas (multas, demissão). Já aqueles ligados a distorções organizacionais ou por falha de supervisão sofrem penalidades mais brandas.

 

🎯 Recomendação prática:

Para CFOs, é importante que atuem como guardiões da qualidade da informação financeira, promovendo supervisão rigorosa, controles internos eficazes e alinhamento ético com os objetivos organizacionais.

Como CFO, sua responsabilidade vai além da acurácia técnica: envolve prevenir distorções contábeis em todos os níveis da organização — inclusive aquelas motivadas por pressão de mercado ou falhas na supervisão. Estabeleça uma cultura de transparência, questione incentivos distorcidos e assegure que a busca por resultados não comprometa a integridade dos relatórios.

🧠 Take-home Message:

Nem toda distorção contábil decorre de má-fé — mas CEOs e CFOs são sempre responsáveis pela qualidade da informação financeira.
Compreender os diferentes contextos que levam ao misreporting ajuda a evitar julgamentos simplistas, mas reforça que a liderança executiva tem papel central na construção de uma cultura de integridade e na prevenção de riscos reputacionais e legais.