Ditadura e repressão – paralelos e distinções entre Brasil e Argentina

I. IDENTIFICAÇÃO

DISCIPLINA CARGA HORÁRIA 4h
MINICURSO Ditadura e repressão: paralelos e distinções entre Brasil e Argentina
SEMESTRE 2º/ 2016
PROFESSOR Janaína de Almeida Teles
TITULAÇÃO Doutora

II. OBJETIVOS
Repensar os estudos sobre as ditaduras argentina e brasileira à luz das pesquisas e informações acumuladas nos últimos anos relativas à violência do estado, às lutas de resistência às ditaduras, bem como às disputas pelas interpretações e memórias do período. Por meio desse panorama crítico pretendemos também estabelecer um balanço comparativo dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e da Conadep (Comissão Nacional sobre Desaparecimentos de Pessoas).

III. EMENTA
Os modelos repressivos utilizados pelas ditaduras latino-americanas vêm sendo objeto de intenso escrutíneo por parte de historiadores e cientistas sociais. No Brasil, a Comissão Nacional da Verdade representou uma possibilidade de que nova luz fosse lançada sobre os mecanismos específicos do modelo brasileiro e suas relações com outros do cone sul. A ocasião possibilitou maior aprofundamento dos estudos sobre os paralelos e distinções entre esses modelos. O presente curso procura satisfazer essa demanda, utilizando entre outras bases reflexivas, a obra de referência de Pilar Calveiro. Entre as principais conclusões destacam-se o fato de que práticas de tortura e repressão circularam pelo continente, tendo o Brasil como principal pólo disseminador, a despeito da existência de diferenças de estratégia quanto à aplicação do terror de estado, o que este artigo revela em relação à Argentina, onde predominou o “poder desaparecedor”, em contraste com o Brasil, onde prevaleceu o “poder torturador”.
A despeito dos esforços empenhados pela CNV, é de se considerar a fragilidade da recuperação factual e da punição dos responsáveis pelas torturas, assassinatos ou desaparecimentos forçados no Brasil. Este quadro contrasta com o que se configurou em outros países da América Latina, particularmente na Argentina, onde diversos processos e instrumentos de apuração dos fatos e responsabilidades estão em curso. O presente minicurso oferece também um balanço comparativo entre a experiência brasileira e a da Argentina relativo ao trabalho das respectivas Comissões da Verdade.

IV. CONTEÚDO SELECIONADO
a) A reestruturação do aparato repressivo: centralização e seletividade x desaparecimento forçado;
b) Repressão judicial e extrajudicial: legalidade, legitimação do estado de exceção x clandestinidade;
c) A cooperação repressiva no Cone Sul antes da Operação Condor;
d) O protagonismo das vítimas e sobreviventes na resistência à ditadura;
e) As transições brasileira e argentina: ruptura x conciliação e o desafio de narrar a barbárie;
f) O legado da ditadura: as disputas pela memória e as Comissões da Verdade na Argentina e no Brasil.

V. METODOLOGIA
A – Aulas expositivas/debates
B – Recursos audiovisuais.

VI. BIBLIOGRAFIA
Básica:

ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil (1964-1984). Bauru, SP, Edusc, 2005.
BAUER, Caroline Silveira. Brasil e Argentina Ditaduras, Desaparecimentos e Políticas de Memória. Porto Alegre, Medianiz,, 2012.
CALVEIRO, Pilar. Poder e Desaparecimento. Os campos de concentração na Argentina. São Paulo: Boitempo, 2013.
CRENZEL, Emilio. La historia política del Nunca Más: La memoria de las desapariciones en la Argentina. Buenos Aires, Siglo XXI, 2008.
CUEVAS, Victor E.; ROJAS, Maria L. O.; BAEZA, Michel D. Comisiones de la Verdad. Un camino incierto? Santiago (Chile), Codepu, 2003.
DINGES, John. Os anos do Condor. Uma década de terrorismo internacional no Cone Sul. São Paulo, Companhia das Letras, 2005.
DUARTE-PLON, Leneide. A tortura como arma de guerra. Da Argélia ao Brasil. Como os militares franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2016.
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TELES, Edson. Democracia e Estado de Exceção. Transição e Memória Política no Brasil e África do Sul. São Paulo, Fap-Unifesp, 2015.
TELES, Janaína de A. Os herdeiros da memória: A luta dos familiares de mortos e desaparecidos políticos no Brasil. São Paulo, IEVE/Alameda, 2016 (no prelo).
____ . Memórias dos cárceres da ditadura: as lutas e os testemunhos dos presos políticos no Brasil. Doutorado, História/FFLCH, USP, 2011.
____ . “Ditadura e repressão no Brasil e na Argentina: paralelos e distinções”. In: Taller (Segunda Época). Revista de Sociedad, Cultura y Política en América Latina. Vol.3, N°.4, 2014.

Complementar:

ALMEIDA, Criméia A. S. de; LISBÔA, Suzana K.; TELES, Janaína de A.; TELES, Maria Amélia de A. (orgs.). Dossiê Ditadura: mortos e desaparecidos políticos no Brasil (1964-1985). São Paulo: IEVE/Imprensa Oficial, 2009.
ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Brasil: Nunca Mais. 22ª. ed., Rio de Janeiro: Vozes, 1989.
AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz. O arquivo e a testemunha. São Paulo: Boitempo, 2008.
CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira. Estranhas Catedrais: as empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar, 1964-1988. Rio de Janeiro, Eduff, 2014.
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LACAPRA, Dominick. Escribir la historia, escribir el trauma. Buenos Aires: Nueva Visión, 2005.
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____ . Desarquivando a Ditadura. Memória e Justiça no Brasil, Vol. II. São Paulo, Hucitec, 2009.