Tássio Jubini Ventorin
Resumo: Este estudo visa apresentar a problemática de garantia e de promoção de direitos à população em situação de rua, a partir da análise da atuação do Serviço Especializado em Abordagem Social de Vitória (SEAS – Vitória) e da Rede de Atendimento, que engendram formas de gestão do espaço da cidade, normalização de condutas e comportamentos e segurança da população de forma geral. As tentativas de impedir que a população em situação de rua se estabeleça no espaço da cidade, seja de forma violenta, como em ações de recolhimento de seus pertences ou de forma não-violenta, a partir de formas de controle sofisticadas, compõem estratégias que almejam uma melhor distribuição dos seus corpos na cidade. A partir de uma retomada das experiências como operador da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em alguns de seus equipamentos, dou visibilidade à formação de um corpo que operacionaliza essa política e um corpo que indaga sobre esses processos e ao conceber a articulação deles, discuto como funcionavam frente aos desafios encontrados, tendo em vista as políticas de precarização que atingem tanto a Rede de Atendimento como os atendidos. Ao tratar da transformação do corpo que operacionaliza a política em corpo-abordador na experiência do SEAS – Vitória, compreendo a sua atuação como parte de mecanismos de controle e regulação dos corpos-em-situação-de-rua na cidade, na medida em que esse passa a ser envolvido por um corpo-policial. Ao realizar uma nova incursão nessa experiência, com a contribuição do corpo que indaga os processos de trabalho, traço aspectos e dinâmicas, a partir da análise dos Relatórios Diários, do portal de comunicação Fala Vitória 156, das respostas realizadas às solicitações 156, do Monitoramento Contínuo da cidade e do SigafWeb, bem como revisito episódios envolvidos no funcionamento desse serviço, para localizá-lo em um plano biopolítico, em que a lógica do “fazer viver, deixar morrer” se mistura ao “fazer minguar”. Considerando que a atuação do corpo-abordador atua, por vezes, atendendo o interesse do corpo-domiciliado, sugiro pistas para formas de atuação que fogem do controle biopolítico, no qual não se produza vidas em que o destino seja de “viver pouco, sofrer muito”.
Palavras-chave: assistência social;população em situação de rua;biopolítica;cidade;corpo
Referência: Ventorin, Tássio Jubini (2021). Entre monitoramentos e práticas de gestão da vida: incursões de um trabalhador da Assistência Social nas ruas da cidade de Vitória. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Psicologia Institucional, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.
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